Não existe hierarquia entre genocídios

Por Joana Salém Vasconcelos

 

 

A primeira e única vez que a justiça brasileira condenou alguém pelo crime de genocídio foi em 1993, no caso do Massacre de Haximu. Na ocasião, garimpeiros assassinaram doze indígenas Yanomami em uma emboscada. Entre as vítimas havia velhos, crianças e um bebê. Os cinco assassinos foram condenados a vinte anos pelo crime de… genocídio. Doze pessoas.

O procurador do caso, Luciano Maia, considerou que o crime tinha intenção de extermínio porque os assassinos tinham como motivação o fato de as vítimas serem indígenas: “se reuniram para matar os Yanomami como uma coletividade”, ele disse. 

Para Convenção Internacional sobre a Punição e Prevenção do Crime de Genocídio da ONU, “entende-se por genocídio qualquer dos seguintes atos, cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, tal como: assassinato de membros do grupo; dano grave à integridade física ou mental de membros do grupo; submissão intencional do grupo a condições de existência que lhe ocasionem a destruição física total ou parcial”.

O que mais é necessário para se qualificar corretamente o que está acontecendo em Gaza?

Nos últimos pelo menos cem dias, estamos escutando imbecilidades de sionistas e seus defensores políticos ou “pseudotécnicos”. Uma delas é que nada nunca poderá ser comparado ao Holocausto contra os judeus — como se a questão fosse o número de vítimas e não o princípio do extermínio. Como se o massacre dos palestinos, desde a Nakba (“catástrofe” ou “desastre” em árabe, que se refere à expulsão estimada de 700 mil a 800 mil palestinos de seus territórios em um processo de limpeza étnica durante a institucionalização de Israel, em 1948), não fosse meticulosamente planejado por um Estado racista… judeu. 

O genocídio na Palestina é tão sistemático que virou uma vanguarda tecnológica de vigilância e controle populacional. Uma mistura brutal entre massacre em hospitais, câmeras de reconhecimento facial, amputações de crianças e drones de última geração. Nesse ponto deixariam a Schutzstaffel (SS), organização paramilitar ligada ao partido nazista, com inveja.

Lula tem razão. Os crimes de Israel contra palestinos são uma vergonha à memória das vítimas do Holocausto. Todo genocídio precisa ser freado. Não existem genocídios “mais tristes” ou “mais cruéis” que outros. Como disse Helena Salem em um livro de 1977, os palestinos são os novos judeus.

 

Foto de capa por Mohammed Ibrahim

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