Descrição
Mirando as belas colinas do Kentucky, onde passou momentos felizes na infância, bell hooks constrói nos ensaios deste livro um itinerário da memória ao mesmo tempo que vislumbra um futuro de reconexão com a terra e com os valores transmitidos por seus ancestrais, articulando anseios pessoais a questões ambientais, de sustentabilidade e de justiça social. Naturalmente, seria impossível abordar tais temas sem considerar as políticas de raça, gênero e classe, além da violência psíquica e concreta da supremacia branca. A autora reivindica o legado dos agricultores negros do passado e do presente, que celebram a produção local de alimentos, e das artesãs de colchas de retalhos, como sua avó materna, que transmitem de geração a geração essa e outras práticas repletas de significado. Com coragem, perspicácia e honestidade, Pertencimento oferece a extraordinária visão de um mundo onde todas as pessoas — independentemente de qual lugar chamam de lar — possam ter uma vida plena e satisfatória, onde todos tenham a sensação de pertencer.
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hooks captura nossa atenção por meio de análises intimistas, honestas e, ao mesmo tempo, extremamente amplas e críticas com relação à nossa vida e ao nosso lugar no mundo. Aqui, a autora resgata a si mesma — e, sobretudo, se abre à compreensão do que significa pertencer, de quanto o racismo e o sexismo estão na raiz de sentimentos de não pertencimento e de quanto a perspectiva ancestral, intimamente relacionada a conexões com a terra, com o meio ambiente e com estéticas opositoras, nos permite a identificação e, portanto, se constitui num caminho de cuidado e cura.
— Halina Leal, no Prefácio à edição brasileira
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Pertencimento: uma cultura do lugar registra meus pensamentos sobre questões de lugar e pertencimento. Misturando passado e presente, este livro traça uma jornada em círculos, na qual dou voltas de um lugar a outro até terminar onde comecei: meu velho Kentucky. Para mim, a repetição é assustadora. Ela parece sugerir uma estática eterna. Lembra-me dos dias quentes de verão da infância, que passavam muito devagar, nos quais os mesmos padrões de rotina se repetiam sempre. Existe muita repetição neste trabalho. Ele abrange toda a minha vida. E isso me faz lembrar de como os meus antepassados contavam as mesmas histórias diversas vezes. Ouvir a mesma história faz com que nunca nos esqueçamos dela. Então conto a minha história aqui seguidamente. Fatos e ideias se repetem, porque cada ensaio foi escrito de maneira isolada — em momentos distintos.
— bell hooks, na Introdução
SOBRE A AUTORA
bell hooks nasceu em 1952 em Hopkinsville, então uma pequena cidade segregada do Kentucky, no sul dos Estados Unidos, e morreu em 2021, em Berea, também no Kentucky, aos 69 anos, depois de uma prolífica carreira como professora, escritora e intelectual pública. Batizada como Gloria Jean Watkins, adotou o pseudônimo pelo qual ficou conhecida em homenagem à bisavó, Bell Blair Hooks, “uma mulher de língua afiada, que falava o que vinha à cabeça, que não tinha medo de erguer a voz”. Como estudante, passou pelas universidades de Stanford, Wisconsin e Califórnia, e lecionou nas universidades Yale, do Sul da Califórnia, Oberlin College e New School, entre outras. Em 2014, fundou o bell hooks Institute. É autora de mais de trinta obras sobre questões de raça, gênero e classe, educação, crítica cultural e amor, além de poesia e livros infantis, das quais a Elefante já publicou Olhares negros, Erguer a voz e Anseios, em 2019, Ensinando pensamento crítico, em 2020, Tudo sobre o amor e Ensinando comunidade, em 2021, e A gente é da hora e Escrever além da raça, em 2022.