Descrição
Raúl Zibechi é um dos mais importantes pesquisadores das lutas sociais na América Latina, e sua obra expressa uma tradição fundamental do pensamento radical da região, vivamente conectada e vinculada aos territórios e movimentos coletivos. Apesar de sua imensa relevância, apenas uma parte bastante diminuta de sua obra encontra-se publicada em português. A presente coletânea pretende contribuir para começar a sanar essa lacuna editorial no Brasil, mas também fazer reverberar um tipo de intervenção que retoma a hipótese autonomista das lutas, para seguir pensando e caminhando com aquelas e aqueles que resistem em um continente conflagrado pela guerra permanente contra os povos. Não é como intelectual ou ilustre teórico de vanguarda que este escritor, militante e jornalista uruguaio se mostra àqueles que se deparam com seus textos e intervenções. Zibechi nos surge, antes de tudo, por meio dos movimentos que acompanha, por sua cumplicidade junto aos que lutam e pensam com os pés na terra. Trata-se de uma postura que se reflete na forma de seus textos, marcados por uma linguagem direta e aberta, sem academicismos e comprometida com a circulação das questões conforme são formuladas nos contextos em que surgem.
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Decolonialismo na prática. Mas uma prática pensada. Ávido conhecedor das tradições revolucionárias e da América Latina, Raúl Zibechi não chorou o leite derramado soviético nem se iludiu com o progressismo. Enquanto caíam telhados, ele via as estrelas. Na longa e triste noite neoliberal que nos acomete, o pensador uruguaio se guia pelo universo das práticas autonomistas, as quais conhece profundamente, com os pés. E desses territórios em rebeldia extrai a semente de um mundo onde caibam muitos mundos — menos o capitalista.
— Fabio Luis Barbosa dos Santos
SOBRE O AUTOR
Raúl Zibechi nasceu em 1952, em Montevidéu, no Uruguai. É jornalista, escritor e ativista, profundo conhecedor dos movimentos sociais na América Latina. Publicou diversos livros, entre os quais Dispersar el poder: los movimientos como poderes antiestatales (Tinta Limón, 2006), Territorios en resistencia: cartografía política de las periferias latinoamericanas (Lavaca, 2008), Brasil potência (Consequência, 2012), Los desbordes desde abajo: 1968 en América Latina (Desdeabajo, 2018) e Mundos Otros y pueblos en movimiento: debates sobre anti-colonialismo y transición en América Latina (Desdeabajo, 2022), muitos deles traduzidos para outros idiomas.
SOBRE OS ORGANIZADORES
Alana Moraes é doutora em antropologia pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de janeiro (URFJ), pesquisadora do Pimentalab (Laboratório de Tecnologia, Política e Conhecimento da Universidade Federal de São Paulo) e da Lavits (Rede Latino-Americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade). Atualmente desenvolve pós-doutorado no Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) e colabora com o curso de pós-graduação em Estudos Decoloniais e Ciências Humanas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Lucas Keese atua desde 2009 como indigenista, pesquisa práticas tradicionais e tecnologias agroecológicas para fortalecimento do território e da autonomia política do povo Guarani. É mestre em antropologia pela Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro A esquiva do xondaro (Elefante, 2021). Atualmente vive junto aos Guarani na Terra Indígena Tenondé Porã e compõe a assessoria de sua organização regional autônoma, o Comitê Interaldeias.
Marcelo Hotimsky é indigenista e atua, desde 2014, junto ao povo Guarani do Sul e do Sudeste do Brasil. É mestrando em antropologia social e bacharel em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). É membro do Programa Guarani do Centro de Trabalho Indigenista (CTI).