As notícias sobre a Amazon são cada vez mais ultrajantes. A última delas foi o crescimento exponencial da fortuna de Jeff Bezos em um único dia: na segunda-feira, 20 de julho, o fundador da megaultrahiperblaster varejista estadunidense ficou treze bilhões de dólares — ou seja, 65 bilhões de reais — mais rico.

Para efeitos de comparação, o orçamento anual do programa Bolsa Família, que garante condições mínimas de sobrevivência para vinte milhões de brasileiros em situação de extrema pobreza, é de dezessete bilhões de reais, quase quatro vezes menos do que Jeff Bezos faturou em 24 horas na última segunda-feira.

Certamente há gente louvando esse feito “notável”. Em março, já durante a pandemia, quando o CEO da Amazon escreveu uma carta aberta a seus funcionários, não faltou quem o elogiasse. Aqui na Elefante, porém, estamos enojados. Nossa vontade de vomitar é imensa, quase incontrolável.

De acordo com a revista Forbes, o patrimônio de Jeff Bezos é de 175 bilhões de dólares — 875 bilhões de reais. As cinco parcelas do auxílio emergencial de seiscentos reais pago pelo governo federal aos sessenta milhões de cidadãos atingidos pela quarentena no Brasil custarão cerca de duzentos bilhões de reais — quatro vezes menos que a fortuna do homem mais rico do mundo.

Fosse membro das Nações Unidas, o dono da Amazon (e de uma penca de outras empresas, entre elas a Blue Origin, dedicada à exploração espacial) seria o 54º país mais rico do mundo, com um PIB maior que o da Hungria, Ucrânia, Argélia, Venezuela, Cazaquistão e de mais outros 130 países de todos os continentes, onde vivem centenas de milhões de pessoas.

Há quem lhe dirija os parabéns por sua inteligência e eficiência. Não é o que pensam os trabalhadores e trabalhadoras dos galpões da Amazon, onde a exploração é intensa e constante. E, como mostra esta compilação de textos e esta reportagem da revista Jacobin, a situação não mudou quando a pandemia começou a ceifar vidas — e a enriquecer ainda mais Jeff Bezos.

Enfim, não queremos nos estender mais sobre esse assunto desagradável. Acreditamos que, como editora, já demos bastante atenção à obscenidade dessa fortuna que se ergueu a partir de uma aparentemente inofensiva loja on-line de livros — que certamente não foram inventados para tal finalidade.

Além disso, nosso Contra Amazon, de Jorge Carrión, traz bons argumentos, em uma leitura prazerosa, para que deixemos de uma vez por todas de apoiar um dos maiores absurdos de nosso tempo. Sabe aquele descontinho irresistível que salta aos olhos quando você busca um livro na internet? Pois então…

Antes de terminar esta triste newsletter, queremos fazer mais duas indicações de leitura. Quem quiser conhecer um pouco mais sobre a mente complicada de Jeff Bezos pode ler este perfil publicado na revista piauí há alguns meses. E, neste site, alguém se deu o trabalho de “desenhar” o tamanho da concentração de renda nas mãos do dono da Amazon: é visualmente chocante.

 

Links dessa matéria:

Livro “Contra Amazon“, da Editora Elefante.

Infográfico digital em escala da fortuna de Jeff Bezos, comparativos com PIBs de países, investimentos sociais e econômicos, fortunas de super ricos e ricos famosos, entre outros.

Carta aberta de Jeff Bezos a seus funcionários, durante a pandemia

Compilação de textos sobre como Jeff Besos se tornou um dos homens mais ricos do planeta

Reportagem da revista Jacobin, publicada no Blog da Elefante, sobre os trabalhadores da Amazon

Perfil de Jeff Bezos na Piauí

Também pode te interessar