No final de janeiro, a Editora Autonomia Literária e a Editora Elefante lançam O Bem Viver – Uma oportunidade para imaginar outros mundos, escrito pelo político e economista equatoriano Alberto Acosta. Graças ao apoio da Fundação Rosa Luxemburgo, haverá três lançamentos: dia 26 de janeiro, em São Paulo; dia 27 de janeiro, no Rio de Janeiro; e dia 28 de janeiro, em Mariana-MG, palco da maior catástrofe socioambiental da história do país. Todos os eventos contarão com a presença do autor.
Nascido em Quito em 1948, Alberto Acosta é um dos fundadores da Alianza País, partido que chegou à Presidência do Equador em 2007 após a vitória eleitoral de Rafael Correa. Foi ministro de Energia e Minas no primeiro ano de mandato, mas deixou o cargo para dirigir a Assembleia Constituinte que incluiu pela primeira vez em um texto constitucional os conceitos de plurinacionalidade, Direitos da Natureza e Buen Vivir.
Durante o trabalho constituinte, porém, Acosta rompeu com o presidente equatoriano — e seu partido — devido a desvios nos rumos do governo. Em 2013, candidatou-se à Presidência da República por uma coalizão de movimentos políticos, sociais e indígenas denominada Unidad Plurinacional de las Izquierdas. Obteve, porém, escasso apoio popular, acabando em sexto lugar nas eleições.
Lançado originalmente em 2011, no Equador, o livro foi revisado e atualizado para a edição brasileira. Em 264 páginas, Acosta trata de conceituar o Bem Viver, filosofia nascida dos conhecimentos e práticas indígenas sul-americanas. Mas não dá espaço a romantismos. Até porque, argumenta, o Bem Viver não é uma exclusividade ameríndia: encontra correspondências na sabedoria de outros povos e culturas tradicionais ao redor do mundo, como o ubuntu, na África do Sul, e também no pensamento ocidental.
O Bem Viver – Uma oportunidade para imaginar outros mundos propõe a construção de novas realidades políticas, econômicas e sociais a partir de uma ruptura radical com as noções de “progresso” e “desenvolvimento”, que são pautadas pela acumulação de bens e capital, pelo crescimento infinito e pela exploração inclemente dos recursos naturais – o que, como demonstram os climatologistas, está colocando em risco a sobrevivência dos próprios seres humanos sobre a Terra.
Até agora não houve governo à direita ou à esquerda que não perseguisse o progresso e o desenvolvimento propagandeados pelos países centrais do capitalismo – e a grande maioria deles não conseguiu nem conseguirá alcançá-lo. De acordo com Acosta, nem mesmo as experiências socialistas do século 20 se desviaram desse caminho.
Os governos progressistas que no início do século 21 chegaram ao poder em boa parte da América Latina tampouco abandonaram a miragem do desenvolvimento. Pelo contrário, aprofundaram a dependência econômica de recursos naturais, com exportações crescentes de matéria-prima, muitas vezes às custas dos direitos dos povos tradicionais.
É o que tem ocorrido no Brasil, que, após uma série de tragédias sociais diuturnamente registradas nos rincões mais afastados do país e nas periferias das grandes cidades, assistiu em 2015 à pior catástrofe ambiental de sua história: o rompimento de uma barragem da mineradora Samarco, subsidiária da Vale, em Minas Gerais, resultando na morte do Rio Doce. A contaminação não é um acidente, mas uma mera consequência do extrativismo.
Acosta lembra que não é possível enriquecer, como apregoa a retórica desenvolvimentista, depredando o próprio patrimônio natural. E, ao reconhecer os avanços sociais obtidos pelos governos progressistas, explica que apenas repetiram as conhecidas formas de produtivismo e consumismo capitalista, sem promover mudanças estruturais nas esferas política, econômica ou social. Talvez por isso conservadorismo agora avance com força na região – como já aconteceu na Argentina, Paraguai, Chile e Venezuela, e está acontecendo no Brasil.
“Necessitamos outras formas de organização social e práticas políticas”, propõe o autor. “O Bem Viver é parte de uma longa busca de alternativas forjadas no calor das lutas indígenas e populares. São propostas invisibilizadas por muito tempo, que agora convidam a romper com conceitos assumidos como indiscutíveis. São ideias surgidas de grupos marginalizados, excluídos, explorados e até mesmo dizimados.”
Com uma linguagem simples e muitas referências a pensadores consagrados e contemporâneos, Alberto Acosta revisa a história política e econômica para explicar que o Bem Viver não se trata de mais uma alternativa de desenvolvimento – não é mais um “sobrenome” do desenvolvimento, tal qual “desenvolvimento humano”, “desenvolvimento sustentável” ou “etnodesenvolvimento”. É uma alternativa ao desenvolvimento. Uma fuga ao desenvolvimento.
“Mais do que nunca é imprescindível construir modos de vida baseados Direitos Humanos e nos Direitos da Natureza, que não sejam pautados pela acumulação do capital.”