O advogado Rafael Zanatta considera que apenas com uma atuação concertada será possível frear o avanço das grandes corporações da internet. Em entrevista a Oscar D’Ambrosio, da Rádio Unesp, o pesquisador em direitos digitais e telecomunicações no Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) comentou sobre o lançamento de Cooperativismo de Plataforma: contestando a economia do compartilhamento corporativa.
“Esse livro é quase um panfleto, um manifesto. Contesta a ideia de que devemos nos acostumar com grandes corporações, como Google e Airbnb”, afirmou Rafael, que foi o tradutor do livro para o português. “O cooperativismo de plataforma retoma os conceitos básicos de cooperativismo: participação econômica, gestão democrática, distribuição de lucros entre os participantes. E implementa um modelo de cooperativa nessas grandes plataformas tecnológicas.”
O livro do norte-americano Trebor Scholz busca disseminar esse conceito, mostrando que é possível e necessário escapar à oligopolização do setor de serviços oferecidos via internet. O trabalho foi trazido ao Brasil graças à iniciativa de Rafael, que se juntou à Editora Elefante, à Autonomia Literária e à Fundação Rosa Luxemburgo para garantir que as ideias pudessem circular por aqui.
Scholz é escritor, artista e professor de cultura e mídia digital da The New School, de Nova York, e alerta que é preciso começar de imediato a construir saídas. Uber e Airbnb são as faces mais claras da apropriação da economia do compartilhamento por grandes corporações. Todas elas têm uma história em comum: uma plataforma na internet que recebe enormes investimentos do capital de risco via Vale do Silício, nos Estados Unidos, e passa a competir em setores tradicionais da economia com um discurso de modernização e sentimento comunitário.
“A gente tem que trabalhar em conjunto como sociedade para evitar que essas empresas predatórias continuem avançando de forma desregulada”, resume Rafael, que critica uma agenda de precarização de direitos e falta de transparência. Motoristas do Uber, por exemplo, podem ser descredenciados a qualquer momento, não contam com direitos trabalhistas e são responsáveis pela manutenção do próprio veículo. “O cooperativismo garante voz e poder para quem é um cooperado. O cooperado tem direitos assegurados e tem voz na empresa.”
Rafael entende o ceticismo em torno da criação de alternativas, mas avalia que a união de esforços entre cooperados e programadores é o caminho para viabilizar o surgimento de saídas. Scholz, o autor de Cooperativismo de plataforma, diz que um passo fundamental é ir ao cerne dos aplicativos que hoje representam precarizam: apropriar-se daquilo que têm de bom em termos de ideias para em seguida garantir a criação de iniciativas permeadas por democracia interna e garantia de direitos.