“Machismo não faz quarentena!”, reforçaram as mulheres argentinas que na segunda-feira, 30 de março, realizaram um “ruidazo” [barulhaço] em janelas, sacadas e varandas para espalhar por todo país o grito pelo fim do feminicídio e da violência de gênero — ainda mais em dias de resguardo dentro das próprias casas. Organizações sociais contabilizam onze assassinatos de mulheres nos últimos dez dias em todo o país.
Antes, no domingo, um líder político vizinho cravava mais uma de suas declarações absurdas, irresponsáveis. “Tem mulher apanhando em casa. Por que isso? Em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão. Como é que acaba com isso? Tem que trabalhar, meu Deus do céu. É crime trabalhar?”, resmungou o presidente Jair Bolsonaro, zanzando por Brasília contra todas as recomendações, porque talvez “atleta” não precise de isolamento social.
“Enquanto diversos países do mundo e até mesmo algumas cidades e estados brasileiros se mobilizam não apenas contra a pandemia da covid-19 mas também promovendo iniciativas contra a epidemia da violência doméstica durante a quarentena, a maior autoridade do país prefere usar sua voz para justificar o injustificável e, no limite, encorajar agressores a adotarem seu discurso covarde”, disse uma nota do repúdio.
De fato, as notícias sobre o aumento da violência contra a mulher na quarentena se acumulam em vários lugares do mundo. No Brasil de Bolsonaro, não podia ser diferente. Na Carta Capital, a delegada Raquel Kobashi lembra que a convivência forçada pode tornar os agressores ainda mais intimidadores. Essa reportagem do Universa traz especialistas falando sobre o assunto.
A ONU Mulheres lançou um documento chamado “Covid-19 na América Latina e no Caribe”, com catorze orientações voltadas às mulheres em tempos de isolamento. Trata-se de um alerta contra as agressões, que também mostra como as trabalhadoras acabam sendo as mais afetadas pela pandemia, com menos trabalho no setor de serviços e uma sobrecarga nas demandas domésticas.
Na França, onde as denúncias de violência subiram mais de 30% neste período, com registro de dois feminicídios, o governo está pagando quartos de hotel para vítimas poderem deixar as suas casas. Esse artigo espanhol traz também medidas ou falas de outros países, como Itália e Alemanha.
Djamila Ribeiro também escreveu sobre como a pandemia torna a questão ainda mais grave. Nessa reportagem da BBC, dois depoimentos de mulheres, uma na Índia e outra nos Estados Unidos, trazem fortes relatos sobre conviver com abusadores durante a quarentena: “ele está cada vez mais violento”.
Na Malásia, um dos países com maior tensão na violência de gênero, uma campanha que revoltou as feministas pede para as mulheres ficarem arrumadas em casa e serem cuidadosas no trato com os maridos (!). A página brasileira QG Feminista também tem conteúdo especial sobre o tema, com textos diante dos efeitos da pandemia. “Hora de colocar o feminismo para dentro de casa” é um deles.
Diante do atual cenário, o Ministério de Mulheres, Gêneros e Diversidades da Argentina lançou a campanha barbijo rojo [máscara vermelha]. Quando uma mulher entrar numa farmácia e pedir por uma “máscara vermelha”, a atendente saberá que aquilo significa um pedido de ajuda para uma situação de violência doméstica.