Fim do mundo e monstruosidade em Nós, filhos de Eichmann
O lançamento de Nós, Filhos de Eichmann, do filósofo alemão-austríaco Günther Anders, editado pela primeira vez no Brasil pela Elefante, proporcionou um encontro inédito, ainda que virtual, entre Déborah Danowski e Paulo Arantes, com mediação do tradutor da obra, Felipe Catalani, especialista no pensamento andersiano.
Lançados no mesmo ano, os livros O novo tempo do mundo e outros estudos sobre a era da emergência (Boitempo, 2014), de Paulo Arantes, e Há mundo por vir? Ensaio sobre os medos e o fim (ISA, 2014), de Déborah Danowski e Eduardo Viveiros de Castro, dialogam com a obra de Anders.
No lançamento de Nós, filhos de Eichmann, a perspectiva de fim do mundo e o conceito de monstruosidade mobilizaram a discussão. “Anders foi o primeiro a descobrir que o mundo do trabalho produz monstruosidades, que é a tese do Nós, filhos de Eichmann”, aponta Arantes, que considera este o livro mais sombrio do autor.
O monstruoso na obra de Anders pode aparecer novamente, segundo Arantes, em uma espécie de autonomização das máquinas, uma das obsessões no pensamento do autor, que na atualidade pode ser observada na transformação da racionalidade tecnológica em um “conglomerado de algoritmos que assim se chama inteligência artificial”.
“Começam a aparecer monstros avulsos perambulando pela superfície da Terra, e eu me pergunto se essa galáxia digital, que envolve dois terços da humanidade, passiva ou ativamente, não é essa sociedade de colaboradores que está gerando esse novo monstruoso porvir.”
Déborah Danowski também reflete sobre o conceito de monstruosidade nos dias atuais, representada pelos últimos quatro anos da presidência de Jair Bolsonaro (2019-2022), “governo nazifascista, apoiado totalmente pela agroindústria, pelo sistema financeiro e pelas chamadas elites”.
“Até hoje há muitas tentativas de explicar, embora nós estejamos num processo, esclarecendo partes do que aconteceu no governo Bolsonaro. Mas nenhuma dessas tentativas de explicação abarcam essa monstruosidade, essa maldade, essa ignorância, ou esse fascismo, como a gente queira chamar. Nada me parecia e me parece suficiente para explicar o que aconteceu e a adesão de grande parte da sociedade brasileira a isso. O único nome que me vem para falar do que aconteceu é justamente ‘monstruosidade’.”
Assista à íntegra do debate: