Queridx leitorx,
Mais um ano passou — e que ano: 2017, assim como 2016, foi um ano de muita desgraça no noticiário, mas, também por isso, de muito trabalho para a Editora Elefante: doze meses de ralação intensa, noites mal-dormidas e uma luta incessante contra preços e prazos para produzir livros que talvez não tenham grande apelo comercial, mas cuja importância social, cultural e política é induscutível.
O resultado foram nove novos títulos publicados entre fevereiro e dezembro, além de cinco reimpressões. E isso sem investidores, sem funcionários. Tantos livros nos trouxeram muitos leitores e leitoras, como você, que confiou em uma editora microminúscula e comprou um ou mais de nossos exemplares pela internet. Agradecemos demais a confiança. Isso mostra que todo nosso esforço está valendo a pena.
Começamos 2017 com Desterros, de Natalia Timerman, que trouxe uma série de relatos do hospital-prisão onde trabalha como psiquiatra — e que emocionou tanta gente com a história de Donamingo. Depois veio Cooperativismo de plataforma, de Trebor Scholz, lançado em parceria com a Autonomia Literária, que nos colocou no debate sobre Uber, Airbnb e demais baluartes da economia do compartilhamento.
Nossa contribuição nessa área teve continuidade, em outubro, com a publicação de Uberização: a nova onda do trabalho precarizado, de Tom Slee, que chegou à tribuna do Senado Federal, qualificou o debate legislativo e ajudou a fundamentar um projeto de lei sobre a regulamentação dos aplicativos no país. Em 2018, queremos trazer o autor para uma série de conferências no Brasil. Aguarde as novidades.
Em julho, mais de seiscentas pessoas assistiram aos eventos com Silvia Federici em São Paulo e Rio de Janeiro. A feminista italiana veio ao país para o lançamento de Calibã e a bruxa, que publicamos em parceria com o Coletivo Sycorax e com o apoio da Fundação Rosa Luxemburgo.
Se você está recebendo esta carta pela primeira vez, é muito provável que tenha chegado até a Editora Elefante graças ao livro da Silvia — que ficou lindo, né não? Apesar de tratar da onda de perseguição às mulheres durante a transição do feudalismo para o capitalismo, na Europa, e durante a Conquista da América, as teses de Calibã e a bruxa são demonstradas todos os dias, ainda hoje, no Brasil e no mundo, em cada ato de violência doméstica e feminicídio.
Em novembro, pudemos constatá-las quase que literalmente quando manifestantes de extrema-direita queimaram uma bruxa de pano com o rosto da feminista norte-americana Judith Butler em protesto contra sua participação em um seminário sobre democracia no Sesc Pompeia, em São Paulo. Tempos estranhos, estes.
Branco vivo, de Antonio Lino, saiu da gráfica em agosto. O livro retrata um pouco do Brasil, dos brasileiros e das brasilidades encontradas pelos doutores e doutoras — sobretudo cubanos — que aderiram ao programa Mais Médicos e se espalharam pelos rincões do país com a missão de levar atendimento de saúde a pessoas que muitas vezes jamais haviam passado por uma consulta. A edição ganhou as imagens do renomado fotógrafo Araquém Alcântara. Ficou uma maravilha que só. Se você ainda não viu, tem que ver.
Setembro e outubro foram meses de livros de intervenção no debate público. Além de Uberização, lançamos com a Autonomia Literária Empresas alemãs no Brasil: o 7×1 na economia, de Christian Russau, que traça o longo histórico de espoliação do capitalismo germânico no país, começando com as parcerias entre Dom Pedro II e a siderúrgica Krupp, passando pela colaboração da Volkswagen com o regime militar e pelos acordos nucleares brasileiros com ex-oficiais nazistas, até chegar no negócio de seguros e resseguros da Usina Hidrelétrica de Belo Monte: um golaço jornalístico essencial para compreendermos o quanto ainda somos colônia.
