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Um setor reduzido do movimento estudantil rondoniense tentou inviabilizar os dois debates sobre Corumbiara, caso enterrado realizados na segunda-feira, 21 de setembro, nos campi do Instituto Federal de Rondônia (Ifro), na zona norte de Porto Velho, e da Universidade Federal de Rondônia (Unir), no centro da capital.

Com bandeiras, gritos de guerra e um arsenal bem ensaiado de certezas, os militantes – munidos da crença dogmática de que o livro-reportagem fora encomendado pelo PT para atacar uma organização que apoiam, a Liga dos Camponeses Pobres – interditaram qualquer discussão séria e aprofundada sobre o conteúdo da obra e passaram para o ataque direto contra seu autor, João Peres, tido como marionete do governo federal.

A estratégia dos jovens do Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR) contou com a conivência e participação de alguns professores do Ifro e da Unir, que ou ajudaram a entoar os vários mantras ideológicos que constrageram a plateia ou os aprovavam, quando não diretamente, com desbragados sorrisos e fotografias.

Os momentos mais embaraçosos puderam ser observados na Unir Centro. No Ifro, pouco antes, uma mesa de debates mais plural, com um repesentante do Ministério do Desenvolvimento Agrário e um professor de Geografia Agrária, além de uma tropa de choque estudantil reduzida, diluiu a algazarra. Na Unir, porém, o que deveria ter sido mais um lançamento de Corumbiara, caso enterrado promovido pela seção rondoniense da Associação Nacional de História (ANPUH) se transformou num ato de desagravo à Liga dos Camponeses Pobres.

Os exemplares ficaram esmagados num cantinho do auditório tomado por jornais e bandeiras da organização — cujos membros, movidos por sabe-se lá quais interesses, se veem alucinadamente como personagens centrais do livro e vítimas de uma campanha de criminalização conduzida por seu autor. Durante o evento, foram distribuídas cópias de um panfleto intitulado Crítica ao livro “Corumbiara caso enterrado” de João Peres/PT, que merecerá resposta específica da Editora Elefante.

Além de João Peres, a mesa de debates foi formada apenas por ativistas da organização, que fizeram uma tabelinha com a claque estudantil ao longo de três horas na tentativa de deslegitimar o livro não pelo seu conteúdo – uma vez que alguns confessaram sequer tê-lo lido – mas pelo que acreditam que ele representa: um delírio.

As perguntas repetitivas, que desconsideravam totalmente as respostas do autor, emulam uma desgastada tática do movimento estudantil bastante comum em assembleias universitárias: quando uma organização política toma a palavra e martela uma certeza até convencer a plateia – pelo grito e pelo cansaço, não pelos argumentos – com o objetivo de vencer a votação no final. É um roteiro bastante conhecido.

Não houve, porém, contabilização de votos. E a oportunidade de discutir com profundidade e pluralidade política a história e os desdobramentos do caso Corumbiara, a violência no campo, as relações promíscuas entre os poderes político e econômico e a transição incompleta do Brasil à democracia perdeu-se numa falsa, barulhenta, desgastante, inútil e pouco racional dicotomia entre mocinhos e bandidos que o livro tanto condena.

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