
Já não se trata de capitalismo — é muito mais perverso
Autor de uma prolífica e crescente obra dedicada ao debate socioeconômico contemporâneo, Ladislau Dowbor apresenta em Os desafios da revolução digital: libertar o conhecimento para o bem comum mais um fruto de sua inquietação intelectual. Aqui encontramos uma nova interpretação do sistema econômico vigente — que, para o autor, já não se trata de capitalismo.
“Estamos enfrentando algo muito mais perverso”, afirma. “A desigualdade hoje se aprofunda de maneira mais acelerada e com pouca base produtiva: é um sistema essencialmente extrativo que se dá à custa de uma destruição ambiental cada vez mais catastrófica.”
Uma de suas piores características é o desenvolvimento de “um controle político que destrói a democracia e, portanto, nossa capacidade de reverter o processo”. Diante de todos os atributos aqui descritos, chamar este sistema de “capitalismo” é lhe dar certo verniz de legitimidade. Por isso, segundo Dowbor, os inúmeros complementos que a teoria crítica deu ao termo nos últimos anos pouco contribuem para enfrentar as questões que despontam no horizonte.
“Como os novos mecanismos não cabem nos conceitos tradicionais de análise, lhes acrescentamos qualificativos: ‘capitalismo corporativo’, ‘capitalismo extrativo’, ‘capitalismo real’, ‘neofeudalismo’, ‘capitalismo parasitário’, ‘capitalismo rentista’, ‘capitalismo de vigilância’, ‘capitalismo cognitivo’, ‘capitalismo sem capital’”, enumera o autor, recordando ainda as ideias de “indústria 4.0”, “capitalismo canibal” e “aristocracia corporativa”.
Nem mesmo o extremamente popularizado “neoliberalismo” ajuda a compreender o que vivemos. Aqui, Dowbor faz uma autocrítica: “Seguindo essa linha de raciocínio, adotei ‘capitalismo improdutivo’. Hoje me dou conta de sua insuficiência”.
Agora, o viés interpretativo é outro: “Denomino esta nova fase de ‘revolução digital’, que gera um modo de produção rentista e uma divisão de classes diferenciada. A indústria não desapareceu, assim como a agricultura sobreviveu à Revolução Industrial. Mas o eixo estruturante se deslocou, e as várias dimensões da atual revolução, devido a suas características tecnológicas, tendem a gerar um novo sistema”.
No novo livro, como indica o próprio título, Dowbor elenca os principais desafios dessa nefasta nova ordem econômica e oferece insights sobre como podemos combatê-la.
Imagem: Leeloo The First / Creative Commons