Agrotóxicos, saúde, comida: um fio para pensar nossos dilemas socioambientais

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Por Paulo Silva Junior
Elefante na Sala

O Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos, dado por si só já muito alarmante. A combinação entre a globalização da agricultura, a concentração fundiária brasileira e a força do agronegócio acerta em cheio nossa saúde. Claro que se trata de um problema global, mas é pior aqui, no Sul, com nossa trágica e dura posição diante das relações colonialistas do mundo.

Larissa Mias Bombardi é pesquisadora e professora da USP, vivendo na Europa depois de tanta perseguição ao seu trabalho aqui no Brasil. Ela é autora de Agrotóxicos e colonialismo químico, entrevistada do episódio 15 de nossas conversas com autores no podcast Elefante na Sala. 

Larissa, queria começar pelo que você traz na introdução, um pouco dessa reflexão sobre como alertar as pessoas diante desse tema. Por exemplo, tratar da justificativa pelo uso de agrotóxicos, como se fosse algo para produzir mais alimentos e combater a fome, ou mesmo a própria ideia de que falar em produção agrícola já não é mais falar em produção de alimentos. Como que anda esse papo? Como que a sociedade tem tratado? Como que tem sido levar essa conversa às pessoas?

Olha, assim, pela minha experiência, eu sinto que a melhor forma de conversar sobre os agrotóxicos com as pessoas é pela saúde. É a nossa conexão com o tema dos agrotóxicos. As pessoas acabam reconhecendo o quanto essas substâncias têm afetado a saúde em função das próprias experiências pessoais, não só pelos agrotóxicos, mas outras substâncias tóxicas. Todo mundo tem reconhecido o quanto pessoas nas próprias famílias têm adoecido e de forma muitas vezes sem uma explicação concreta, uma trajetória que indique o porquê que essas pessoas, por exemplo, desenvolveram câncer, sabe? Então, o tema da saúde é um tema primordial.

Quando a gente fala de agrotóxicos, as pessoas vão olhar para o que a gente está comendo. Esse é um gancho importante. E falar da alimentação é muito poderoso nesse sentido, porque dá todos os caminhos para discutir outros temas que afetam a nossa sociedade. Porque a gente não está falando só de alimento. Na verdade, falar de alimento é que permite a gente entender os grandes dramas sociais e também ambientais que a gente tem no Brasil. O alimento, para mim, é o fio da meada para a gente desvelar esse novelo todo embolado que é a realidade da inserção do Brasil na economia mundial. A realidade da transformação do alimento em algo que é estranho, como, por exemplo, commodities, agroenergia.

Então, para mim, o caminho mais potente é esse, sabe? Começar pela saúde. Daí a gente olha para o que está comendo e isso nos abre caminhos para olhar para outras questões que são tão importantes hoje.

E diante da expansão dos agrotóxicos, sobra mais para o Sul Global, claro. E aí você traz autores da nossa região: podia citar o Alberto Acosta, com a ideia de que somos exportadores de natureza, e mesmo o Eduardo Galeano, que definiu a América Latina como especialista em perder. A partir disso, queria te ouvir mais sobre a particularidade de ser uma mulher aqui do Sul. A peculiaridade de ser uma pesquisadora brasileira nesse tema. Que diferenças, que olhares isso traz para você?

É, acho que essa pergunta é bem importante, sabe? Porque, por exemplo, muitas vezes o título do meu livro, em alguns ambientes, ele choca. Como assim agrotóxicos e colonialismo químico? O que é isso de colonialismo químico, dizem as pessoas do Norte. Para essa audiência do Norte Global, da Europa principalmente, mas também dos Estados Unidos, é um choque. Quer dizer que você está chamando a gente de colonialista? Então, o que traz a minha perspectiva do Sul? A gente conhece a colonialidade por dentro.

Não há o colonialismo sem a colonialidade, O que é a colonialidade? A colonialidade é o que aconteceu essa semana no Congresso Nacional. Isso é a fotografia da colonialidade. Então, estou falando do momento histórico que a gente está vivendo exatamente essa semana [primeira quinzena de dezembro de 2025], essa tentativa de aliviar a pena do ex-presidente Jair Bolsonaro e outros, enfim. Isso é a colonialidade. É essa marca da América Latina e de outras porções do planeta que foram colonizadas onde os detentores de terra têm um poder enorme, que está muito além do poder econômico.

