Corpos, territórios e feminismos

R$ 80,00

Frete fixo R$ 15

Corpos, territórios e feminismos:
compilação latino-americana de teorias, metodologias e práticas políticas
Organizadores: Delmy Tania Cruz Hernández & Manuel Bayón Jiménez
Tradução: Joana Emmerick Seabra, Joana Salém Vasconcelos, Lina P. Machado Magalhães, Manuela M. M. Silveira & Sislene Costa da Silva
Edição: Tadeu Breda
Assistência de edição: Luiza Brandino
Preparação: Isa Paula Morais
Revisão: Mariana Brito & Laura Massunari
Capa: Estúdio Alles Blau
Ilustração de capa: Amanda Mijangos
Diagramação: Victor Prado
Direção de arte: Bianca Oliveira
Lançamento: setembro de 2023
Páginas: 400
Dimensões: 15,5 x 23 cm
ISBN: 9788593115882

Descrição

A pesquisa participante sobre os movimentos sociais, indígenas e camponeses que resistem ao extrativismo na América Latina — e sobre os coletivos populares organizados contra a exploração e a violência nas cidades — encontra neste livro uma de suas expressões mais atuais e vibrantes. A partir da ideia de corpos-territórios, os textos aqui reunidos ressaltam a importância da subjetividade para a luta contra o avanço do capitalismo em sua perpétua expansão, destacando a profunda relação entre a resistência, as mulheres e a terra.

 

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Este é um livro sobre a resistência dos povos latino-americanos ao avanço do extrativismo a partir da noção de corpos-territórios. Ao compreender o corpo como território e o território como corpo social, as autoras e autores dos dezenove textos aqui reunidos propõem um novo olhar para as camponesas guatemaltecas que lutam contra a mineração, as indígenas que enfrentam a extração petrolífera na Amazônia equatoriana ou a liderança feminina contra políticas neodesenvolvimentistas na Argentina, além de muitas outras experiências em curso de norte a sul da América Latina, no campo, na cidade e nas florestas.

Corpos, territórios e feminismos busca, assim, reconhecer o protagonismo daquelas que sempre lutaram pela vida. Dividido em três partes, começa apresentando perspectivas político-teóricas para a compreensão das lutas populares de Abya Yala, com destaque para a ideia de (re)patriarcalização dos territórios, um processo desencadeado por projetos neoextrativistas que reconfigura, nos territórios, uma nova ordem patriarcal, aprofundando e reatualizando relações machistas preexistentes. Outro conceito que figura nessa seção é a geopolítica do útero, desenvolvida a partir da resistência das mulheres Épera, que fazem da reprodução uma trincheira contra a morte lenta e coletiva de seu povo.

Na segunda parte, Corpos, territórios e feminismos expõe propostas e aplicações metodológicas para o trabalho de politização em coletivos de mulheres. São narradas, entre outras, as experiências do Teatro das Oprimidas praticado pelo coletivo Magdalenas, no Uruguai, por meio do qual as militantes foram se descobrindo alvo de uma série de violências; e o trabalho do Colectivo de Geografía Crítica de Ecuador, que mapeou feminicídios com base em notícias veiculadas na imprensa do país.

Por fim, a terceira parte do livro oferece cinco diálogos para discutir conceitos e realidades da luta das mulheres em defesa dos territórios na América Latina. Um dos textos coloca em xeque o conceito de Pacha Mama, largamente adotado por movimentos sociais, ecologistas e indígenas, questionando o motivo que levou — e continua levando — à atribuição de um “gênero” à terra e à natureza. Outro ponto de debate é o “patriarcado ancestral”, ou seja, a existência, entre os povos indígenas, de uma cultura machista anterior à colonização, com valores que não eram iguais aos impostos pelos europeus, mas que, ainda assim, e de formas totalmente outras, oprimiam as mulheres.

Com um pé na academia e outro na militância, Corpos, territórios e feminismos pretende nomear as sujeitas invisibilizadas pela história imposta pelos vencedores — quase todos homens, heterossexuais, brancos, ocidentais e burgueses. Para povos originários, comunidades subalternas e coletivos periféricos, a defesa do território sempre existiu — é um processo de vida em devir e com memória ancestral. A visibilidade que essas lutas alcançaram atualmente é uma resposta à violência sanguinária do sistema capitalista, patriarcal e colonial, que direciona seu ódio às formas de vida que incomodam, às maneiras disruptivas de ser e pensar, que destoam do arranjo da ordem estabelecida e que dizem basta!

 

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Em certos tempos sociais, aquilo que Thomas Kuhn denominou “ciência normal” se abala, de modo que as certezas e as promessas anteriormente oferecidas se debilitam ou colapsam. São tempos de crise, que se tornam fecundos quando conseguem se abrir à renovação crítica de pensamentos e práticas. Corpos, territórios e feminismos é justamente um livro que entra com força em diversos debates abertos nas ciências sociais contemporâneas, com o afã de apresentar, de forma organizada, ideias e argumentos para enriquecer a ampla constelação de esforços empregados para romper tal “normalidade”. Trata-se de desafiar a suposta normalidade daquilo que se impõe como realidade devastadora e, simultaneamente, daquilo que se apresenta como limite do pensamento e da imaginação; ou seja, trata-se do anseio de romper esquemas argumentativos, divisões disciplinares rígidas e chaves conceituais que obscurecem e enviesam mais do que revelam e iluminam.

— Raquel Gutiérrez Aguilar, no Prefácio

 

SOBRE OS ORGANIZADORES

Delmy Tania Cruz Hernández é feminista, antirracista, educadora popular, ecologista do Sul e animalista, e acompanha processos de mulheres que defendem seus territórios, além de militante feminista desde abajo e à esquerda. É doutoranda em antropologia social no Centro de Investigaciones y Estudios Superiores en Antropología Social (Ciesas-México), coordenadora do Programa Pedagogia do Sujeito do Centro de Estudios para el Desarrollo Rural (Cesder-Puebla) e membro do movimento Mujeres Transformando Mundos, em Chiapas, México. É uma das coordenadoras do Grupo de Trabalho Corpos, Territórios e Feminismos do Clacso e membro do Colectivo Miradas Críticas del Territorio desde el Feminismo.

Manuel Bayón Jiménez é geógrafo, mestre em estudos urbanos pela Flacso-Equador e doutorando na Universidade de Leipzig. Sua pesquisa abrange produção cartográfica quantitativa, mapeamentos comunitários e do corpo, conflitos urbanos, territórios indígenas e urbanização extendida. É membro do Colectivo de Geografía Crítica de Ecuador.