O vento minuano não impediu que nosso Elefante atravessasse os pampas para receber sua primeira condecoração. Quem esteve na última quinta-feira, 10 de dezembro, no auditório da OAB gaúcha, em Porto Alegre, jura de pés juntos que nosso paquiderme vestia bombacha. Alguns informes dão conta de que ele até arriscou uns pitos no palheiro do Gaudério, mas, pacifista que é, recusou duelos de facas. Melhor sentar-se em roda e beber um bom chimarrão.
Esse dia foi trilôko! A Editora Elefante recebeu das mãos da secretária-geral adjunta da OAB-RS, Maria Cristina Carrion Vidal de Oliveira, o Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo. Corumbiara, caso enterrado, que lançamos em julho, ficou em segundo lugar na categoria Grandes Reportagens, na companhia de Lucas Castro Figueiredo, vencedor com Lugar nenhum: militares e civis na ocultação dos arquivos da ditadura (Companhia das Letras), e de Renato Antonio Dias Batista, terceiro lugar com O menino que a ditadura matou (RD).
Na 32ª edição, o prêmio é um dos mais importantes do país nesta seara. É organizado desde os últimos anos da ditadura pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos, que conta com a parceria da OAB e da Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio Grande do Sul. A cerimônia foi comandada por Jair Krischke, que manja muito do tema e há décadas denuncia as violações cometidas pelo Estado.
O autor do livro, João Peres, viajou a Porto Alegre no lombo de nosso estimado mascote. No auditório da OAB, ele recordou que o caso de Corumbiara, ocorrido em 1995, é um herdeiro direto do regime autoritário. Foram os militares que garantiram uma insana distribuição de terras na Amazônia, armando a bomba-relógio que há vinte anos estourou, deixando ao menos doze mortos durante reintegração de posse na fazenda Santa Elina, no sul de Rondônia.
O jornalista afirmou que as instituições do pós-ditadura continuaram a dar guarida a violações de direitos humanos, levando a uma apuração inconclusa e a um estranho julgamento ocorrido em 2000 em Porto Velho, com a condenação de três policiais e dois sem-terra. Por fim, ele recordou que este é o primeiro prêmio de uma editora sem fins lucrativos, totalmente independente e bancada na raça, com dependência do carinho e da divulgação de seus leitores.
João recebeu também o primeiro prêmio na categoria Online, ao lado de Thiago Domenici e Moriti Neto, da Agência Página Três. A turma foi agraciada pela série de reportagens Como se absolve um policial, feita para a Agência Pública de Jornalismo Investigativo.
Já nosso Elefante, como bom respeitador das tradições locais, retirou-se ao final da noite, mateou e deitou-se no chão do galpão para apreciar umas horas de sono antes de empreender o regresso a São Paulo. Lentamente, como sempre, e com a esperança de cruzar os pampas outras vezes para receber novos agrados.