Livro aborda denúncias históricas do movimento negro contra a violência de Estado
Resultado da tese de doutorado do sociólogo Paulo César Ramos, o livro Gramática negra contra a violência de Estado consolida trabalho do autor na área de memória negra
No Brasil, as pessoas negras têm 3,8 vezes mais chances de morrer em uma intervenção policial do que pessoas brancas, de acordo com a última edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. O fenômeno no entanto, já tem longa data: há décadas, organizações e ativistas do movimento negro denunciam que a violência de estado no Brasil possui um indicador racial determinante. É o que apresenta o livro Gramática negra contra a violência de Estado, trabalho pioneiro do sociólogo e coordenador de pesquisa do AFRO-Cebrap, Paulo César Ramos.
Resultado da sua tese de doutorado, o livro propõe uma linha do tempo sobre as mudanças das palavras utilizadas para denunciar a violência de Estado nos últimos 50 anos, demonstrando quais ações contra a população negra ganham destaque conforme transcorrem os capítulos da história da política brasileira.
“Há uma nítida elevação no tom da violência policial denunciada pelo movimento negro ao longo das últimas décadas, e uma progressiva atenção dada ao par vida/morte no conteúdo dessa denúncia. Se, inicialmente, tal violência policial era equiparada à proibição da entrada de atletas negros em seu próprio clube esportivo, em um segundo momento a violência contra o corpo físico se tornou o drama central da população negra. Na sequência, o Estado apareceu como o protagonista geral de um ato que intentava a morte da população negra no Brasil, sob o nome de ‘genocídio’”, explica o autor na introdução da obra.
Resgate da memória negra
Para a pesquisa, Paulo César Ramos realizou um trabalho minucioso de pesquisa de acervo de organizações, além de entrevistas com militantes que protagonizaram momentos emblemáticos de denúncia. A metodologia de trabalho também foi emprestada à criação do AFRO-Memória, projeto de pesquisa do AFRO que, há cinco anos, realiza a coleta e digitalização de arquivos da memória negra em parceria com o Arquivo Edgard Leuenroth, centro de pesquisa da UNICAMP.
Para além da etapa de disponibilizar o acervo para o público, o projeto também se preocupa com a disseminação do conhecimento, por meio das publicações do Caderno AFRO, que reúnem textos de pesquisadores e ativistas que explicam a importância de cada acervo resgatado.
“Pode-se dizer que a minha tese, agora transformada em livro, é o primeiro trabalho de fôlego que vamos disponibilizar ao grande público em que não só apresentamos o resultado de uma pesquisa baseada na memória negra, mas buscamos consolidar a importância de emprestar rigor e nome científico a uma linha de pensamento que é fundamental para entender o passado e o presente do país. Isto tudo, em torno de um tema central para a democracia brasileira que é a violência policial contra pessoas negras”, destaca Paulo Ramos.
O evento de lançamento também apresentará ao público um pouco da memória negra materializada pela presença de alguns de seus principais personagens: na roda de conversa que acontece na livraria Taperá Taperá, no centro da cidade de São Paulo, haverá a presença de Regina Lúcia dos Santos e Rafael Pinto, respectivamente, coordenadora e co-fundador do Movimento Negro Unificado (MNU), além da socióloga Márcia Lima.
O evento de lançamento acontece no dia 31 de outubro, às 19 horas.
Sobre o autor
Paulo César Ramos é doutor em sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), mestre e bacharel em sociologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com pós-doutorado na Universidade da Pensilvânia, Estados Unidos. Também é coordenador de pesquisa do Núcleo Afro do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e coordenador do Projeto Reconexão Periferias da Fundação Perseu Abramo. Tem se dedicado ao estudo das relações raciais, violência, memória, movimentos sociais, juventude e políticas públicas. É autor do livro “Contrariando a estatística”: genocídio, juventude negra e participação política (Alameda, 2021).