Na última sexta-feira, 8 de outubro, o Brasil contabilizou 600 mil mortes por covid-19: o segundo país com maior número de óbitos, só atrás dos Estados Unidos. A grande maioria dessas perdas poderia ter sido evitada se Jair Bolsonaro, seus filhos, ministros, aliados no Congresso e assessores do “gabinete paralelo”, além de grandes empresários, não tivessem ativamente escolhido investir em uma política de disseminação genocida do vírus.
Nem as cifras assombrosas demovem o presidente do discurso negacionista. Em sua participação vergonhosa diante da Assembleia-Geral da ONU, no final de setembro, Bolsonaro nos brindou com um discurso de doze minutos e onze alegações falsas ou enganosas. Além do habitual desprezo pela mais mínima razoabilidade factual, criticou a obrigatoriedade do passaporte sanitário e defendeu o tratamento precoce, comprovadamente ineficaz.
A CPI da Pandemia tem mostrado há meses as ações do governo para encorajar o uso do kit covid nos hospitais, além das diversas outras formas de sabotagem da vacinação; o número de mortos no país só não é mais alto porque o Sistema Único de Saúde (viva o SUS!) consegue conduzir uma campanha de imunização eficaz, e governadores e instituições públicas, como a Fiocruz, resolveram agir na contramão das orientações presidenciais.
Hoje, “apesar de você”, o país registra cerca de 450 mortes pela doença por dia, com a menor média móvel registrada desde 13 de novembro de 2020: um alívio se comparadas à época em que víamos quatro mil brasileiros perderem a vida diariamente. Ainda assim, é muita gente, e é difícil comemorar qualquer avanço quando pensamos que esse morticínio poderia não ter ocorrido. Nesse sentido, Bolsonaro genocida comunica com clareza e sem jogos de palavras o que há muito tempo deveria ser considerado uma obviedade: fomos e continuamos sendo vítimas de um genocídio.
No livro, a linha do tempo elaborada por pesquisadores do Centro de Pesquisas e Estudos de Direito Sanitário (Cepedisa) da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo demonstra a estratégia de disseminação do coronavírus conduzida de forma sistemática pelo governo e a relação direta entre os atos normativos federais, a obstrução constante às respostas estaduais e municipais e a propaganda promovida por Jair Bolsonaro.