Os responsáveis pelo genocídio Yanomami devem ser responsabilizados assim como os responsáveis pelo Holocausto, defende Ricardo Abramovay, professor sênior do Programa de Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente da USP e autor do livro Infraestutura para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
“Essa é uma prioridade do presidente da República e tem que ser uma prioridade para o país. O país não vai deixar de ser pária internacional enquanto esses homens [os responsáveis pela situação dos Yanomami] estiverem inocentes. É necessário responsabilizá-los, assim como foi necessário responsabilizar os responsáveis pelo Holocausto. A humanidade vem responsabilizando muito pouco os responsáveis por situações de genocídio, nós não podemos deixar que isso permaneça”, afirmou em entrevista ao jornalista Silvio Caccia Bava, do Le Monde Diplomatique Brasil.
Ele enfatiza a utilização do termo “genocídio” para caracterizar a atuação do governo Bolsonaro tanto pela legislação brasileira quanto internacional, como tem sido apontado pela pesquisadora Deisy Ventura, coordenadora do Doutorado em Saúde Global da Faculdade de Saúde Pública, vice-diretora do Instituto de Relações Internacionais da USP e uma das organizadoras do livro Bolsonaro genocida.
“Quando há a intenção de eliminar um grupo, mesmo que isso não seja levado à prática, já existe o crime de genocídio. Isso vai ser investigado”, defende Abramovay, e destaca a obsessão de Jair Bolsonaro em se apropriar das terras yanomami com o discurso de que aquela população precisava ser incorporada à sociedade. “Já é uma caracterização daquilo que os especialistas chamam de etnocídio, ou seja, faz parte de uma mentalidade em que o diferente não pode existir”.
Liberalismo miliciano
Abramovay argumenta que a investida contra o território e a população Yanomami foi resultado de uma ação do governo Jair Bolsonaro que ele classifica como “liberalismo miliciano”, em que a lógica da exploração dos recursos naturais da Amazônia é feita com o estímulo ao poder local, que envolve autoridades leigas e religiosas que atuam fora das regras do jogo democrático. “O que está ocorrendo na Amazônia com o garimpo é uma expressão desse liberalismo miliciano”, que é a expansão das atividades econômicas com base “na violência, na milícia, no poder local etc., e não em regras e limites, que são o que constitui a vida democrática”.
O liberalismo miliciano praticado na Amazônia contou com a participação de empresários e militares, que olham para o Brasil como uma fonte de recursos minerais e agrícolas a serem explorados e vendidos a preços baixos no comércio internacional. “Essa estratégia molda uma mentalidade empresarial e faz com que as atividades econômicas estejam permanentemente na fronteira da criminalidade e frequentemente ultrapassando essa fronteira, como é o caso do garimpo, da exploração ilegal de madeira e assim por diante.”
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