Ei, Rondônia, hoje mandamos um abraçaço! Nem em nossos melhores sonhos poderíamos imaginar tanto estardalhaço durante nossa passagem por esse estadaço, onde ajudamos a promover um desenterraço de um caso esquecidaço pelos poderosaços. Quinze dias depois, não sem algum cansaço, deixamos nosso obrigadaço!
Foi demais, né? Tudo começou meses atrás. Enquanto quebrávamos a cabeça para saber como faríamos para divulgar Corumbiara, caso enterrado na terra onde tudo começou, foram brotando amizades que desanuviaram tudinho. Em Colorado do Oeste, o professor Marcel Emeric Araújo, do Instituto Federal de Rondônia (Ifro), enfrentou a burocra-nossa-de-cada-dia para conseguir passagens aéreas que nos levassem ao Cone Sul.
Qual não foi nossa surpresa quando chegamos ao local, em 10 de setembro, e vimos um auditório lotadíssimo de estudantes, docentes e funcionários dispostos a encarar um dia todo de debates! Um começo e tanto: começaço. Muitos já tinham ouvido histórias sobre o chamado “massacre de Corumbiara”, uma reintegração de posse ocorrida na fazenda Santa Elina, e queriam compartilhá-las ao longo da prosa, que fluiu bem demais.
A estadia em Vilhena foi garantida pelos incansáveis Newton e Fraula Soares Pandolpho, que abriram as portas de casa de maneira cordial e sempre gentil. A disposição para a contação de causos e para ajudar com tudo o que fosse preciso tornou a passagem pela cidade muito agradável. Não queríamos ir embora tão cedo.
E não fomos. O convite para participar do 1º Encontro de Comunicadores da Região Sul de Rondônia, promovido pela Câmara Municipal em 11 de setembro, possibilitou uma frutífera troca de ideias com jornalistas que vivem o cotidiano local. No mesmo dia, debatemos Corumbiara, caso enterrado com alunos do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia (Unir). A turma tem pensado em uma ampla reforma curricular – e não perdemos a chance de dar uns pitacos sobre mídia independente em meio à prosa com dois sobreviventes do caso de Corumbiara que carregam no corpo e na memória as marcas da violência.
Rumamos para o centro do estado. Em Rolim de Moura, encontramos a hospitalidade e o entusiasmo de Carlos Alexandre Trubiliano, professor de História na Unir com quem vínhamos trocando figurinhas ao longo das últimas semanas. Tivemos a honra de encerrar a aula inaugural do curso de Licenciatura em Educação no Campo, voltado a formar integrantes de movimentos sociais para que atuem como professores em suas próprias comunidades.
Mais cedo, demos um pulo em Cacoal, onde conversamos com alunos do Ifro e da Escola Estadual Josino Brito. O interessante foi notar como a maioria da plateia, com cerca de duzentas pessoas, não conhecia a história ocorrida em Corumbiara, o que tornou o evento ainda mais relevante: nosso livro-reportagem tem o propósito de ajudar a fazer com que o caso seja tirado do esquecimento.
Cumprida essa etapa, subimos um cadinho até Ji-Paraná, segunda maior cidade de Rondônia. Já nos esperavam as irmãs Renata e Juliana Nóbrega, que articularam muita gente para garantir que o livro pudesse ser amplamente debatido, e a Renata Garcia, que convidou veículos de imprensa para conversar com o autor de Corumbiara, caso enterrado.
Na noite de 15 de setembro, cerca de 250 pessoas foram ao auditório da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) para um dos encontros mais produtivos durante toda nossa passagem por Rondônia. Dirigentes sindicais, integrantes de movimentos sociais, universitários, funcionários do Incra, advogados e indígenas fizeram uso da palavra e enriqueceram o evento com suas experiências e pontos de vista sobre a violência no campo.
Na Unir, na quarta-feira, 16 de setembro, os alunos da licenciatura intercultural se reuniram com o autor do livro, João Peres, para uma conversa sobre as relações entre a violência contra sem-terra e indígenas. O curso reúne representantes de mais de vinte nações indígenas de Rondônia, Mato Grosso e Amazonas, e tem como objetivo a formação de professores habilitados a atender às demandas educacionais de seus povos.
No dia seguinte, Ouro Preto do Oeste foi o palco escolhido para uma conversa sobre a questão agrária no país. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais recebeu um público formado por professores e alunos da rede pública e integrantes de movimentos sociais. Numa noite das mais agradáveis, discutiu-se a relação entre o caso de Corumbiara e a situação atual de Rondônia — depois, claro, de belos ponteios na viola caipira.
Em 18 de setembro, Ariquemes, cidade que vem experimentando crescimento rápido e preocupantes casos de violência, reuniu estudantes da rede pública estadual e do Ifro no Núcleo de Desenvolvimento Territorial do Vale do Jamari. O autor afirmou que o alto índice de homicídios do país, em especial entre os jovens e com frequência cada vez maior no interior, está relacionado a uma cultura de violência que permite o esquecimento de casos como o de Corumbiara. Nossos agradecimentos à professora Lara Cristina, da Unir, pela receptividade.
Depois de muitas andanças, foi hora de chegar a Porto Velho, quente como sempre, nas ideias e no termômetro, para sermos recebidos pela amiga Laura Massunari, que nos ciceroneou durante a estada na capital. A turma de Jornalismo da União das Escolas Superiores de Rondônia (Uniron), que vinha debatendo o livro desde que foi lançado, em 20 de julho, estava afiadíssima para uma conversa sobre os bastidores da grande reportagem e as características das iniciativas de mídia independente. A mesa-redonda montada pelos professores garantiu uma dinâmica muito bacana ao evento, arquitetado com muita antecedência pela professora Cristiane Paião.
Ufa! Chegamos a um primeiro fim de semana de descanso depois de uma jornada de poucas horas de sono e muitos debates profundos. Tomamos um banho de rio para recarregar as energias e enfrentar o dia derradeiro de conversas. Ou de não conversas. Infelizmente, uma parcela diminuta do movimento estudantil buscou inviabilizar os debates realizados na segunda-feira, 21 de setembro, no Ifro Zona Norte e no auditório da Unir Centro.
Nada que tenha manchado nossa passagem por Rondônia, dominada por debates sérios, respeitosos e construtivos, nos quais se reuniram mais de 1.500 pessoas. Com a solidariedade e o engajamento de muita gente, cumprimos o propósito de incomodar, tirar do fundo do baú, promover a memória de pessoas que merecem ser recordadas todos os anos como vítimas de um sistema injusto e desigual por essência.
Além de apresentar Corumbiara, caso enterrado aos rondonienses, fizemos questão de doar exemplares a bibliotecas locais. Assim, o livro ficará disponível para leitura a quem não conseguiu adquiri-lo.
Obrigadaço, Rondônia. Um beijaço! E nos vemos na próxima.