Descrição
Marion Nestle foi a primeira pessoa que me ajudou a abrir os olhos para os interesses da indústria alimentícia. Em nossa sociedade moderna, as pessoas estão buscando uma alimentação mais barata e rápida, optando por produtos ultraprocessados que a curto ou longo prazo acabam nos adoecendo, gerando lucro pras empresas e déficit nutricional para a população. Com muitos estudos pagos, resultados manipulados e profissionais da saúde inconscientemente corrompidos, criamos a noção de que cada um é responsável pelo o que consome, e de que as grandes corporações só estão aí para nos dar opção. Mas a verdade é muita mais indigesta. Neste livro, Marion mostra a relação de empresas alimentícias com estudos científicos para você conseguir se libertar das armadilhas da Big Food.
— Bela Gil
***
Ao revelar os truques de quem produz imitação de comida, Marion Nestle desperta para a importância de fazermos boas escolhas alimentares — e a urgência de voltarmos para a cozinha fica evidente. Uma investigação profunda, um livro fundamental. Viva a comida de verdade!
— Rita Lobo
***
Quando eu reunia cinco estudos desse tipo, publicava no meu site. Ao final de um ano, eu tinha 168 estudos, e 156 desses tinham resultados favoráveis aos interesses do patrocinador. Era muito difícil encontrar estudos patrocinados por uma empresa que saíssem com resultados que não fossem favoráveis aos interesses da empresa. Eu sabia que isso era um problema. Não era um estudo científico. Mas eu estava impressionada com o número de empresas alimentícias financiando estudos e usando para marketing. E também quão frequentemente os estudos eram exatamente o que queriam propagandear. Então, eu pensei: há um livro nisso.
— Marion Nestle
***
Falar de alimentação é falar de cultura, meio ambiente, relações de poder, sustentabilidade, afeto, prazer, tradição e muito mais, além do aspecto mais óbvio do impacto do que comemos na nossa saúde. Marion Nestle reúne, em Uma verdade indigesta, elementos fundamentais sobre alimentação, que desfazem a aparente confusão sobre o tema. Ao trazer essa discussão para o Brasil, certamente temos um debate mais rico para separarmos o joio do trigo.
Na atual conjuntura de concentração de poder entre os atores que controlam os sistemas alimentares da produção ao consumo, o que comemos e o que sabemos ou acreditamos saber sobre o ato de comer é fortemente determinado pelas relações de poder na sociedade. A pressão pela maximização do lucro a qualquer preço tem uma série de efeitos colaterais com sérios impactos na nossa saúde, seja do ponto de vista do efeito no nosso organismo, seja nos impactos ambientais.
Criar produtos comestíveis com ingredientes baratos, cheios de aditivos, aromatizantes, estabilizantes, espessantes, corantes, com pitadas de nutrientes para que possam ser vendidos como saudáveis, é uma das especialidades da indústria de alimentos ultraprocessados. O livro expõe essas mesmas empresas patrocinando “estudos” de produtos específicos que deveriam ser rotulados como marketing — e não como ciência.
Nenhum de nós está a salvo ou impermeável às alegações nutricionais amplamente promovidas, diretamente nos rótulos, onde são permitidas, ou por meio da disseminação de pesquisas que contribuem mais para confundir as recomendações alimentares do que para informar. O exemplo clássico é o do ovo, que de vilão da vez passou a mocinho, assim como sal, açúcar, e por aí vai.
Por muitos anos acreditei que o problema crônico de intestino preso, comum a muitas mulheres, pudesse ser solucionado tomando um determinado iogurte diariamente e, caso não funcionasse, como prometia a propaganda, poderia pedir o dinheiro de volta. Esse é apenas um, dentre inúmeros exemplos da confusão nutricional em que estamos imersos.
— Paula Johns, diretora-presidente da ACT Promoção da Saúde, no prefácio
***
Amo a ciência da nutrição. Em meu primeiro trabalho como professora, dei aulas sobre isso. Fiquei apaixonada. Até hoje, adoro o desafio intelectual de descobrir o que comemos, por que comemos, o que comemos e como as dietas afetam a nossa saúde.
Não é fácil estudar essas questões em todos os contextos que influenciam o bem-estar — genética, formação cultural, estilo de vida, renda e educação. Também tenho um fascínio infinito pela maneira como as escolhas alimentares se relacionam com muitos dos problemas mais desafiadores da sociedade — saúde é apenas o mais óbvio. O que comemos está relacionado com pobreza, desigualdade, raça, classe, imigração, conflito social e político, degradação ambiental, mudanças climáticas e muito mais.
O alimento é uma lente através da qual podemos examinar todas essas preocupações. Amo a complexidade das questões alimentícias e a paixão com a qual as pessoas tratam delas.Não amo, porém, o modo como a indústria alimentícia acrescentou uma complicação desnecessária: o envolvimento dos profissionais de nutrição em metas de marketing às vezes contrárias aos interesses da saúde pública.
Uma verdade indigesta se dedica a compreender como empresas de alimentos, bebidas e suplementos financiam pesquisadores e profissionais de nutrição, e como isso se associa com o objetivo final do lucro. O livro surge em um momento em que os escândalos criados por esse tipo de financiamento são notícia de primeira página. Mergulho de cabeça em um exemplo inesperado — e altamente surreal — de por que os tópicos deste volume devem ser importantes para todos nós.
— Marion Nestle, na introdução
SOBRE A AUTORA
Marion Nestle nasceu em 1936. É professora emérita da Faculdade de Nutrição, Estudos Alimentares e Saúde Pública da Universidade de Nova York. É também professora visitante no curso de Ciências Nutricionais da Universidade de Cornell. É autora, entre outros, de Food Politics [Políticas da comida] (University of California Press, 2002) e Soda Politics [Políticas do refrigerante] (Oxford University Press, 2015), nos quais explicita as estratégias da indústria de alimentos para criar confusão na ciência e na formulação de políticas públicas em benefício próprio. Ao longo de mais de meio século de carreira acadêmica, acumulou premiações e homenagens, como o Public Health Hero [Heroína da saúde pública] da Universidade de Califórnia em Berkeley.