O advogado Carlos Eduardo Pietrobon está preso em Porto Velho sob acusação de participação em esquema de desvio de recursos da prefeitura de Vilhena, no sul de Rondônia. Pietrobon foi detido pela Polícia Federal no último dia 15 de agosto na esteira da Operação Stigma, que apura corrupção envolvendo verbas da União enviadas ao município.
Pietrobon, que não fazia parte da administração do prefeito Zé Rover, é suspeito de montar um “governo paralelo” em seu escritório de advocacia, segundo noticiou a imprensa local. O Ministério Público Federal diz que Zé Rover e alguns secretários chegavam a despachar diretamente no espaço. O advogado sempre fez questão de ressaltar publicamente as boas relações que mantinha com o prefeito.
O filho dele, Bruno Pietrobon, foi chefe de gabinete de Zé Rover e também está preso no Centro de Correição da Polícia Militar em Porto Velho, para onde os dois foram levados, já que em Vilhena não há celas de prisão especial — privilégio a que advogados têm direito. Ambos apresentaram pedido de habeas corpus à Justiça Federal para que possam responder ao processo em liberdade. Além deles, foi detido Gustavo Valmórbida, ex-secretário de Governo.
A Operação Stigma teve início em julho com a apreensão de documentos em uma empresa que presta serviços à prefeitura. Nas últimas semanas, foram descobertas conexões ilegais entre a administração pública e outras duas pessoas jurídicas. Antes da prisão dos Pietrobon e de Valmórbida, a Polícia Federal prendeu Nicolau Júnior de Souza, assessor de Zé Rover, visto como a conexão entre as várias pontas do esquema de desvio.
Histórico
Pietrobon foi advogado da maior parte dos policiais militares levados a julgamento pelo caso conhecido como “massacre de Corumbiara”. Ele dividiu a defesa com Cícero Dantas e Lídio Luís Chaves Barbosa, que também atuam na região. Em entrevista concedida em abril de 2014 a João Peres, autor de Corumbiara, caso enterrado, Pietrobon afirmou ser injusta a condenação dos soldados Airton Ramos de Morais e Daniel da Silva Furtado. A leitura é de que não havia provas da autoria dos crimes cometidos em 9 de agosto de 1995 durante reintegração de posse na fazenda Santa Elina, no sul de Rondônia, que resultou em doze mortes.
Pietrobon é integrante da velha guarda da advocacia rondoniense. Está entre os profissionais liberais que se mudaram ao estado nos anos 1970, com a explosão migratória provocada pela ditadura, que acabou por desembocar na emancipação territorial no começo da década de 1980. “Você vem de lá, vende tudo o que tem. Vem para cá e fica maravilhado. Se instala aqui. Você não vai mais embora. Os desafios são outros. Em São Paulo a concorrência é pesada, só sobrevive quem é rei. Aqui é diferente. Você tem relações mais próximas, é um troço pequeno. É melhor para trabalhar”, contou.
“Eu não defendo bandido. Eu defendo o direito à mais ampla defesa. Não defendo a criminalidade”, acrescentou. “Isso você vai observar em advogado antigo. Matou a mulher, é bandido. Não, espera aí. Por que você matou a mulher? Você tem que explorar o que aconteceu. Matou a mulher porque estava na cama com outro. Opa, aí é violenta emoção. Não estou defendendo o fato de você matar sua mulher, mas temos que ver o que aconteceu para saber se é inocente, se é culpado. Quem vai julgar é o juiz, é o jurado, não somos nós.”