Políticas do encanto

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Políticas do encanto:
extrema direita e fantasias da conspiração

Autor: Paolo Demuru
Edição: Tadeu Breda
Orelha: Julián Fuks
Revisão: Rodolfo Vianna & Laura Massunari
Direção de arte & projeto gráfico: Bianca Oliveira
Capa: Sidney Schunck
Diagramação: Daniela Miwa Taira
Lançamento: julho de 2024
Páginas: 144
Dimensões: 13,5 x 21 cm
ISBN: 9786560080454

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Descrição

Movidas a algoritmos que potencializam discursos de ódio e administradas por bilionários ultracapitalistas muito bem relacionados com a nata do conservadorismo internacional, as redes sociais se tornaram um jardim florido para a extrema direita — e um atoleiro para a esquerda — no Brasil e no mundo. A partir dessa constatação, que hoje em dia não é segredo para ninguém, Paolo Demuru se propõe corajosamente ao arriscado desafio de pensar e propor saídas que comecem por um uso diferente, mais sagaz, das plataformas digitais — já que, queiramos ou não, elas se tornaram o principal espaço de disputa ideológica e eleitoral da atualidade, e não podem ser ignoradas — e deságuem em estratégias de reencantamento com os ideais políticos realmente emancipatórios, sobretudo na dimensão off-line, longe das telas dos smartphones, tarefa da qual as forças progressistas já foram capazes antes de se tornarem tristes defensoras de uma ordem injusta e desigual.

 

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Toda era tem seu paradoxo. O da nossa é oscilar entre dois choques: um choque de realidade e um choque de fantasia. […] Fatos como a pandemia, os genocídios, o aquecimento global, entre outros, foram e seguem sendo negados. A eles sobrepôs-se uma teia de narrativas fantásticas sobre a “verdadeira realidade” do mundo, à qual poucos eleitos teriam acesso. Fábulas conspiratórias de todo tipo rondaram o começo dos anos 2020 […]. A disseminação se deu com uma velocidade jamais vista na história. Penetração e rapidez que se devem, sobretudo, às mídias sociais, principais fábricas e repositórios dessas teorias — ou melhor, fantasias, conforme o termo adotado neste livro, cuja escolha explicarei adiante. Quem mais divulgou e se aproveitou desse universo ficcional foram grupos, movimentos, partidos e líderes populistas de extrema direita, como Donald Trump e Jair Bolsonaro, pioneiros e especialistas da comunicação em rede. Com eles, o conspiracionismo chegou ao poder. Aliás, pode-se dizer que o discurso político que mais se impôs no começo do século XXI é justamente aquele do “populismo conspiratório” de extrema direita. Um discurso no qual a luta do “povo” contra as “elites” […]. Como quebrar esse feitiço? Eis a pergunta a que este ensaio busca responder. Entretanto, antes de fazê-lo, é preciso entender como funcionam os encantos do populismo conspiratório de extrema direita. É disso que me ocupo no Primeiro Ato do livro (“Da magia do extremismo”). Em seguida, em Interlúdio (“Contra o suprematismo da razão”), abordo criticamente as técnicas de combate às teorias de conspiração e à desinformação de extrema direita, baseadas, em grande maioria, em apresentação de dados, checagem de fatos e argumentos lógicos. Por fim, no Segundo Ato (“Quebrar o feitiço”), faço algumas propostas concretas para mudarmos os rumos dessa batalha. Uma pequena antecipação do que vem por aí: não adianta enfrentar os encantos do extremismo de direita apenas com fatos, dados e raciocínios. Se queremos mudar a realidade, precisamos mudar os trilhos da imaginação social, reconquistar a fantasia, inventar e semear histórias, outras histórias. A luta da vez é a luta pela maravilha.

— Paolo Demuru, no Prelúdio

 

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Não podemos aceitar o inaceitável, tolerar o intolerável, mas nosso tempo nos convoca a tentar compreender o incompreensível. Este pequeno livro de Paolo Demuru é uma imensa contribuição a esse esforço, trazendo à tona aquilo que subjaz ao horror cotidiano, revelando as entranhas do obscurantismo. Valendo-se de uma análise discursiva sempre arguta, atenta às sinuosidades da construção de sentidos, investiga com precisão os mecanismos comunicativos da extrema direita — não para desprezá-la, a partir de uma posição superior, com toda presunção, mas para compreendê-la com humildade até o limite. Em todos os aspectos, trata-se de uma obra corajosa e inteligente, que devassa numa centena de páginas um fenômeno vasto, transnacional, mas que também observa os meandros da história de um país, deste Brasil convulsivo em que nos coube viver na última década. Desde o princípio, Demuru sabe e revela que não está se deparando com um fenômeno simples, que o objeto de sua atenção encarna o próprio paradoxo de nossa época. Há na nova sublevação da extrema direita um choque constante entre realidade e fantasia, entre terror e magia. Eis a audácia do ensaísta: ver além da brutalidade evidente de tantos discursos destrutivos e retrógrados, ver justamente a antítese que se inscreve em seu âmago, seu sombrio teor de maravilha e deslumbramento.

— Julián Fuks, na orelha

 

SOBRE O AUTOR

Paolo Demuru (Sassari, Sardenha, 1981) é doutor em semiótica pela Universidade de Bologna, Itália, e em semiótica e linguística geral pela Universidade de São Paulo. É docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pesquisador do Centro de Pesquisas Sociossemióticas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. É vice-presidente da Associação Brasileira de Semiótica e foi coordenador do Grupo de Trabalho Práticas Interacionais, Linguagens e Produção de Sentido na Comunicação da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (2021-2023). Autor do livro Essere in gioco: calcio e cultura tra Brasile e Italia (Bononia University Press, 2014) e de diversos artigos científicos publicados em revistas internacionais. Pesquisa atualmente, em parceria com estudiosos europeus e latino-americanos, sobre a linguagem e as práticas discursivas do populismo digital do século XXI, as teorias de conspiração e outras estratégias de desinformação.