Conheça o processo de criação da capa de Corpos, territórios e feminismos

Por Teresa Cristina

 

Corpos, territórios e feminismos: compilação latino-americana de teorias, metodologias e práticas políticas acaba de chegar da gráfica. Já começará a ser enviado para quem comprou na pré-venda e, em breve, estará disponível nas livrarias.

A obra é inovadora ao conectar o corpo-território ao corpo-mulher. Não pelo conceito de “mãe-terra” — que inclusive é questionado em um dos ensaios. Mas sim pelo entendimento de que se a terra está doente as mulheres também estão, já que a degradação da natureza compromete toda a vida. São elas as que mais sofrem os impactos da devastação e portanto as maiores defensoras e lideranças da resistência aos projetos extrativistas.

Os feminismos em foco são os indígena, camponês, rural, decolonial, de perspectiva latino-americana e de luta comunitária. Em dezenove artigos, as autoras levantam conceitos do ancestral ao contemporâneo, relevantes no contexto latino-americano — como geografia crítica, a (re)patricalização dos territórios e geopolítica do útero —, além de abordar iniciativas e exemplos da luta feminina no continente. É um livro com um pé na academia e outro na militância, com linguagem acessível.

Quando pensamos na capa, queríamos uma ilustração que refletisse esses conceitos. Convidamos o estúdio de design Alles Blau para essa empreitada. Elas propuseram usar uma ilustração da artista mexicana Amanda Mijangos. Seu estilo de trabalho valoriza as formas e usa técnicas manuais além das digitais, e, em alguns casos, traz cores que remetem ao tingimento natural.

O primeiro trabalho escolhido pelo Alles Blau apresentava vários elementos relacionados às ideias do livro. A conexão das mulheres com a ancestralidade e a relação com a natureza, que dialoga com tradições indígenas e camponesas, representada pelo trabalho manual com o barro, por exemplo. A própria matéria-prima é associada, em várias tradições religiosas e místicas, à criação da vida, assim como as mulheres. O cacto e o sol nos lembram as paisagens quentes latino-americanas, o plano de fundo das teorias e práticas discutidas no livro.

Infelizmente, os direitos dessa ilustração não estavam disponíveis. Partimos, então, para outras possibilidades e recomeçamos a busca pela capa ideal, com a mesma artista. Amanda Mijangos embarcou na proposta, criando três novas ilustrações.

A escolhida vocês já sabem. Amanda finalizou a obra com a técnica de monotipia, um processo gráfico simples, situado num processo intermediário entre a gravura e a pintura ou o desenho. Além da técnica, a escolha das cores contribui para o aspecto artesanal e ancestral do trabalho.

Estava lá a conexão entre os corpos, diversos, e a natureza, que caracteriza o feminismo latino-americano. Uma delas gesta uma constelação, um mapa de um novo mundo. Diferentes fases da lua trazem a ideia cíclica e também remete à tradições indígenas em que os elementos da natureza são seres divinos.

Além de ser a cara de Corpos, territórios e feminismos, essa ilustração vai estar em um brinde especial: um pôster e calendário produzido pela Elefante. Priorizamos indicar datas que fossem alinhadas ao que acreditamos e priorizamos, excluindo as puramente comerciais voltadas à multiplicação infinita do lucro e da acumulação.

Todas as pessoas que comprarem o título em nossa lojinha vão receber o presente, aproveite!

Também pode te interessar