Descrição
Graças ao livro de Caio Pompeia, temos agora uma história da gênese das instituições, das associações e dos protagonistas do agronegócio no Brasil. É um guia precioso de percursos, programas e atuações de um campo político heterogêneo e continuamente em mudança.
— Manuela Carneiro da Cunha, no Prefácio
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O agro, o que é? Neste livro essencial para a compreensão do Brasil contemporâneo, Caio Pompeia esquadrinha os meandros políticos do autoproclamado setor mais importante da economia nacional. Desde a origem do conceito de agribusiness na Universidade Harvard, na década de 1950 — logo utilizado como frente de expansão imperialista pelos Estados Unidos —, até os primeiros anos do governo Jair Bolsonaro, passando pelas disputas internas entre entidades que representam o agronegócio brasileiro dentro e fora das fazendas, o autor explica em detalhes, dando nome aos bois, como o agro adentrou o Estado e impôs sua agenda ao país, com sucessivos intentos de passar o trator sobre a reforma agrária, os direitos indígenas, a preservação do meio ambiente e a vontade das urnas.
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Este livro examina a constituição e a consolidação do campo político do agronegócio no Brasil. Com perspectiva ampla, a pesquisa parte das raízes da ideia de agribusiness e chega aos aspectos socioambientais que amplificam divergências nessa heterogênea arena intersetorial.
A análise tem três camadas principais, inter-relacionadas no trabalho: líderes e instituições; programas; e relações com o Estado.
Em relação à primeira, enfatizam-se as variadas engenharias institucionais que resultaram em núcleos como a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), o Fórum Nacional da Agricultura (FNA), o Conselho Superior de Agricultura e Pecuária do Brasil (Rural Brasil), o Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Cosag/Fiesp), o Instituto para o Agronegócio Responsável (Ares), a Aliança Brasileira pelo Clima, o Instituto Pensar Agropecuária (IPA), o Conselho das Entidades do Setor Agropecuário (Conselho do Agro) e a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura.
Na segunda camada analítica, examina-se o movimento de diferenciação programática manifesto nas diversas cartas de reivindicações de cada uma das nucleações. Para isso, abordam-se questões transversais como meio ambiente, territórios de povos indígenas e populações tradicionais, trabalho rural, política agrícola, infraestrutura e relações internacionais.
Com respeito à terceira, investigam-se as múltiplas relações de atores do campo com as cúpulas do Executivo federal. Nesse aspecto, atribui-se destaque às estratégias utilizadas por distintas representações dominantes do campo com vistas ao atendimento de pleitos e à sua inserção privilegiada no processo político nacional.
A obra se fundamenta em diálogo entre a pesquisa de doutorado homônima em Antropologia Social (realizada na Universidade Estadual de Campinas, entre 2013 e 2018, e na Universidade de Harvard, em 2017) e análises posteriores (feitas no âmbito do pós-doutorado na Universidade de São Paulo, entre 2019 e 2021, com fundamento em trabalho de campo conduzido sobretudo no IPA e no Congresso Nacional, mas também na CNA e na Coalizão).
SOBRE o AUTOR
Caio Pompeia é antropólogo, pesquisador do Programa de Pós-Doutorado em Antropologia Social da Universidade de São Paulo (USP). Realizou o doutorado na Unicamp, com período como pesquisador visitante na Universidade de Harvard, e concluiu tanto o mestrado quanto a graduação na USP. Publicou, dentre outros artigos, “O agronegócio como fenômeno político no Brasil”, na Revista Brasileira de Ciências Sociais. Realiza pareceres para a American Anthropologist, a Revista de Economia e Sociologia Rural e a Horizontes Antropológicos. Pesquisa temas como agronegócio, sistemas agroalimentares, etnografia, segurança alimentar e nutricional, direitos territoriais indígenas, agrobiodiversidade, meio ambiente, Estado, políticas públicas, agricultura familiar, extensão rural e política alimentar. Participou do projeto “Populações tradicionais e biodiversidade: as contribuições de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais à biodiversidade e políticas públicas que os afetam” (USP/UFPA), e é membro do Grupo de Estudos sobre Mudanças Sociais, Agronegócio e Políticas Públicas (CPDA/UFRRJ).