Ao menos três veículos de imprensa de Rondônia publicaram em 9 e 10 de setembro texto que traz informações inverídicas sobre mim e sobre meu livro Corumbiara, caso enterrado. A suposta análise, trazida em nota apócrifa pelo Rondônia Atualidades, com reproduções na Folha de Vilhena e no News Rondônia, busca associar-me ao PT e à Central Única dos Trabalhadores (CUT) na tentativa de desmerecer algumas passagens do livro-reportagem sobre a história e os desdobramentos do conflito agrário ocorrido no Cone Sul de Rondônia em 9 de agosto de 1995. É estarrecedor que o jornalismo ainda seja utilizado (até quando?) como instrumento para tentar proteger determinados interesses (quais?) mediante ataques a reputações.
Tenta-se jogar por terra um trabalho produzido ao longo de três anos, e que busca refletir as várias versões em torno do chamado “massacre de Corumbiara”. Curioso notar que repórteres de vários veículos rondonienses — inclusive da Folha de Vilhena — estiveram presentes em dois eventos realizados em 12 de setembro, em Vilhena, a respeito do livro: uma palestra durante o 1º Encontro dos Comunicadores do Cone Sul, na Câmara dos Vereadores, e um debate com alunos do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia. Nos dois momentos, Osias Labajos Garate, responsável pela Folha de Vilhena, fez questão de tomar o microfone e elogiar publicamente meu trabalho e minha “coragem” em realizá-lo. Em nenhum momento me procurou para conversar sobre minha suposta vinculação à CUT e ao PT.
Para evitar mal-entendidos que já começam a circular por conta do texto, reproduzo e questiono, abaixo, as ilações publicadas por estes veículos.
O que diz o texto:
Jornalista da CUT-SP vem a Rondônia lançar livro sobre o Massacre de Corumbiara
O que digo:
De onde se extraiu a informação “jornalista da CUT”? A julgar pelo texto, a informação inverídica vem de meu antigo emprego como editor-chefe da Rede Brasil Atual, saite mantido com recursos de sindicatos filiados à CUT. Não tenho nem nunca tive qualquer conexão com a CUT. Não pertenço nem nunca pertenci aos quadros da CUT. O leitor teria sido poupado da desinformação se os jornalistas de Rondônia Atualidades, News Rondônia ou Folha de Vilhena tivessem se dado ao trabalho de conversar comigo. Desafio os três saites a comprovar minha relação com a central sindical.
O que diz o texto:
O livro já foi lançado em São Paulo, em Osasco, na Igreja N. S. Aparecida, no dia 1º de maio deste ano. O evento, segundo a Editora Elefante, contou com a presença de autoridades e lideranças políticas do PT e da CUT/SP, Douglas Izzo, o deputado federal Valmir Prascidelli (PT-SP), a vereadora de Osasco, Mazé Favarão (PT) e o secretário de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo, Eduardo Suplicy.
O que digo:
Corumbiara, caso enterrado foi oficialmente lançado em 20 de julho, na cidade de São Paulo, num espaço cultural conhecido como Ateliê do Gervásio. Antes, havia sido convidado para participar de um debate sobre os vinte anos do caso Corumbiara organizado pela CUT, familiares de vítimas e setores da Igreja católica no salão paroquial da Igreja de Nossa Senhora Aparecida. Aceitei o convite com o maior prazer. O evento ocorreu em 1º de agosto — e não em 1º de maio, como diz o texto. Na ocasião, além de apresentar o livro aos presentes, debati a questão com parlamentares petistas e líderes sindicais da CUT. A mesa redonda contou ainda com a presença de Gilmar Mauro, membro da coordenação nacional do MST. Infelizmente, o secretário de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo, Eduardo Suplicy, não pôde comparecer.
O que diz o texto:
O jornalista João Peres ironiza os rondonienses, sobretudo os jornalistas e historiadores, ao afirmar na introdução do livro que ‘Rondônia tem pouca historiografia, e menos ainda jornalismo aprofundado’.
