Mulheres de terra e água, que está em pré-venda com desconto no site da Elefante, nos oferece uma série de depoimentos de mulheres de diversas regiões, etnias e matizes — mulheres quilombolas, ribeirinhas, indígenas, ativistas. São parteiras, tecelãs, benzedeiras, cozinheiras, plantadeiras, artesãs, artistas, mestres dos cantos e das danças, senhoras da vida, da cura e da devoção, portadoras de técnicas centenárias de fazeres e labores. Mais velhas e mais novas, mães, filhas, avós. Senhoras do corpo, senhoras do bem, senhoras da voz.
“No relato de suas experiências vividas se entrecruzam inúmeras atividades e diversos ofícios que exercem em suas comunidades, nos quais cumprem um efetivo papel de liderança, executando funções imemoriais, irradiando conhecimentos”, escreve Leda Maria Martins no posfácio do livro.
“No ressoo de suas vozes, no plantio das terras, na defesa de suas tradições e territórios, de seu patrimônio material e imaterial, na resistência às invasões e apropriações indevidas, na preservação de sua cultura e bens simbólicos, no papel professoral de difusão, domínio e passagem dos saberes capturamos a nobreza e extensão de suas labutas cotidianas. Acompanhamos seus sobressaltos, suas lutas e insurgências, assim como suas ações, conquistas e sua resiliência.”
De acordo com a organizadora da coletânea, Lucila Losito, foi preciso descolonizar os ouvidos e se esvaziar de conceitos para que dialogasse com essas mulheres, despindo-se também das ideias de reparação que se projetavam sobre a sua condição de privilégio diante delas.
Ainda que as discussões feministas se apresentem de forma cada vez mais expressivas na contemporaneidade, elas não fazem sentido para muitas das autoras deste livro. Exatamente por isso, e por sabermos tão pouco sobre os modos de viver indígena, caiçara, caipira e quilombola no que diz respeito às mulheres, suas visões são contribuições importantes para pautas feministas da atualidade.
A cada capítulo, com a autoria de uma convidada, vemos o entrelaçar de temas como maternidade, parto, menstruação, família, sexualidade, política, casamento, espiritualidade, educação, trabalho, sororidade e nutrição. Algumas delas não sabem ler ou escrever, sobretudo em português, porém são líderes em suas comunidades. Tem origens distintas, mas falam a mesma língua: a da terra, a das águas. Elas são muito diferentes entre si, todavia trazem olhares que se aproximam de algo que nos falta.
Para Lucila, “ter as palavras dessas doze mulheres passando pelo meu corpo, enquanto eu as transcrevia com a pele arrepiada e os olhos úmidos, foi sobretudo uma honra. Mais do que ser lido, este é um livro para ser escutado”.