Eles estão impregnados. Os interesses dos grandes proprietários de terra estão impregnados nas estruturas políticas e legislativas e jurídicas do país, eu diria. Então, quando a gente fala desse colonialismo químico, quer dizer esse padrão em que empresas situadas no Norte Global, especialmente na União Europeia, exportam agrotóxicos que são proibidos aqui na União Europeia para países como o Brasil, para outros países da América Latina e outros lugares do mundo. Isso acontece em paralelo com esse poder que existe nesses países, que existe no Brasil, que existe na Argentina, no Paraguai, no México, em tantas porções da América Latina, da África e da Ásia.

E que poder que é esse? Um poder que está relacionado à maneira como a terra foi apropriada nesses países, principalmente na América Latina. Então, quando o Eduardo Galeano diz, olha, a América Latina parece que se especializou em perder, é porque na nossa trajetória, na trajetória da formação dos países da América Latina, o que houve foi um processo de expulsão e de genocídio dos povos originários, e implantação das monoculturas. Esse foi o processo da nossa formação territorial.

E essas monoculturas só se implantaram por meio daquilo que a gente conhece como latifúndio. O que é latifúndio? São enormes propriedades agrícolas. Nesses séculos todos de formação disso que hoje é o Brasil esse poder desse controle da terra não foi eliminado. Então, hoje a gente tem no Brasil 1% dos grandes proprietários controlando 50% das terras do país. É só assim que a gente consegue entender como é que a gente tem uma Alemanha inteira só em soja no Brasil. Sendo que mais de 90% dessa soja é transgênica, quer dizer, sementes que foram modificadas principalmente para receber herbicidas, para receber agrotóxicos. Daí a gente entende que essa lógica dessa colonialidade se perpetuou.

Esse controle das terras não é só um controle das terras, é um controle político do país. E esse controle político é parceiro dessas companhias europeias. Essas companhias europeias, não só europeias, mas também americanas e mais recentemente chinesas, têm de obedecer, sobretudo na Europa, um padrão mais restrito para uso de agrotóxicos. Mas, no entanto, vendem essas substâncias.

Como é que elas vendem essas substâncias para o Brasil? Elas operam em parceria com o interesse desses grandes produtores de terra, fazem lobby conjunto, por exemplo, para fragilizar as nossas legislações ambientais e, em particular, a legislação de agrotóxicos. Então, qual é a peculiaridade de ser uma brasileira falando sobre esse assunto? É a peculiaridade de conhecer isso por dentro. Não só porque eu estava, em tantas vezes, em trabalho de campo, junto com os meus alunos, vivendo com os camponeses, com os agricultores, nessa situação de estar expostos a agrotóxicos, mas conhecendo por dentro como é que um país que é hoje majoritariamente urbano tem na sua Câmara dos Deputados e no seu Senado uma representação que é majoritariamente ligada aos interesses do agronegócio.

A colonialidade é essa característica que não está no passado, mas que determina o nosso presente e que anda de mãos dadas com o colonialismo, quer dizer, com essa ação colonialista dos países da Europa que continuam exportando substâncias que são proibidas aqui, entende? Então, ser brasileira, ter vivido e viver essa realidade por dentro me dá uma perspectiva que outras pessoas não conseguem ter.

E ainda nesse ponto de vista bem local, a gente passou por um governo cujo ministro do Meio Ambiente falava em passar a boiada, e agora a gente tem o retorno do governo Lulam já caminhando para o final desse mandato. Queria saber se temos boas notícias diante desses temas tão amplos, tão complexos, como a destruição da Amazônia ou outros debates trazidos na COP30, por exemplo. O que a gente tem de avanço, mesmo sabendo das dificuldades e limitações de olhar o Brasil dentro de um cenário mais global?

Olha, a sensação é que sim, a pauta ganhou maior visibilidade, maior respeito. Por exemplo, o governo Lula retomou a Política Nacional de Produção Orgânica e Agroecológica, isso é muito importante, e o Programa de Aquisição de Alimentos, o que é muito importante no Brasil. Hoje, por razão dessas legislações, a gente tem obrigatoriedade de que os municípios comprem pelo menos 30% da alimentação escolar orgânica.

