A cor da fé

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A cor da fé:
“identidade negra” e religião
Autor: Rosenilton Silva de Oliveira
Edição: Tadeu Breda
Assistência de edição: Luiza Brandino
Preparação: Fábio Fujita
Revisão: Adriana Moreira Pedro
Capa: Aline Bispo
Diagramação: Daniela Miwa Taira
Direção de arte: Bianca Oliveira
Lançamento: outubro de 2024
Páginas: 270
Dimensões: 13,5 x 21 cm
ISBN: 9786560080515

Descrição

Não há aqui a pretensão de analisar a “religião em si” (suas cosmologias, rituais e liturgias) nem os processos de adesão dos atores a determinado regime de crença, mas sim de investigar como alguns líderes religiosos estabelecem para si a questão da “identidade negra”, como a interpretam e lidam com o preconceito, a discriminação e a exigência de ações afirmativas. Dito de outro modo, a reflexão ora apresentada aborda como são elaborados, no interior do campo religioso (nos segmentos aqui selecionados: afro, católico e “evangélico”), termos de identificação étnico-racial e a consequente apropriação de sinais diacríticos constitutivos dessa identidade, os chamados “símbolos da herança africana no Brasil”. […] aqui não nos interessa saber o que é a “identidade negra” para este ou aquele grupo, e sim como o uso de determinada categoria põe atores em relação, permite estabelecer consensos e produz ações políticas. […] o objetivo principal é observar de que modo alguns líderes religiosos (afro-brasileiros, católicos e evangélicos) estabelecem a relação entre opção religiosa e “identidade negra” e manipulam essa relação “internamente” ao campo religioso (por meio de ações de proselitismo ou de construções teológicas, como a “teologia negra”), justificando “externamente” aos gestores públicos suas demandas por políticas voltadas aos segmentos religiosos específicos, como os “povos tradicionais de matriz africana”. […] Esses três segmentos religiosos parecem apontar diferentes formas de diálogo entre religião e “identidade negra”. As religiões afro-brasileiras (sobretudo o candomblé) se aproveitam de uma herança dada pela própria constituição do campo e se impõem no espaço público como representantes por excelência da “cultura negra”, com o patrocínio de políticas públicas (como tombamento de terreiros, políticas de patrimonialização etc.). O catolicismo, por sua vez, vem se apropriando desses valores religiosos do mundo afro traduzindo- os em seu próprio campo religioso (por meio das liturgias inculturadas), como forma de estender sua mensagem para a comunidade negra. Por fim, os evangélicos se põem no extremo oposto às religiões afro-brasileiras, pois alguns de seus membros tentam romper com o universo afro-brasileiro (demonizando suas práticas e crenças), enquanto outra parcela procura construir uma identidade negra que não passe pela valorização dos símbolos da “negritude”.

— Rosenilton Silva de Oliveira, na Introdução

 

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Unindo larga experiência de trabalho de campo com as comunidades católicas, de terreiro e evangélicas a uma análise cuidadosa e atenta aos discursos e práticas de seus interlocutores, Rosenilton nos apresenta uma reflexão aprofundada sobre as disputas simbólicas e políticas em torno das práticas de origem negro-africana no Brasil contemporâneo. […] A complexidade das narrativas e práticas presentes nesses campos exige uma cuidadosa exegese por parte do analista, que deve a todo momento pôr em perspectiva a fala de seus interlocutores em relação ao contexto de suas enunciações. E esse trabalho exaustivo foi feito com rigor, excelência e acuidade por Rosenilton Silva de Oliveira que, partindo de seus diálogos com sacerdotes, padres e pastores, e de sua observação e participação em terreiros, missas afro, cultos evangélicos e encontros inter-religiosos, buscou delinear um horizonte de consensos difíceis, em que conceitos aparentemente fixados na literatura acadêmica, como “identidade”, “cultura” e “negritude”, se tocam para logo desvanecer no ar e anunciar novos desafios impostos continuamente à fé e a suas cores.

— Vagner Gonçalves da Silva, na Apresentação

 

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A cor da fé — povoado de personagens e de instituições governamentais, civis e religiosas — nos mostra que as religiões não produzem apenas legitimação da ordem social estabelecida, mas que elas podem produzir também questionamentos e resistência. As religiões são porosas às mudanças históricas da sociedade, e as lideranças religiosas antirracistas aqui apresentadas (cada qual com sua especificidade) contribuem para que, em nosso país, a defesa da laicidade do Estado e a valorização da diversidade religiosa possam ser dois lados da mesma moeda. Revelando múltiplas dimensões da vida social no Brasil, o trabalho de Rosenilton Silva de Oliveira torna-se uma referência obrigatória para maior compreensão da questão racial e, também, para todos os que se interessam pelas mutantes relações entre religião e política em nosso país.

— Regina Clélia Reyes Novaes, no Prefácio

 

 

SOBRE O AUTOR

Rosenilton Silva de Oliveira é docente no Departamento de Administração Escolar e Economia da Educação e no Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). É doutor em antropologia social pela USP e pela École de hautes études en sciences sociales (Ehess). Foi professor visitante no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (Portugal) e docente convidado no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Lueji A’Nkonde (Angola) e no mestrado em estudos brasileiros da Universidade de Salamanca (Espanha). Coordena o Fateliku, grupo de pesquisa sobre educação, relações étnico-raciais, gênero e religião. Atualmente desenvolve pesquisa sobre educação, religião e políticas públicas com recorte étnico-racial.