O que digo:
Trata-se de constatação, e não de ironia. Quantos são os livros publicados sobre a história de Rondônia? Quais os veículos de comunicação de Rondônia que praticam jornalismo aprofundado? Durante todas as 304 páginas de Corumbiara, caso enterrado, os rondonienses são tratados com extremo respeito. A frase foi pinçada do livro e retirada totalmente de contexto. O texto sequer se dá ao trabalho de citar que meu trabalho e o livro foram saudados por jornalistas e radialistas de Vilhena — inclusive pelo próprio diretor da Folha de Vilhena, Osías Labajos Garate, um dos veículos que reproduziu o texto apócrifo do Rondônia Atualidades — em duas oportunidades: no 1º Encontro dos Comunicadores do Cone Sul de Rondônia e na Universidade Federal de Rondônia.
O que diz o texto:
O autor acaba por isentar o PT pela sua relação com os órgãos oficiais de imprensa para qual trabalho: a CUT/SP através da Editora Gráfica Atitude. A Editora, de propriedade de Sindicatos Cutistas, recentemente foi denunciada por receber recursos de Vaccari Neto em desvio de recursos da Petrobrás.
O que digo:
Novamente, afirmo que não tenho qualquer relação com a CUT. Novamente, afirmo que trabalhei na Rede Brasil Atual, veículo de comunicação mantido pela Editora Gráfica Atitude e financiado por sindicatos filiados à CUT, por cinco anos e meio: três anos como repórter e dois anos e meio como editor-chefe. Durante esse período, realizei um trabalho crítico — e do qual muito me orgulho. Talvez o autor do texto apócrifo não saiba, porque tampouco se deu ao trabalho de querer saber, que fui sumariamente demitido da Rede Brasil Atual em 18 de novembro de 2014 precisamente porque me opus a uma virada editorial que passou a proibir críticas ao PT ou ao governo federal. Três colegas de redação, que igualmente resistiram aos desmandos da CUT, sofreram a mesma punição. Em novembro de 2014 publicamos uma carta aberta em que relatamos a questão: https://passaralhopolitico.wordpress.com/2014/12/01/o-passaralho-politico-da-rede-brasil-atual/
O autor do texto tem todo o direito de achar que eu “isentei” o PT de responsabilidade pela reparação as vitimas do caso Corumbiara. Mas não tem direito de afirmar que esse meu comportamento — que não passa de infundada suposição — se deve à minha inexistente “relação com orgãos oficiais de imprensa para qual trabalho” (sic). A Folha de Vilhena, o Rondônia Atualidades e o News Rondônia ainda se esmeram em ligar meu nome às denúncias de corrupção imputadas à Editora Gráfica Atitude e a João Vaccari Neto. Terão de provar tal “relação”.
Críticas ao livro Corumbiara, caso enterrado são mais que bem-vindas. Mentiras sobre mim, porém, serão permanentemente refutadas. Numa época de crise profunda do sistema de representação política brasileiro, o texto apócrifo tenta reduzir a uma rasteira disputa partidária os anos de trabalho, viagens, pesquisas documentais e mais de 70 entrevistas que realizei com a intenção de contar essa “história enterrada” da maneira mais completa possível — como nunca antes havia acontecido, nem dentro, nem fora de Rondônia. É extremamente injusto comigo, com todos os que colaboraram com o livro e com a memória camponesa do estado — além de ser uma tremenda perda de tempo — tentar desmerecer Corumbiara, caso enterrado não pelo que ele é, pelas informações que traz e pela narrativa que constrói, mas por minha fictícia vinculação com uma central sindical e um partido investigados por desvios de verbas públicas. A pergunta que se faz ao Rondônia Atualidades, à Folha de Vilhena e ao News Rondônia é: por que fazer isso?, em nome de quê?, de quem?