Tem novidades no Brasil que não existem em outros lugares do mundo. O Ministério do Desenvolvimento Agrário inaugurou parcerias com hospitais, o Hospital São Paulo, por exemplo, em que há o fornecimento de alimentos para os pacientes a partir de agricultura orgânica, agroecológica, a partir da pequena agricultura. Isso só acontece num cenário progressista. Acho louvável isso, acho que são experiências que o Brasil têm para exportar para o mundo. A própria existência do Ministério do Desenvolvimento Agrário é a fotografia de que há uma outra concepção de como deve ser a alimentação.

Agora, obviamente que a nossa colonialidade, essa raiz, digamos, latifundista que a gente tem, ela está aí o tempo inteiro tentando sufocar essas medidas, essas transformações que são muito importantes, que têm a ver com o tema da COP, que têm a ver com mudança climática. Porque ou a gente caminha para uma agricultura que seja agroecológica, baseada no trabalho familiar, baseada no conhecimento ancestral, ou a gente, como humanidade, está sob risco, sabe? São avanços muito importantes, mas a gente não pode esquecer que essa estrutura dessa colonialidade constrange, ela limita as ações que poderiam ser tomadas ainda em maior escala.

E a gente passa também por figuras conhecidas nesse debate, como Chico Mendes, Dom Phillips, Bruno, o casal Zé Cláudio e Maria. Queria te ouvir sobre essa fronteira da violência nesse tema, essa proximidade da militância do campo com algo muito hostil, de ameaças, de assédios, de silenciamentos. E a força dessa indústria do agro, desses poderosos brasileiros… Como eles conseguem oprimir ou ameaçar ou silenciar essas vozes? Como isso tem soado para você nesse momento?

Eu também só consegui voltar ao Brasil recentemente porque o cenário político mudou, e pelo menos para visitar eu sempre tenho o apoio dos movimentos sociais e me sinto protegida. Para morar eu não consigo visualizar ainda como seria, ainda acho que não é possível. Mas, de toda forma, para mim foi muito interessante ter estado agora na COP30 porque revisitei a Amazônia, que foi a minha experiência de vida há exatos 30 anos. Ter estado lá e ter entendido o que era a questão agrária, que era essa temática que eu queria estudar, sabe… Então foi marcante nesse sentido.

E é muito angustiante, na verdade, de ver que os assassinatos não pararam. De que a gente está lidando com temas que eu estava lidando na minha tenra juventude, vamos dizer assim, quando eu me descobri como uma pessoa por meio da geografia, quando eu entendi que era isso que eu queria fazer da minha vida, quando os meus caminhos foram sendo delineados — bastante por influência do meu professor, Ariovaldo Umbelini de Oliveira, que faleceu recentemente, infelizmente, e que trouxe isso para a gente, que foi descortinando toda essa realidade das questões sociais e ambientais, que sempre estão juntas.

Foi interessante também, no meu exílio, ter vindo num primeiro momento trabalhar no Departamento de Criminologia da Universidade Livre de Bruxelas (a neerlandófona, e agora estou na francófona). Foi interessante de ver como que, no fim das contas, todas essas questões ambientais são, antes de tudo, sociais, entende?

Quando eu era estudante e ingressei na Geografia, o Chico Mendes tinha sido recentemente assassinado, então era ainda um marco recente desse trabalho dele. Agora, há poucos anos, a morte do Dom Phillips e do Bruno são fotografias de como que a injustiça é ainda a estrutura do nosso país. O assassinato de lideranças ambientais e de direitos humanos é parte de nossa estrutura social. O Brasil é, junto com outros países da América Latina, um dos campeões nesses assassinatos, então essa banalização da vida, a banalização da justiça, o interesse econômico acima da vida é a marca dessa nossa colonialidade, de um país que se fez país por meio da escravização de seres humanos, de um país que se fez país por meio do massacre dos povos originários, por meio do desmatamento.

