Garganta seca neste Dia da Amazônia

 

É com garganta seca, pigarro e muita angústia que chegamos ao Dia da Amazônia — efeméride de 5 de setembro criada para chamar atenção à necessidade de preservação da maior floresta tropical do planeta — cercados de notícias das últimas semanas sobre recordes de desmatamento e queimadas na região amazônica e em outros biomas brasileiros diretamente conectados a ela, como o Pantanal e o Cerrado.

Em grandes cidades do Norte, Centro-Oeste e Sudeste, se sente as consequência de recentes ondas de calor e dos “corredores de fumaça” que teriam substituído nos últimos dias os “rios voadores”, como são chamados os corredores de vapor que circulam por todo o território brasileiro, gerados pela alta umidade da floresta amazônica, e que provocam chuvas pelo país.

Enquanto somos apresentado a alguns dos efeitos de curto prazo das mudanças climáticas, do desmatamento e da perda de biodiversidade na Amazônia brasileira na rotina de moradores de grandes cidades, talvez possamos nos perguntar de forma mais concreta sobre os seus efeitos de longo prazo, uma vez que todas projeções e pesquisas sobre o Capitaloceno — época da destruição da biosfera pelo capitalismo — soam catastróficas e às vezes paralisantes.

Alguns livros e autores da Elefante se debruçam sobre a grande pergunta — o que fazer? — e apresentam os principais entraves e os possíveis caminhos para a preservação da floresta amazônica e também das nossas e de outras vidas no planeta.

Em Lutar com a floresta, Felipe Milanez narra a história de luta pela preservação da floresta amazônica que culmina no assassinato do casal de ativistas Zé Claudio e Maria — mais um dos muitos atentados que vitimam os verdadeiros ambientalistas: pobres, subalternos, indígenas, a vanguarda da preservação. Este livro narra os fatos e explica os valores sociais e ecológicos em jogo no assassinato do casal.

Escrito por Luiz Marques, O decênio decisivo reúne, com grande rigor científico, uma quantidade imensa de dados que estão na fronteira do conhecimento acerca dos impactos das mudanças climáticas sobre a vida na Terra, apontando o futuro excruciante que virá caso não rompamos com os pilares do capitalismo contemporâneo, e elencando as possibilidades de ação imediata para evitar que a catástrofe seja ainda maior. Da leitura, depreende-se que o momento presente é o mais crucial de nossa história como espécie, pois é agora que decidiremos, coletivamente, as chances de sobrevivência do projeto humano.

Na dupla de livros Amazônia: por uma economia do conhecimento da natureza e Infraestrutura para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, Ricardo Abramovay toma a Amazônia como centro do debate sobre a crise ambiental, não apenas para o nosso país, mas para todo o mundo. No primeiro livro, Abramovay demonstra que, ao dar o devido valor à maior área de biodiversidade do planeta, o Brasil tem condições de oferecer uma contribuição global fundamental na luta contra as mudanças climáticas. No segundo, o autor organiza e sistematiza propostas para a manutenção da condição inegociável para o desenvolvimento da Amazônia e para a proteção de seus povos originários e tradicionais: a de que que ela permaneça sendo Amazônia.

Por fim, em Direitos da Natureza, o sociólogo uruguaio Eduardo Gudynas analisa os caminhos conceituais e as lutas sociais para que comecemos a tratar a Natureza como sujeito de direitos, e não como mero objeto da exploração humana. O autor analisa os casos do Equador, que colocou os direitos da Natureza na Constituição aprovada em 2008, aproximando os termos Natureza e Pacha Mama; e da Bolívia, que aprovou leis de proteção da Mãe Terra. Sem abrir mão da crítica à experiência real destes e de outros países latino-americanos na gestão do meio ambiente, o autor oferece argumentos para construir uma nova ética de convívio entre seres humanos e o mundo natural. 

Quem sabe na trilha aberta por estes e outros autores possamos começar a construir uma ética de relação com a Amazônia brasileira e com a qualidade das nossas próprias vidas.

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