Conspirações seduzem por oferecer encanto em mundo individualista, diz Paolo Demuru

Por Eduardo Sombini
Publicado em Ilustríssima

 

Não é incomum que, depois de ver uma fake news ser desmentida, o que permaneça reverberando seja a própria informação falsa.

Para Paolo Demuru, convidado deste episódio, esse efeito é esperado e mostra que tentar enfrentar a desinformação e narrativas conspiratórias usando só dados objetivos e argumentos racionais não é suficiente.

Estratégias como a checagem de fatos são importantes, ele diz, mas podem dar ainda mais visibilidade às informações falsas ou deixar transparecer uma atitude arrogante de quem as desmente.

Doutor em semiótica pela Universidade de Bolonha, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pesquisador na PUC-SP, Demuru discute no recém-lançado Políticas do encanto: extrema direita e fantasias de conspiração os mecanismos do conspiracionismo e como as forças progressistas podem lidar com esse fenômeno.

O autor aponta que narrativas conspiratórias, além de oferecer explicações simples para problemas cada vez mais assustadores, como a catástrofe climática, permitem que as pessoas encontrem um propósito e se sintam parte de uma comunidade. Em outras palavras, proporcionam maravilhamento em um mundo competitivo e individualista.

“Teorias da conspiração oferecem respostas relativamente simples a questões muito complexas, mas também uma boa dose de maravilha contra o tédio e os desencantos do cotidiano e contra a crueza do mundo em que vivemos, que produz desigualdade, ansiedade, depressão, tédio e nos confina muitas vezes em vidas isoladas.”

Na entrevista, Demuru debate a atitude preponderante em boa parte da esquerda hoje — que, por não se desvencilhar do que ele chama de supremacismo da razão, acaba se comportando como uma estraga festa.

Para o pesquisador, afirmar “é falso que” ou “ele não” e recorrer à indignação só funciona até certo ponto: se quiser construir maiorias, a esquerda precisa apostar na esperança, disputar o encanto e usar o entusiasmo para engajar as pessoas.

“A indignação é talvez a paixão mais praticada pelos movimentos progressistas, mas é algo que nos paralisa, porque a gente se indigna diante de uma realidade, mas faz pouca coisa. A indignação não é uma paixão do fazer, é uma paixão mais relativa a um estado de alma. Uma paixão política que deveria ser mais elaborada por um discurso progressista é o entusiasmo, que te leva a fazer algo, a se entregar de corpo e alma em algum projeto, não apenas a se indignar parado com o celular na mão diante de uma notícia falsa e dizer: ‘Que absurdo, como alguém pode acreditar nisso?’.”

Ouça a entrevista:

 

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