Livro retoma a vida e o pensamento dos fundadores da modernidade para interpretar a nova direita brasileira
Na sexta-feira, 24 de maio, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), às 19h, acontece o lançamento do livro Discurso filosófico da acumulação primitiva: estudo sobre as origens do pensamento moderno, de Pedro Rocha de Oliveira, professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). O livro é o 128º título do catálogo da Editora Elefante.
“Um livro do barulho”, foram as palavras usadas pelo renomado filósofo Paulo Arantes para definir a obra. No lançamento, Pedro e Paulo dividem a mesa de debate, conduzindo os presentes por uma viagem à Inglaterra do século XVI, mais especificamente pelas obras e trajetória biográfica de três dos principais pensadores do Renascimento inglês. Pode não parecer, mas o papo é extremamente atual.
A partir das dimensões filosóficas, sociológicas e históricas que circundam Francis Bacon (1561-1626), considerado o inventor do método científico; Thomas More (1478-1535), criador do termo “utopia” e tornado santo pela Igreja; e Thomas Smith (1513-1577), quem primeiro cunhou o termo “civil society”, Discurso filosófico da acumulação primitiva questiona métodos de estudo da própria filosofia e ciências humanas, fazendo uma linha direta entre os ideais que fundaram o capitalismo no século XVI e a realidade política do Brasil no século XXI.
“‘Pequenos detalhes’ sobre os autores clássicos são academicamente tratados como se fossem assunto periférico, mas não são“, defende Pedro Rocha de Oliveira. “A gente aprende a tomar a filosofia como algo completamente inofensivo. Mas, assim como seus autores não foram inofensivos — na maioria, aliás, foram sujeitos realmente horríveis, pelos quais não deveríamos ter a menor simpatia —, seu pensamento também não era inofensivo lá no seu lugar e tempo de origem.”
Para Paulo Arantes, ao estudar o Renascimento inglês, o autor também escancara um fato atual e exaustivamente defendido pelo pensamento marxista: a necessidade do capitalismo de desumanizar amplas parcelas da população. “A modernidade — que se confunde com o capitalismo, a acumulação primitiva e o progresso — é uma engrenagem que obrigatoriamente precisa de uma população periférica, externa ou interna, que é descartável, isto é, matável”, diz. “Esse populacho está fora do acordo oligárquico que define uma democracia — que pertence aos experts, aos proprietários, os quais detêm o monopólio da racionalidade.”
Pedro Rocha de Oliveira explica que esse antagonismo das ideias modernas diante das “pessoas comuns” não é um acidente de percurso: é, originalmente, um projeto de classe. “O público original dos autores modernos clássicos é um público segregado, é a oligarquia inteligente, culta: eu procuro mostrar isso em Discurso filosófico da acumulação primitiva.”
No livro, o autor consegue mobilizar as conclusões sobre modernidade e o contexto dos pensadores-chave do período para interpretar a ascensão da chamada nova direita no Brasil. Entre as contradições da esquerda, o professor pontua as diferenças em relação aos partidos e movimentos políticos tradicionais, tanto conservadores como progressistas — em sua leitura, ambos herdeiros das ideologias excludentes da modernidade.
Discurso filosófico da acumulação primitiva
R$ 110
Disponível em livrarias físicas e digitais e na loja da Editora Elefante.
Serviço
Lançamento Discurso filosófico da acumulação primitiva, debate com Paulo Arantes e Pedro Rocha de Oliveira
Data: Sexta-feira, 24 de maio
Horário: 19h
Local: Auditório 14 – Prédio de Filosofia e Ciências Sociais na Universidade de São Paulo – Av. Prof. Luciano Gualberto, 315, Cidade Universitária, São Paulo-SP.