Outro título que veio ao mundo neste período foi Cuba no século XXI: dilemas da revolução, organizado por Fabio Luis Barbosa dos Santos, Joana Salém Vasconcelos e Fabiana Rita Dessotti, com prefácio de Frei Betto. O volume que produzimos sobre os impasses contemporâneos do socialismo caribenho foi muito especial pra nós, pois, pela primeira vez, financiamos um livro inteiramente com a colaboração antecipada dos leitores. Quatrocentas pessoas confiaram nos autores e na Editora Elefante e contribuíram com a arrecadação de fundos pela internet comprando exemplares em pré-venda. Em troca, puderam escolher a capa. Muito obrigado, gente!
Como agradecimento adicional, antecipamos uma grande novidade: em 2018 traduziremos e publicaremos uma obra importantíssima sobre um período triste da cultura cubana conhecido como quinquenio gris, marcado pela perseguição a artistas, intelectuais e homossexuais. Assim, acreditamos colaborar para uma avaliação mais aprofundada sobre esse grande episódio da história latino-americana que foi e que é a Revolução Cubana, e que completará sessenta anos em 2019.
Novembro assistiu à inauguração da coleção de antropologia da Editora Elefante, Fundo & Forma, com o lançamento de Do corpo ao pó: crônicas da territorialidade kaiowá e guarani nas adjacências da morte, de Bruno Martins Morais, vencedor do Prêmio Anpocs de Teses Acadêmicas 2016. Triste e, ao mesmo tempo, belo, o livro procura compreender como os Kaiowá e Guarani lidam com a morte no contexto de violência extrema do Mato Grosso do Sul. A edição ganhou as fotos de dois jornalistas que acompanham de perto a luta dos povos brasileiros pelo seu pedaço de chão contra o avanço do agronegócio e do desmatamento: Lunaé Parracho e Ruy Sposati. O lançamento em São Paulo contou com um show do Ruspô, que arrancou lágrimas da gente com suas canções sobre a injustiça que assola o país.
Em dezembro, mais uma vez, fechamos o ano com poesia. Publicamos os versos de estreia de Lucas Bonolo, compilados na edição dupla e infinita de Gaia primavera: o amor vai à guerra, um grito pela rebeldia contra o absurdo que se tornou viver.
Também fizemos uma festinha de final de ano. Fomos recebidos pelo Presidenta Bar & Espaço Cultural, na Rua Augusta, e botamos pra quebrar com o pocket show de Eva Figueiredo, Paulo de Tarso L. Brandão e Guilherme Kafé, com a discotecagem do DJ Renato Brandão e com as latinidade do Cumbia Calavera. Foi incrível! Gostamos da coisa. Ano que vem, se chegar vivos até o final de 2018, teremos mais momentos de confraternização.
Enfim, estamos exaustos, exaustos, exaustos. Porém, tremendamente felizes. Em 2017, apesar de todos os pesares, nossa manada cresceu um bocado — e isso é maravilhoso! Nunca tivemos tantos elefantes caminhando conosco pelas trilhas tortuosas e cheias de armadilhas do pequeno mundo editorial brasileiro.
Em meio a condições injustas nas livrarias, dificuldades de distribuição, custos crescentes de gráfica, papel e Correios, continuamos produzindo livros bonitos que precisam ser lidos, e não apenas vendidos para gerar lucro. Seguiremos assim. Mas, claro, não faremos nada sozinhos. Queremos ser cada vez mais interdependentes de você. Venha conosco!
As novidades, você já sabe onde encontrá-las: em nosso saite e blogue, sempre atualizados (www.editoraelefante.com.br), ou em nossas páginas de Facebook (www.fb.com/editoraelefante) e Instagram (www.instagram.com/editoraelef
Obrigadíssimo, mais uma vez. Sairemos para um merecido descanso entre 20 de dezembro e 10 de janeiro. Nos vemos em breve.
Muitos beijos e abraços.
Dos paquidermes,
Bianca Oliveira
João Peres
Leonardo Garzaro
& Tadeu Breda