Veja algumas das ilustrações inéditas do livro-agenda Elefante 2024

Cada mês do livro-agenda Elefante 2024 é ilustrado por um trabalho exclusivo da artista mexicana Amanda Mijangos, simbolizando lutas e datas históricas. Para complementar, fizemos uma seleção especial de trechos da obra dos autores e das autoras mais queridos do nosso catálogo. A capa retrata um colibri ou beija-flor, ave com grande simbolismo para culturas ancestrais, como a dos Guarani.

É um livro-agenda simples e funcional, com capa dura e cantos arredondados, miolo em papel amarelado (o mesmo que usamos em nossos livros) e dois dias por página, o que oferece bastante espaço para a escrita e a reflexão. Para dar um “gostinho” desse lançamento tão esperado por nós, trouxemos alguns spoilers de ilustrações e trechos que vocês encontrarão no livro-agenda. Vem com a gente:

ABRIL

Nesse mês, a ilustração é motivada pelo Dia dos Povos Indígenas, celebrado no dia 19 de abril. Na mesma linha, escolhemos um trecho do livro A esquiva do xondaro, que entre outros prontos, trata da política do povo Guarani Mbya e a dança-luta que eles chamam de “dança dos xondaro” (xondaro jeroky), movimentos de “fazer errar” (-jeavy uka) o adversário. Veja já:

Poderíamos dizer que, para os Guarani, se a esquiva é um modo particular de produzir engano com o corpo, enganar, em geral, é uma forma eficaz de enfrentar o poder político enquanto coerção. A figura do enganador forte, então, demonstra ser esta uma das principais armas dos Guarani para lidar com o poder atualmente: na impossibilidade de criar uma nova ordem, como fez Kuaray no início do mundo, a ação política guarani se centra na potência do engano e da esquiva como processos de insubordinação contínua contra as forças da colonização.  Lucas Keese dos Santos, A esquiva do xondaro

JUNHO

Em junho, a data escolhida como destaque é a do Orgulho LGBTQIAPN+, no dia 28. A obra — e a autora — escolhida para acompanhar a ilustração não poderia ser outra que não Zami: uma nova grafia do meu nome Uma biomitografia, da eterna Audre Lorde, ícone da resistência lésbica. O livro narra os primeiros passos de sua jornada até a “casa de si mesma”, em uma trajetória marcada, do início ao fim, pela conexão com outras mulheres. Confira:

 

Ir para a cama e acordar dia após dia ao lado de uma mulher, deitar na cama com nossos braços em volta uma da outra, adormecer e acordar, estar uma com a outra —não como um prazer rápido e secreto, nem como um deleite extravagante, mas como a luz do sol, dia após dia, no curso regular da vida.Eu estava descobrindo todas as formas como o amor se entranha na vida quando duas pessoas existem junto uma da outra, quando duas mulheres se encontram. Como o cheiro da Muriel no meu moletom e os fios lisos do seu cabelo preto presos na minha luva. Uma noite, chorei ao pensar sobre quão sortudas éramos por termos nos encontrado, já que era óbvio que éramos as únicas pessoas no mundo que podiam entender o que entendíamos daquela forma instantânea. Ambas concordávamos que nossa união era feita no paraíso, pela qual cada uma de nós tinha pago com vários infernos. — Audre Lorde, Zami

JULHO

Nosso último spoiler, é do mês das mulheres negras, latinas e caribenhas. Com a ilustração e o trecho de Devir quilomba: antirracismo, afeto e política nas práticas de mulheres quilombolas, da historiadora Mariléa de Almeida, celebramos o afeto, os saberes e a construção de presentes e futuros femininos e afrolatinoamericanos. Confira:

 

 

É em meio ao fogo cruzado institucional, e à necessidade de construção de novos símbolos, novos conceitos e novas práticas sobre os quilombos, que as mulheres e as práticas culturais atribuídas ao campo do feminino transformam-se em estandartes das novas identidades quilombolas. […] Essas mulheres, ao se conectarem com os afetos potentes construídos na relação que estabelecem consigo e com os outros, tal como o cuidado, a ternura e a capacidade de criar espaços seguros, têm buscado uma reconciliação com seus lugares, com suas histórias, seus corpos, seus saberes. […] elas criam territórios que são simultaneamente subjetivos e políticos, e colaboram para reparação das lesões e cicatrizes, mobilizando ações potentes no presente, em direção a um devir que é feminino, relacional e coletivo.— Mariléa de Almeida, Devir quilomba

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