E o que eu tenho visto agora, por exemplo, com a Amazônia, é não só esse desmatamento físico, mas, trabalhando com os agrotóxicos, é um desmatamento químico. É um impacto ainda mais perverso, porque ele é, muitas vezes, invisível. Então, por exemplo, colonialismo químico, eu falo com muita tranquilidade essa expressão, porque acho que ela traduz muito essas relações, da maneira como o Brasil se insere na economia mundial, e como essa nossa estrutura social, terrivelmente desigual, é a que permite que a gente continue, por exemplo, importando a atrazina. É uma substância entre as dez mais vendidas no Brasil, que agora, recentemente, foi também reavaliada pela Organização Mundial da Saúde. São substâncias proibidas na União Europeia, e que estão sendo usadas muitas vezes. Na Amazônia, por exemplo, o uso dessa substância aumentou 500% nos últimos dez anos, e muitas dessas substâncias têm sido usadas como armas químicas nos conflitos fundiários.

Então, veja, os assassinatos não acabaram; as expulsões de populações indígenas e camponesas não acabaram; o desmatamento, tudo bem, a gente está vendo agora uma diminuição, mas não uma supressão; e, ainda por cima, hoje a gente tem uma contaminação química!

Falar dessas pessoas que acabaram sendo mártires, dessa busca por justiça, é importante não só pra louvar e honrar a importância que essas pessoas tiveram e têm em trazer luz a essas grandes questões ambientais e sociais, mas é também uma forma de olhar como é que isso ainda está presente. É uma lupa para a gente enxergar como é que essa nossa sociedade está organizada.

Por fim, Larissa, saber um pouco por onde andam os seus projetos e também puxar um recorte de gênero, que é muito importante. Você traz esse trecho muito interessante, que diz que as mulheres contrapõem a geografia do abismo com a geografia do caminho. E aí, talvez para um leitor desavisado, ele não está imaginando muito que o tema do agrotóxico vá fazer um recorte tão direto em relação às mulheres, e acho muito forte como você traz isso, né? Como puxar esse papo da forma com que isso tudo acontece para a posição da mulher na sociedade, em relação a esse tema bem específico dos agrotóxicos?

Eu estive por um período na França, num programa de pesquisa do governo francês destinado a pesquisadores exilados, e nesse momento estou na Bélgica, trabalhando no laboratório de agroecologia da Universidade Livre de Bruxelas, num projeto muito bacana que se chama Friction, que discute a digitalização da agricultura. É o uso de alta tecnologia, inteligência artificial, robotização, drones, etc. A gente faz uma leitura disso que está acontecendo na agricultura, que é ainda mais assustador.

Então, por exemplo, hoje a gente tem as empresas de agrotóxicos trabalhando junto com as empresas de Big Data, de alta tecnologia. A gente tem Bayer, Basf, entre outras, trabalhando com Microsoft, Google, etc. Literalmente criando terceiras empresas que congregam esses dois ramos.

Tem sido hoje apresentada uma ideia de que para fazer frente à emergência climática é necessária tecnologia, e de que a tecnologia é o caminho para isso. E a gente, obviamente, traz uma análise crítica disso, porque é claro, está muito claro de que essas saídas são saídas para as empresas e não exatamente saídas para a humanidade e muito menos para o meio ambiente. Para que as pessoas tenham uma ideia, hoje, por exemplo, na produção de leite nos países do Norte tem sido implantado o chip nos estômagos das vacas que mensura desde o número de vezes em que a vaca ruminou, passando por quanta água ela bebeu, movimento de pescoço, movimento de pés, etc. Os agricultores têm que pagar por uma espécie de assinatura para esses chips e tem uma grande discussão de quem é que domina esses dados. Obviamente que essas empresas de Big Data estão dominando os dados, dados de produção, dados de onde, quem e o que se produz. E isso é muito temerário, tanto para a soberania e segurança alimentar, quanto para os destinos do planeta.

