A cada dezembro enfrento o desafio autoimposto de escrever uma carta aos leitores sobre o ano que passou. É uma tarefa prazerosa, mas difícil. Em um ano acontece bastante coisa. E anos como 2021 simplesmente não cabem em algumas linhas.
2021 deixa a marca indelével da morte e do luto causados pela forma genocida como o presidente da República, seus ministros, assessores (formais e informais) e apoiadores conduziram a pandemia. Não vou me alongar no assunto: em julho publicamos um livro sobre isso, e todo brasileiro já sofreu demais com a desumanidade criminosa de Brasília.
Na Elefante, começamos o ano maravilhosamente com Tudo sobre o amor, de bell hooks, livro mais vendido da editora em 2021. Em novembro, lançaríamos outra obra da autora: Ensinando comunidade, completando assim a publicação de toda sua Trilogia do Ensino no Brasil. Só não podíamos prever que, em meados de dezembro, quando já havíamos colocado em marcha o plano de comemorar seus setenta anos em 2022 com o lançamento de mais seis títulos, bell hooks nos deixaria. Fomos pegos totalmente de surpresa, e não pudemos evitar as lágrimas.
Ao grafar seu pseudônimo literário com letras minúsculas, Gloria Jean Watkins quis que suas palavras tivessem mais importância que sua pessoa, e sua morte demonstrou exatamente isso: bell adoeceu e partiu silenciosamente, mas a notícia de seu falecimento, graças ao legado que deixou, foi estrondosa — o que também nos surpreendeu, além de demonstrar que seus livros, sem alarde, estão mexendo com os leitores do país. Reforçamos aqui nosso agradecimento pela sua magnífica obra, e nosso compromisso em publicar tudo de bell hooks que conseguirmos.
Na mesma semana em que perdemos bell hooks, chegou da gráfica uma lindeza chamada Zami, contribuição da Elefante para a coleção Audre Lorde, construída em parceria com Bazar do Tempo, Relicário e Ubu. (Por favor, leiam Zami: o prazer será todo de vocês, eu garanto.) Com essa belezura, encerramos os lançamentos de 2021.
Entre janeiro e dezembro, apesar de todos os pesares, colocamos no mundo dezenove novos títulos; ao todo, nosso catálogo agora tem 82. Se tudo correr como planejado, em 2022 chegaremos aos cem. E isso é incrível!
Em 2021, a Elefante completou dez anos. Para comemorar, fizemos uma série de lives com pessoas que ajudaram a construir essa pequena casa editorial. Conseguiram ver alguma? As conversas foram ótimas, e ainda faltou chamar muita gente pra prosa. Olhando para os primórdios, quando éramos duas pessoas se revezando em todas as atividades necessárias para se manter uma editora, é impressionante termos chegado até aqui. E, se chegamos, os maiores responsáveis são vocês, leitores e leitoras que acreditam, valorizam e apoiam nosso trabalho.
Enquanto vocês estiverem conosco, continuaremos publicando.
Em 2021 ampliamos nossas coleções. A coleção Alternativas ganhou dois novos títulos: Modo de vida imperial e Pluriverso. A Práticas Utópicas cresceu com A escolha da guerra civil. A Realidade Latino-Americana, com Fronteiras da dependência e Chile em chamas. A Fundo & Forma, com A esquiva do xondaro. A Elefante em Quadrinhos, com Um grande acordo nacional. E a Crise & Crítica, com A sociedade autofágica. Também publicamos mais dois livros em parceria com O Joio e o Trigo: Formação política do agronegócio e Nutricionismo.
Estamos muitíssimo satisfeitos com o que realizamos em 2021. Ralamos o couro por aqui, mais uma vez. Tivemos insônia, trabalhamos aos fins de semana, enfim. Agora vamos descansar um pouco, e tranquilos, pois temos plena consciência da relevância de nossos lançamentos para o debate público contemporâneo. Sabemos que vocês compartilham dessa certeza.
Como estamos sempre querendo melhorar, neste ano ampliamos a equipe e nos esforçamos para aprimorar a organização interna. Espero que isso tenha sido perceptível no atendimento aos leitores e às livrarias, e também nos lançamentos.
Pela primeira vez, deixamos cinco pré-vendas abertas durante o recesso. Vamos começar o ano com o aguardadíssimo Reencantando o mundo, de Silvia Federici, além de outros lançamentos de autores e autoras brasileiras. Mas isso é assunto para a carta de dezembro de 2022, né?
Que vocês tenham um ótimo final e começo de ano.
Um abraço de elefante,
Tadeu Breda
editor