Quem foram os defensores da terra Zé Cláudio e Maria?

 

Na última sexta-feira, 24 de maio, completou-se treze anos da morte de Zé Cláudio e Maria. O casal foi executado em uma emboscada nos arredores de Nova Ipixuna, no Pará. Os mandantes do crime continuam soltos — e, em boa medida, desconhecidos. Apenas um, o fazendeiro José Rodrigues Moreira, foi condenado pela justiça, mas fugiu e está com o paradeiro desconhecido até hoje.

Lutar com a floresta: uma ecologia política do martírio em defesa da Amazônia, de Felipe Milanez, aborda em profundidade a história e a luta de Zé Cláudio e Maria, os saberes produzidos por eles, e o crime que deu fim a suas vidas — mas não aos seus ideais. Treze anos depois, ambientalistas e defensores da terra no Brasil continuam sendo ameaçados e executados. Por esse motivo, seguir lembrando e reverberando seus nomes e trajetórias é também contribuir para a luta.

Maria do Espírito Santo da Silvia e José Cláudio Ribeiro da Silva foram um casal de “líderes ambientalistas populares” — como se referia Maria sobre si e seu companheiro — e extrativistas tradicionais no Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Praialta Piranheira, no Pará. Dedicaram-se a promover o convívio sustentável com a floresta e a expandir a proposta política do agroextrativismo, uma luta coletiva pela reforma agrária que mantém a floresta em pé.

Filha de migrantes do Maranhão, Maria nasceu em São João do Araguaia e passou a infância em um castanhal atravessado pelo igarapé Ubá. O pai e a mãe de Maria viviam da coleta de castanha. Casou-se, teve cinco filhos e sofreu violência na relação até conseguir o divórcio. Em 1986, conheceu José Cláudio, quando era mesária da seção em que ele votava; os dois se apaixonaram e foram viver juntos.

José Cláudio também cresceu e passou sua infância no contexto da economia da castanha. Descendia de migrantes do Maranhão (avô e pai adotivo), de família estabelecida no Pará (seu pai biológico) e de indígenas do povo Kayapó (sua bisavó materna).

Já na PAE, viviam do extrativismo da castanha, foram presidentes da Associação de Pequenos Produtores do Projeto Agroextrativista Praialta Piranheira (Apaep) e se tornaram defensores da terra.

José Cláudio já era um dos maiores interessados na ideia agroextrativista e, com Maria, assumiu a responsabilidade de liderar o desenvolvimento do projeto, mesmo diante dos desafios da regularização fundiária e da falta de apoio do Estado. Com a visibilidade e as responsabilidades, passaram a ser alvo de violência.

Maria também produziu escritos (acadêmicos e independentes) sobre temas centrais do ecologismo popular. Ela desenvolveu um pensamento original da práxis sobre a luta e a formação de sujeitos, produzindo uma poderosa autorreflexão sobre sua formação política, bem como uma sofisticada análise do sistema econômico e de poder de exploração da natureza e das pessoas, de matriz colonial.

Juntos, Maria e José Cláudio produziram ao menos dezesseis denúncias, cartas e informações sobre crimes ambientais entre 2001, quando revelaram estar recebendo ameaças de morte, e 2011, já no contexto do conflito provocado por José Rodrigues Moreira, um dos mandantes do assassinato.

Essa é só uma breve passagem por uma trajetória que segue (e deve seguir) reverberando e se transmutando em luta e conhecimento.

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