Escrevendo uma nova história

Por Danilo Queiroz
Publicado em Jornal da USP

 

Narrar as lutas e conquistas da comunidade é um dos caminhos viáveis para escrever uma nova história. É por meio do ensino e do ativismo político que o advogado de direitos humanos Renan Quinalha, doutor pelo Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, propõe narrar e escrever uma nova história a respeito da comunidade LGBTQIAPN+. Seu doutorado, intitulado Contra a moral e os bons costumes: a ditadura e a repressão contra a comunidade LGBT, tornou-se livro e, em seguida, uma série de vídeos no Canal USP do Youtube.

Dedicado a estudar a história da comunidade, ele conta ao Jornal da USP que, por meio da escrita, consegue estimular para além do orgulho, coragem. “A capacidade de narrar essas histórias nos restitui a possibilidade de conhecer a nossa própria história e orienta as novas lutas que precisamos desenvolver para o presente”, diz ele, que atualmente é professor e coordenador do curso de Direito da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), onde também é coordenador adjunto do Núcleo Trans.

Para além de suas outras produções — Justiça de Transição: contornos do conceitoDitadura e homossexualidades: repressão, resistência e a busca da verdade História do Movimento LGBT no Brasil –, Renan agora pretende romper com a literatura especializada a respeito da temática LGBTQIAPN+. Para ele, esta literatura adota um recorte que procura em primeiro plano adotar vivências da comunidade em contextos de maior vulnerabilidade e precariedade.

Organizada por ele e por Paulo Souto Maior, professor adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a mais recente obra Novas Fronteiras das Histórias LGBT+ no Brasil promete explorar novas narrativas por meio de três fronteiras: territoriais, temporais e temáticas. A partir de 24 artigos de especialistas em diversidade do Brasil e do mundo, Renan explica que “pretende explorar a historiografia da comunidade por meio de pesquisas a respeito dessas temáticas. A ideia é compilar e divulgar esses estudos, além de trazer visibilidade, uma vez que são produzidos fora do Centro-Sul do Brasil”. O livro atualmente está em pré-venda e pode ser adquirido no site da Editora Elefante neste link.

O lançamento será em junho, mês em que se comemora o Orgulho LGBTQIAPN+, pois celebra a série de protestos da comunidade na luta por direitos e reconhecimentos sem represálias. Ocorrido em 1969 nos Estados Unidos, o movimento ficou conhecido como Rebelião de Stonewall e contribuiu para a explosão de levantes ao redor do mundo, impulsionando novas reivindicações até hoje.

“As pessoas da comunidade existem e estão em todos os lugares. Conhecer nossas histórias não representa apenas produção de conhecimento. É uma atitude antes de tudo política”, diz Renan. “Por isso, a importância de nos tornarmos cada vez mais visíveis e prestigiarmos as nossas diversidades. Celebrando isso em alerta, pois os quatro anos de bolsonarismo nos sinalizaram que ainda precisamos ainda mais avançar”, admite.

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