Editora Elefante ganha seu primeiro prêmio!

'Corumbiara, caso enterrado' está entre os agraciados do Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo. Reconhecimento reforça convicção de que devemos andar na contramão de cunhices, dilmices e alckimices

Chegou a galope, vestindo bombacha e mateando, uma notícia tri legal no apagar das trevas de dois mil e crises. A Editora Elefante conquistou sua primeira honraria! E o mérito é todo do livro-reportagem Corumbiara, caso enterrado, que ficou em segundo lugar na categoria Grandes Reportagens do Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, promovido pela seccional gaúcha da Ordem dos Advogados do Brasil, pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos e pela Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio Grande do Sul.

O autor do trabalho junto com o fotógrafo Gerardo Lazzari, o repórter João Peres, ganhou também na categoria Online, ao lado de Thiago Domenici e Moriti Neto, por uma reportagem para a Agência Pública sobre julgamentos de policiais envolvidos em homicídios. Em 2010, João havia recebido menção honrosa na mesma premiação, junto com Virgínia Toledo, por uma série de reportagens para a Rede Brasil Atual e a Revista do Brasil sobre a luta de dom Paulo Evaristo Arns contra a ditadura.

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O Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo está na 32ª edição – sim, os caras começaram a reconhecer trabalhos jornalísticos em defesa da vida e da liberdade ainda durante a ditadura. O coordenador da parada é Jair Krischke, arquivo vivo de violações cometidas pelo regime autoritário, fundador do Movimento de Justiça e Direitos Humanos em 1979 e um dos primeiros a alertar para as conexões entre milicos de Brasil, Argentina, Uruguai e Chile, no que mais tarde se convencionou chamar de Operação Condor.

São justamente sobre a ditadura os outros dois trabalhos premiados na categoria Grandes Reportagens. Lucas Castro Figueiredo ficou com o primeiro lugar pelo livro Lugar nenhum: militares e civis na ocultação dos arquivos da ditadura, publicado pela Companhia das Letras. E Renato Antonio Dias Batista levou a terceira posição por O menino que a ditadura matou, da RD.

Corumbiara, caso enterrado tem um pé no regime dos generais e outro no que costumar definir como democracia. Mostra como os militares criaram condições para que terras públicas da União na Amazônia fossem regaladas a gente rica para que ficasse ainda mais rica. E como os governos do pós-ditadura não mexeram um dedinho sequer para corrigir uma série de distorções.

É este saldo que leva ao episódio que ficou conhecido como massacre de Corumbiara. Em 9 de agosto de 1995 ao menos doze pessoas morreram na fazenda Santa Elina, no sul de Rondônia – nove camponeses, dois policiais militares e um homem não identificado — durante o cumprimento de um mandado de reintegração de posse. Cinco anos mais tarde, dois sem-terra e três PMs foram condenados. Isso é um resumo por certo insuficiente: restam dúvidas, muitas dúvidas, muitas mesmo, e o livro-reportagem lançado pela Editora Elefante em julho deste ano é uma tentativa de começar a saná-las.

Uma tentativa, até agora, bem-sucedida. Em setembro, circulamos por Rondônia de cabo a rabo conversando com estudantes, jornalistas, historiadores, militantes de movimentos sociais e tudo quanto é gente – quase duas mil gentes, para ser mais claro. Para alguns, foi a primeira oportunidade de tomar contato com o episódio mais emblemático do estado. Para outros, foi uma chance de ganhar uma ferramenta com capacidade para ajudar a retirar do esquecimento esta história.

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O prêmio vem, agora, colocar a cereja de um bolo que pode não ser o mais saboroso, nem o mais belo, mas que precisamos comer para que não surjam outros e outros e outros (“um país que não conhece sua história está fadado a repeti-la em seus erros”, dizem os bons conselheiros). A despeito de cunhices, dilmices e alckimices, ou justamente porque existem cunhices, dilmices e alckimices, temos certeza de que devemos continuar a andar na contramão.

Corumbiara, caso enterrado praticamente se esgotou sem ter um mísero exemplar vendido por uma grande rede de livrarias – dessas que se parecem com cadeias de supermercado e que tratam livros como meros objetos de consumo, manja? Apostamos em uma rede que se move por interesses comuns, e não por pecúnia, dindim, bufunfa. Deu certo. Por isso, esse prêmio é dividido com todos aqueles que, do começo do ano pra cá, apostaram neste projeto. Cederam horas de trabalho para revisões, materiais de divulgação, organização de eventos. Cederam colchões em salas e quartos para que pudéssemos economizar recursos e levar nosso trabalho a mais gente. E, óbvio, com aqueles que cederam horas de lazer para ler com carinho e respeito o que fizemos.

O prêmio só faz reforçar nossa convicção de que é esta a pegada que fará da Editora Elefante uma iniciativa coletiva e cada vez mais forte. Em 2016, ninguém perde por esperar. Estamos preparando mais livros que se opõem a Belos Montes, a corporações treinadas para matar, a corporações treinadas para pilhar o país e tomar o poder. E que propõem tudo ao contrário disso, com um sistema calcado na camaradagem e na reconquista da autonomia humana. Seremos manada.

 Em tempo: a entrega do prêmio será na quinta-feira, 10/12, Dia Internacional dos Direitos Humanos, em Porto Alegre. Auditório da OAB/RS. Rua Washington Luiz, 1.110 – 2º andar

 

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