Descrição
Quando soube que Foucault estaria em Berkeley, decidi aproveitar a chance e convidá-lo para vir a Claremont. Que ótima oportunidade, pensei. Poderíamos nos encontrar cara a cara com o grande homem. Os textos seriam esclarecidos pela presença do próprio autor. […] Para mim, a principal questão passou a ser como atrair uma figura tão aclamada para uma cidade universitária sem importância alguma. […] Então tive uma ideia repentina. Se eu conseguisse garantir uma visita de Michel Foucault, conduziria um experimento. Imaginei uma fórmula que talvez produzisse efeitos intelectuais […]. A minha fórmula era a seguinte: primeiro, pegue o maior intelectual do mundo, o homem que foi além da panaceia de que “conhecimento é poder” para descobrir que “poder produz conhecimento”; segundo, ofereça a esse intelectual um elixir divino, uma pedra filosofal digerível, que tenha o potencial de aumentar astronomicamente o poder do cérebro; e a mágica está feita. Eu seria o alquimista e também documentaria o experimento. A fórmula seria esta: Michel Foucault + Pedra Filosofal + Vale da Morte, Califórnia + Michael Stoneman.
— Simeon Wade
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A noite de Foucault no deserto foi uma imersão em uma experiência cuidadosamente coreografada por Wade para obter um efeito máximo. Na festa/performance de Wade, temas ocidentais — xamãs, viagens visionárias, amizade masculina — foram entrelaçados e invertidos. Talvez, essa noite absurda com um “louco” distribuindo LSD e seu parceiro tocando Stockhausen encarnaram o emergente conceito foucaultiano de amizade, algo que ele elaborou em algumas de suas últimas entrevistas como um tipo de estética da existência, envolvendo uma “arte da vida”. Foucault sugeriu essa conexão quando escreveu para Simeon em 14 de maio de 1975, propondo outra visita, mas apenas se fosse conveniente: “Acho que esses encontros não fazem sentido se não derem a todos nós um prazer intenso e recíproco e ao mesmo tempo serenidade. Temos de encontrar um jeito de fazer do principe de plaisir [princípio do prazer] um principe de realité [princípio da realidade]. Isso, penso eu, é um problema ético e político a ser resolvido nos tempos atuais”. O texto de Wade, Foucault na Califórnia, permite que você viaje junto nessa jornada ao Vale da Morte. Que sua vida seja mais rica por isso.
— Heather Dundas
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Para Foucault, assim como também para nós, o importante não é a droga em si mesma, mas a experimentação de novos modos de vida e subjetividades coletivas. Afinal, continua sendo possível inventar relações especulativas bebendo chá — e, em certos casos, pode ser até mais prudente assim. Para que isso aconteça, entretanto, o fundamental é se dedicar à criação de amizades que derretam as imposições subjetivas do capital, que as corroam por dentro e produzam a experiência de uma vida outra no próprio presente. Para experimentar uma nova subjetividade, alheia às imposições dos poderes mas potente como uma viagem psicodélica, talvez seja preciso renovar — dia a dia renovar — nossas próprias amizades ácidas.
— Felipe Melhado
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Naquela primavera de 1975, descrita por Wade, um novo modo de vida desponta no horizonte de Foucault. A alma militante nascida em Túnis continuará firme nas ruas e nas intervenções, via imprensa, mundo afora. Mas, por outro lado, o filósofo vai se dedicar também à formação de um grupo organizado em função do prazer, da boa convivência, daquilo que Nietzsche chamou de partilha da alegria — atividade que se pratica numa comunidade de amigos, num encontro entre espíritos livres.
— Tony Hara
SOBRE O AUTOR
Simeon Wade nasceu em 22 de julho de 1940, no Alabama, Estados Unidos. Após obter seu doutorado em história intelectual da civilização ocidental na Universidade Harvard, em 1970, mudou-se para a Califórnia e se tornou professor assistente na Claremont Graduate School. Depois, foi professor em diversas universidades do sul da Califórnia e trabalhou como enfermeiro psiquiátrico. Morreu em Oxnard, Califórnia, em 3 de outubro de 2017.