Descrição
Epidemiologista premiado e professor universitário, David Michaels trabalhou por anos no governo dos Estados Unidos e participou dos bastidores da regulamentação do uso de diversos produtos e compostos químicos — da sílica ao diesel, passando pelos opioides. Neste livro, o autor apresenta uma série escandalosa de histórias absurdas: toda uma prática da indústria para atrasar ou mesmo evitar legislações que protejam o público dos itens perigosos que ela coloca em circulação. Da manipulação de dados à encomenda de pesquisas que necessariamente devem apresentar os resultados desejados pelos fabricantes, Michaels expõe os negócios escusos de corporações que, em nome do lucro imediato, criaram um mecanismo de defesa apoiado em negacionismo e ciência fraudulenta, contestando estudos sérios e produzindo incertezas para se isentar da responsabilidade por mortes, adoecimentos e danos ao meio ambiente causados por suas mercadorias.
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David Michaels tem uma expertise que não existe nas graduações e pós-graduações, nem nos governos, nem entre as organizações da sociedade: ele se define como “algo próximo de um especialista em irregularidades corporativas”. Uma carreira que nem sequer inventou. Foram décadas de atuação no serviço público e na pesquisa científica que o levaram a lidar com o inevitável: a realidade. Ou melhor, a surrealidade. Os casos relatados por Michaels são tão absurdos que chegam a parecer mentira. É um acontecimento comum para especialistas em irregularidades corporativas: as fraudes criadas por grandes empresas são tamanhas que chegam a constranger quem está obrigado a investigá-las e relatá-las — um embaraço que não parece afetar os altos diretores e os pesquisadores de aluguel contratados por eles. No entanto, cada linha deste livro está fundamentada em farta documentação que expõe como essas forças econômicas manipulam evidências científicas para semear dúvidas e ocultar problemas graves. O autor parte de uma história que poderia parecer banal — concussões em jogadores de futebol americano — para provar que semear a dúvida não é obra isolada de um setor particularmente nocivo nem um acidente de percurso, mas o cerne do negócio. Michaels não tem problema em colocar no centro da roda a palavra proibida: capitalismo. “Muitos dos financiadores ultrarricos do movimento antirregulador já nascem ricos, mas consideram que seu ‘sucesso’ é fruto do próprio trabalho. A riqueza de um número substancial deles vem de contratos governamentais e de centenas de milhões de dólares em subsídios públicos. A hipocrisia é gritante. E o dinheiro gasto para promover seus objetivos é ainda mais alarmante.” O triunfo da dúvida traz a experiência de Michaels à frente da Agência de Administração de Segurança e Saúde Ocupacional do governo de Barack Obama. À diferença dos antecessores, e para nossa sorte, o autor não quis seguir o caminho tradicional de se tornar um consultor altamente bem remunerado da iniciativa privada. Ele escolheu uma trajetória mais complicada: expor as corporações que tentaram forjar a dúvida para frear, enfraquecer ou moldar políticas públicas de proteção da saúde humana e ambiental. De alimentos a opioides, de automóveis a telhas de construção, Michaels apresenta casos irrefutáveis de fraude corporativa usando a ciência. Em tempos de negacionismo climático e bombardeio informativo, este livro é um convite a respirar um pouco de ar puro e tomar uma vacina definitiva contra a manipulação da realidade.
— João Peres, na orelha
SOBRE O AUTOR
David Michaels é epidemiologista e professor da Escola de Saúde Pública da Universidade George Washington. Foi secretário-adjunto da Agência de Segurança e Saúde Ocupacional dos Estados Unidos (2009-2017) e secretário-adjunto de Meio Ambiente, Segurança e Saúde do Departamento de Energia (1998-2001). Foi também membro do comitê executivo do Programa Nacional de Toxicologia dos Estados Unidos (2011-2017). É autor de Doubt is Their Product: How Industry’s Assault on Science Threatens Your Health [A dúvida é o produto deles: como a indústria agride a ciência e ameaça a sua saúde] (Oxford University Press, 2008) e vencedor de diversos prêmios, como o Scientific Freedom and Responsibility Award (2005), concedido pela American Association for the Advancement of Sciences, e o David P. Rall Award for Advocacy in Public Health (2001), da American Public Health Association, entre outros.
