‘Ensinando comunidade’, de bell hooks: um livro sobre esperança

A obra chega em um momento muito oportuno, pois enquanto as sombras do autoritarismo e do fascismo nos amedrontam, bell hooks faz uma verdadeira ode à esperança

Por Luana Tolentino
Publicado na Carta Capital

 

Quem me conhece, quem foi meu aluno, quem costuma ler os meus textos sabe: bell hooks, que nos deixou em dezembro do ano passado, é uma espécie de guia espiritual para mim. É a ela que eu recorro nas minhas aulas, nos meus discursos. Sempre que as “questões de dentro” não vão bem, a procuro.

Com um certo atraso, acabei de ler Ensinando comunidade: uma pedagogia da esperança, livro recém-publicado no Brasil em uma parceria entre a Editora Elefante e a ONG Ação Educativa. Prefaciado pela socióloga Ednéia Gonçalves, a obra chega em um momento muito oportuno, pois enquanto as sombras do autoritarismo e do fascismo nos amedrontam, bell hooks faz uma verdadeira ode à esperança. Reiterando a influência de Paulo Freire em sua trajetória, uma passagem do educador pernambucano abre o livro: “É imperioso mantermos a esperança mesmo quando a dureza ou aspereza da realidade sugira o contrário”.

Dividido em 16 capítulos, com o didatismo que é peculiar nos escritos de bell hooks, Ensinando comunidade apresenta temas essenciais para se pensar a educação e a profissão docente no momento atual, marcado pela destruição de políticas públicas, como também pela perseguição aos educadores. A escritora ressalta que a perda do sentimento de comunidade nas escolas se configura como uma grande ameaça para todos nós. Desse modo, ela aponta caminhos, com experiências que nos mostram o que “fazemos e e podemos continuar a fazer para tornar a sala de aula um lugar de apoio à vida e de expansão da mente”.

Ao escrever sobre o sistema educacional norte-americano, ela parece direcionar sua fala aos professores brasileiros, trazendo à baila as ameaças que nos cercam: “Chama a atenção que o ataque contra os educadores progressistas e novos modos de saber tenha sido capitaneado com muita crueldade não por educadores, mas pelos legisladores que controlam a grande mídia”.

As ameaças, a precarização do trabalho, os avanços da política neoliberal sobre a educação têm levado muitos profissionais à exaustão, ao adoecimento. Nesse sentido, bell hooks apresenta uma possibilidade pouco discutida no meio educacional. Na visão da intelectual estadunidense, “todos os professores, em todos os contextos, do jardim de infância à universidade, precisam de um tempo longe do ensino em algum momento da carreira”. Obviamente, ao escrever isso, ela tem consciência de que nem sempre essa assertiva pode ser concretizada, mas não é possível discordar dela. Falo por experiência própria. Em 2018, percebi que era momento de deixar as salas de aulas da Educação Básica e alçar novos voos. Ainda na educação, mas em outros espaços. Foi a forma que encontrei de manter vivo o encantamento que sinto pela minha profissão. Penso que esta consiste em uma das decisões mais acertadas da minha vida.

Em Ensinando comunidade, bell hooks ainda discute feminismos, espiritualidade e amor na educação, como também o enfrentamento do racismo e a necessidade de a população branca atuar como aliada nessa luta.

Sempre é tempo de ler bell hooks. Agora mais do que nunca.

 

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