
Desde Hiroshima, a monstruosidade da destruição
Está em pré-venda Hiroshima está em toda parte, de Günther Anders, segundo livro do autor lançado pela Elefante, depois de Nós, filhos de Eichmann
O mais enfático testemunho filosófico contra o armamento nuclear, Hiroshima está em toda parte é um compilado de três textos escritos por Günther Anders entre 1958 e 1964, todos centrados na monstruosidade destrutiva das bombas atômicas que, sob o verniz do combate ao totalitarismo e da defesa da liberdade, ceifaram centenas de milhares de vidas no século XX.
Na primeira parte, O homem sobre a ponte: diário de Hiroshima e Nagasaki, acompanhamos a chegada de Anders ao 4º Congresso Internacional contra as Bombas Atômicas e de Hidrogênio, em Tóquio, no Japão, quando ele e outros ativistas se reúnem para alertar sobre o perigo irrevogável da tecnologia atômica e redigir um código moral sobre a situação nuclear.
A viagem prossegue com a visita às cidades japonesas treze anos depois dos bombardeios, num texto ao mesmo tempo intimista e filosófico, que expõe diálogos com outros viajantes, reflexões pessoais e o desespero de viver num mundo assombrado pela ameaça da destruição em escala industrial.
Na segunda parte, intitulada Para além dos limites da consciência, Anders torna pública sua correspondência com Claude Eatherly, major da Força Aérea dos Estados Unidos que participou do bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, e recebido em sua terra natal como herói patriótico.
Ao contrário de seus colegas de farda, Eatherly vivia angustiado pela culpa: tentou suicidar-se duas vezes e também tentou ser formalmente punido, cometendo pequenos delitos a fim de ser preso. Acabou internado num hospital de veteranos de guerra, onde recebeu a primeira carta de Anders, o único interlocutor que não o considerava louco. As cartas abrangem um período de praticamente dois anos, nos quais Anders tenta ajudar Eatherly a obter alta do hospital e ambos tentam articular seu interesse em comum: mobilizar esforços pelo fim do armamento nuclear.
Por fim, no último texto, Os mortos: discurso sobre as três guerras mundiais, Anders relembra a enorme dimensão da monstruosidade que nossa tecnologia foi capaz de produzir: uma guerra de “produção automatizada de cadáveres” e “que poderia liquidar toda a humanidade”.
Diante da iminência da destruição total, o autor convoca uma greve de produção: uma greve internacional contra a aniquilação da humanidade. Surpreendentemente atuais, suas reflexões são um alerta estridente para que “o tempo do fim” não se torne, de fato, “o fim dos tempos”.