Verdes, mas colonialistas: a hipocrisia dos pactos ‘sustentáveis’

Elefante está lançando Colonialismo verde, v. 1, Geopolítica e transições ecossociais e Colonialismo verde, v. 2, Justiça energética e climática nos países árabes, ambos em pré-venda no nosso site, onde você também pode conhecer os sumários das edições. Publicamos aqui no nosso blog os textos da quarta capa e da orelha do primeiro volume, organizado por Miriam Lang, Breno Bringel e Mary Ann Manahan, com 18 artigos que passam por transições hegemônicas e a geopolítica do poder; interdependências e implicações globais do colonialismo verde; e horizontes para um futuro habitável e uma vida digna.

Quarta capa | Como vinho velho em garrafas novas, a retórica de mercados de carbono, crescimento verde, soluções baseadas na natureza e energias renováveis encobre uma lógica bem conhecida: extrativismo, pilhagem, desigualdade, empobrecimento, expropriação. Neste livro, vozes proeminentes da pesquisa e do ativismo do Sul Global combatem a hipocrisia dos “Novos Pactos Verdes” do Norte, que, travestidos de sustentáveis e ecológicos, não fazem senão repetir os mesmos métodos de apropriação, crescimento ilimitado e colonialidade do poder. Além de explicitar as assimetrias globais dessa nova faceta “verde” do capitalismo, estas páginas indicam caminhos para uma transição ecossocial verdadeiramente justa, que desmantele as relações extrativistas e coloniais rumo a um futuro anticapitalista e pluriversal.

Orelha | Há décadas a ciência tem soado o alerta de que estamos à beira de ultrapassar todos os limites planetários e de que toda a biosfera está em risco de colapsar. A pauta ambiental entrou com força na ordem do dia, sobretudo das nações do Norte Global, com suas metas de redução de emissões, adoção de energias “renováveis” e promessas de “crescimento verde”. No entanto, como argumentam os autores e autoras deste livro, “as atuais políticas ambientais não se concentram na preservação de ecossistemas, mas na acumulação de capital”. Em outras palavras, as propostas de conservação do meio ambiente foram, como todo o resto, cooptadas pela razão neoliberal.

A complexa teia de interações socioambientais é assim reduzida a uma única métrica, compatível com a contabilidade capitalista: a das toneladas de emissões de CO₂. Traduzida em um Consenso da Descarbonização — uma tendência global de redução das emissões baseada na adoção de energias “renováveis”, “negócios verdes” e “mercados de carbono” —, essa concepção não passa de uma maquiagem verde sobre os mesmos mecanismos de apropriação e colonização. Enquanto os países do Norte falam em “alianças verdes” e “matérias-primas sustentáveis”, o extrativismo no Sul Global segue a todo vapor — haja vista a corrida pelo lítio na América do Sul, que drena a água de comunidades indígenas e coloca em risco ecossistema inteiros para fornecer o minério tão necessário aos celebrados carros elétricos.

Os autores e autoras deste livro são pesquisadores e ativistas majoritariamente oriundos do Sul Global, comprometidos em lançar luza esta “nova fase hegemônica do capitalismo verde-colonial” e, mais ainda, apontar caminhos para uma transição ecossocial que abrace a justiça global em todas as suas dimensões — “social, racial, de gênero, ecológica, interétnica e interespécies”. Na primeira parte, propõem uma análise crítica do projeto hegemônico de transição energética, em que permanece vigente a “obsessão pelo crescimento econômico e seu modelo insustentável de produção, distribuição e consumo”, apesar da retórica de sustentabilidade. Os textos da segunda parte examina mas interdependências nas relações Norte-Sul, visando compreender padrões coloniais de poder que obstaculizam transformações ecossociais justas.

Na terceira e última parte, são apresentadas propostas de transição contra-hegemônicas, que buscam desmantelar as relações extrativistas e assimétricas entre Norte e Sul e mudar de modo radical a maneira como produzimos, distribuímos e consumimos. Assim, nestas páginas, mais do que a denúncia das velhas formas de exploração e injustiça global agora fantasiadas de sustentáveis, os autores oferecem novas perspectivas para um futuro ecossocial justo, capaz de restaurar o tecido da vida para todos.

> Quarta capa e orelha de Colonialismo verde, v. 2

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