Tenho trabalhado com isso e também numa perspectiva de gênero, que daí já entro nesse tema que você puxou: como que tem esse perfil de gênero para discutir o tema dos agrotóxicos, o que é isso? É que em geral, as primeiras pessoas a notarem o efeito dos agrotóxicos são as mulheres. Elas são as primeiras a notar as doenças, elas são as primeiras a se organizar para denunciar isso que está acontecendo em suas comunidades, com relação à contaminação por agrotóxicos. Então, eu menciono, por exemplo, uma comunidade na Argentina que se chama Ituzangó, em que essas mulheres se organizaram e fizeram um movimento chamado Las Madres, as mães de Ituzangó. E elas no começo foram chamadas de uma forma pejorativa, ao invés de Las Madres, de Las Locas de Ituzangó, que é uma porção da Argentina em que se produz soja com intensivo uso de agrotóxicos.

Essas mulheres começaram a ver casos de câncer, casos de malformação fetal, e elas fizeram um primeiro levantamento experimental, epidemiológico — entre aspas, mas sem aspas também, porque elas começaram a fazer todo um levantamento de quem tinha qual tipo de doença onde. E, a partir disso, houve um engajamento posterior de cientistas da academia que mostraram que, realmente, as pessoas estavam adoecendo, muitas crianças, em função dessa dos agrotóxicos. As mulheres têm protagonizado a denúncia e elas também têm protagonizado o anúncio, para usar essa expressão do Paulo Freire, que eu gosto muito: a denúncia e o anúncio.

Dizer a denúncia, é denunciar o que está acontecendo, e o anúncio é: o que vem de novo? O que é possível fazer? E as mulheres têm resistido, muitas vezes, à entrada do agrotóxico nas suas terras. São elas que produzem os alimentos, que são os alimentos não comerciais. A roça, a criação dos pequenos animais, são conduzidas majoritariamente por mulheres e é o que permite que essas famílias continuem se alimentando com qualidade, com variedade. Ou seja, as mulheres é quem tem protagonizado a soberania alimentar de suas famílias. E depois, num passo além, muitas delas estão organizadas em movimentos sociais. Se reúnem e promovem a agroecologia, a troca contínua de conhecimentos, de sementes e etc.

Então uma boa parte das experiências agroecológicas no Brasil e no mundo são protagonizadas por mulheres. E esse tema de gênero é muito importante também porque as mulheres são impactadas diferentemente do que os homens por agrotóxicos. Primeiro por uma questão que eu vou chamar de biológica, porque a gente tem mais gordura no corpo e muitos agrotóxicos ficam depositados na gordura do corpo. Então, quando as mulheres engravidam e quando elas amamentam, uma parte dos resíduos dessas substâncias não desaparecem, eles podem ser passados pela placenta, podem ser passados pelo leite materno. E os abortos espontâneos que acontecem em função dessa exposição acontecem no corpo das mulheres.

Ou seja, tem toda uma carga que é física e emocional vinculada à especificidade de ser mulher e de gestar e de amamentar. E tem também uma carga que é emocional, física e psíquica que está ligada ao fato de que, historicamente, as mulheres são quem têm se encarregado do trabalho de cuidar. Quem é que cuida de todas essas pessoas que têm adoecido em função dos agrotóxicos? Quem é que vai criar essas crianças que nascem com malformação fetal? Quem é que vai cuidar das crianças que desenvolveram puberdade precoce, por exemplo? Quem é que cuida de todo mundo que tem adoecido em função desse modelo que é um modelo doente, que é um modelo químico dependente? As mulheres têm feito isso, sabe? Então, é um tema importante que eu estou mergulhando cada vez mais, inclusive o tamanho da representação masculina a respeito dos agrotóxicos, o quanto isso é construído, o quanto está no nosso imaginário, no nosso campo de representações, o quanto que aparece a imagem dos agrotóxicos vinculados com aspectos masculinos. Daquilo que a gente considera virtudes, que historicamente foi construído como virtudes masculinas, como coragem, braveza, etc. Que a gente sabe que essas virtudes são virtudes humanas e que foram, digamos assim, direcionadas para o universo arquetípico masculino, o que é uma construção histórica e social.

Enfim, tenho trabalhado com esses temas e muito feliz com o resultado do livro. Cada vez mais tenho feedback positivo e pessoas que me falam da importância do livro e de terem lido, além do uso do livro nas escolas e nas comunidades. Estou muito feliz com isso.

O Elefante na Sala é o podcast da Editora Elefante, disponível no player acima, nos tocadores, no YouTube e no nosso site

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