Descrição
Além de escritor, Atef Abu Saif exerceu as funções de ministro da Cultura da Autoridade Nacional Palestina. Mora em Ramallah, na Cisjordânia, e estava em Gaza cumprindo uma agenda de trabalho quando grupos da resistência armada palestina realizaram uma série de ataques ao território israelense, prontamente respondidos por Israel com todo seu poderio militar. Encurralado na estreita faixa territorial sob intenso bombardeio junto com seu filho, parentes e outros 2,3 milhões de compatriotas, Atef começou a escrever — e escreveu todos os dias até que conseguiu sair de Gaza, quase três meses depois. Quero estar acordado quando morrer é resultado desse diário do genocídio, publicado simultaneamente por editoras de dez países.
***
Há um leve consolo em ouvir o som de um foguete: você sabe que ele não vai te atingir. Você não é o alvo. Essa é uma lição que todos os moradores de Gaza aprendem. Quando você é o alvo de um foguete, você não ouve sua chegada. Só existe a morte. Você simplesmente morre. E, ainda assim, acho que vejo a morte nos meus sonhos, e ela se demora, se anuncia. Ouço seus passos. Vejo seus dentes. E nada do que a gente aprende enquanto pessoas, enquanto espécie, realmente nos ajuda em momentos como esse. Tenho que parar, por um momento, para deixar um pastor cruzar a rua com seu rebanho. Centenas de ovelhas e cabras passam por mim. Todas parecem cansadas. Talvez não tenham sido alimentadas por dias. Fico sabendo que o pastor está na rua por ter sido forçado a evacuar seu estábulo. Ele me confirma que não sabe onde esconder os animais, então os guia pelas ruas. “E de noite?”, pergunto. “Eu durmo onde estou, e eles dormem do meu lado.”
— Atef Abu Saif, trecho do livro
Um grande número de escritores, jornalistas e fotógrafos palestinos, muitos mortos nos ataques israelenses a Gaza, está determinado a nos fazer ver e sentir o horror desse genocídio. No fim, eles vão vencer as mentiras contadas pelos assassinos. […] Atef não é estranho à violência da ocupação israelense. Ele tinha dois meses de idade durante a guerra de 1973 e, como escreve, “tenho vivido em meio a guerras desde então. […] assim como a vida é uma pausa entre duas mortes, a Palestina, como um lugar e como uma ideia, é um intervalo no meio de muitas guerras”.
— Chris Hedges, no Prefácio
SOBRE O AUTOR
Atef Abu Saif nasceu no campo de refugiados de Jabalia, na Faixa de Gaza, em 1973. Formou-se na Universidade de Birzeit, na Cisjordânia, com estudos de pós-graduação na Universidade de Bradford, Inglaterra, e no Instituto Universitário Europeu de Florença, Itália. É autor de cinco romances e dois livros de contos, além de ensaios políticos, como The Drone Eats with Me [O drone almoça comigo] (Comma, 2015) e A Suspended Life [Uma vida em suspenso] (Al-Ahleya, 2015). Colabora frequentemente com jornais e revistas árabes, além de já ter publicado no New York Times e no Guardian, entre outros meios de comunicação ocidentais. Foi porta-voz do partido político Fatah e, em 2019, mudou-se para Ramallah, onde exerceu as funções de ministro de Cultura da Autoridade Nacional Palestina até março de 2024.