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Corumbiara, caso enterrado passou pela segunda maior cidade de Rondônia com dois eventos marcantes. Na terça-feira, 15 de setembro, o livro-reportagem foi debatido no auditório da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) em Ji-Paraná, que recebeu cerca de 250 pessoas. No dia seguinte, os indígenas matriculados no curso de licenciatura intercultural da Universidade Federal de Rondônia (Unir) receberam o autor do trabalho, João Peres, e o coordenador editorial da Editora Elefante, Tadeu Breda, para um bate-papo.

Na Ulbra, João Peres abordou algumas passagens do chamado “massacre de Corumbiara” que evidenciam a subordinação do poder público aos interesses econômicos dos grandes fazendeiros de Rondônia. O ponto central são as pressões do latifundiário paulista Antenor Duarte do Valle sobre o Judiciário e o Executivo rondonienses para que dessem rápido cumprimento à ordem de reintegração de posse da fazenda Santa Elina, no Cone Sul do estado, ocupada em julho de 1995 por famílias sem-terra.

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Depois, o microfone ficou aberto para intervenção livre da plateia. Dirigentes sindicais, integrantes de movimentos sociais, universitários, funcionários do Incra, advogados e indígenas fizeram uso da palavra e enriqueceram o debate com suas experiências e pontos de vista sobre a violência no campo. Vários deles recordaram outros episódios que evidenciam a submissão de atores do Estado ao poder financeiro.

Na Unir, na quarta-feira, 16 de setembro, os alunos da licenciatura intercultural se reuniram para uma conversa com o autor sobre as relações entre a violência contra sem-terra e indígenas. O curso reúne representantes de mais de vinte nações indígenas de Rondônia, Mato Grosso e Amazonas, e tem como objetivo a formação de professores habilitados a atender às demandas educacionais de seus povos.

O autor recordou que, no mesmo local em que em 1995 morreram doze pessoas durante reintegração de posse pela Polícia Militar, cerca de dez anos antes foram assassinados indígenas dos povos Kanoé e Akuntsun, num caso que começou a ser desvendado apenas depois do episódio envolvendo a ocupação de posseiros na fazenda Santa Elina. Ninguém foi punido pelas mortes, que chegaram a ser contestadas pela bancada ruralista no Congresso Nacional.

“Às vezes a gente fala e parece que está tudo bem. Mas não está”, disse Celso, do povo Caxarari que mora em Extrema, distrito de Porto Velho próximo da divisa com o Acre. Ele disse que a população local tornou mais intenso um processo de hostilidade depois que os indígenas decidiram promover a retomada de suas terras tradicionais. “Vai no mercado, a gente ouve o povo falando que tem que matar indígena. Vai no posto, é igual. Acontecem brigas que vão evoluindo. A gente não vai ouvir mentira e aceitar como se fosse verdade.”

A pesquisadora Renata Nóbrega, mestre em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirmou que é preciso romper com a visão de que as questões indígena e sem-terra não têm semelhanças. “Infelizmente, não é uma excepcionalidade. A linguagem da violência é a maneira como o Estado se relaciona com quem ele considera menos gente, ou não gente.”

Alguns dos alunos mostraram timidez em fazer relatos públicos sobre as histórias de seus povos, mas outros fizeram questão de registrar episódios de violência ignorados pelos órgãos públicos. Anderson Uraan, do povo Suruí de Cacoal, no centro de Rondônia, recordou que o estado teve um processo de ocupação acelerado que ignorou a existência dos povos originários. “Em algumas situações colocam que a gente e os sem-terra são grupos diferentes. Não são. A gente precisa unir os movimentos.”

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