Para Paulo César Ramos, secretário de segurança e governador de SP encorajam policiais

 

Publicado em Café da Manhã/Folha de S. Paulo

 

Ao longo da última semana, o sociólogo Paulo César Ramos, autor de Gramática negra contra a violência de Estado, concedeu entrevistas para diversos veículos jornalísticos, por ocasião dos dois casos de violência policial que repercutiram nos noticiários dos últimos dias. Tanto o caso do homem negro que foi arremessado de uma ponte por policiais, cujo registro em vídeo viralizou nas redes sociais, quanto o caso do jovem negro de 26 anos, executado em novembro por um policial à paisana com 11 tiros nas costas após furtar produtos de limpeza em uma unidade do Oxxode provocaram uma onda de repúdio e flagraram uma crise na política de segurança pública do governo Tarcísio Freitas em São Paulo.

No livro, que a Elefante lançou em outubro, Ramos recupera as estratégias usadas pelo movimento negro desde a ditadura para fazer frente às mortes provocadas pela PM nas ruas do país.

Em entrevista ao podcast Café da Manhã, Ramos faz uma avaliação contundente sobre a atuação da secretaria de segurança do governo de São Paulo em casos de violência policial:

“Eu vejo um discurso que é autorizativo desse tipo de ação brutal. Mais de uma vez, o secretário de Segurança Pública [Guilherme Derrite] e o governador atuaram por meio de seus discursos, encorajando e autorizando os policiais a tomarem medidas que nós caracterizamos como brutal. O que é o brutal? É o uso da força em excesso, de modo desnecessário. E aí, todo tipo de ação pode caber nesse tipo de expediente em que o abuso da força está autorizado pelo chefe do governo de turno”.

Na conversa, Paulo cita uma declaração do governador Tarcísio Freitas registrada em vídeo em março deste ano: “tem uma turma profissional pra caramba que tá dando o máximo, tá dando a vida, tá se expondo ao risco pra proteger você, pra me proteger, pra proteger a sociedade. Então, sinceramente, nós temos muita tranquilidade com relação ao que está sendo feito. E aí o pessoal pode ir na ONU, na Liga da Justiça, onde quiser”, disse o governador.

Ramos retoma: “no caso de jogar um cidadão de uma ponte, é algo que não pode ser retratado com outras cores que não aquelas do absurdo. Não existe uma paleta alternativa para poder colorir isso”, afirma. “Tanto é que, nesse caso, até o Tarcísio e o Derrite condenaram, né? Mas aí fica um questionamento de que, assim, precisa jogar alguém de uma ponte para que haja uma condenação unânime?”.

 

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