Descrição
A historiadora Emília Viotti da Costa dizia que a América Central é uma caricatura da América Latina. Ou seja: os traços que caracterizam o subcontinente se observam no istmo de maneira exagerada. Esse “exagero” não é uma condição fortuita, mas produto de uma história marcada pela colonização europeia entre os séculos XVI e XIX, pelos processos de independência, pela projeção imperial dos Estados Unidos e pelas diversas formas de resistência de comunidades originárias, camponesas e urbanas. […] Com o fim da Guerra Fria, a tensão entre revolução e contrarrevolução se dissipou. Se a América Central continua a revelar a América Latina em seus extremos, apontando tendências, o que a região nos revela sobre nós e o mundo na atualidade? Este livro parte da premissa de que a América Central é um pedaço da história e do presente latino-americano que tem muito a nos ensinar. É uma região que precisa ser conhecida por si mesma, mas também porque condensa dilemas que atravessam o Brasil e o mundo. A América Central oferece um prisma dramático, mas necessário, para pensar desafios e dilemas da contemporaneidade. […] A América Central condensa dilemas da contemporaneidade, mas também engendra múltiplas lutas por um mundo em que caibam muitos mundos. Se a revolução clássica saiu da agenda, outros mundos habitam em uma miríade de resistências territoriais, frequentemente protagonizadas por populações originárias que cultivam formas de vida não capitalistas, informadas por relações holísticas entre os seres humanos e a natureza. Na América Central, há um tesouro de experiências necessárias para o futuro do mundo — mas também pairam a repressão e a morte provocadas por esta luta pela vida. […] Desde o final do século XX, a diplomacia brasileira focalizou a América do Sul em detrimento da América Latina. […] Nossa perspectiva é diferente: entendemos que a atualidade da noção de América Latina deriva de um passado comum que se reatualiza nos dilemas do presente. Como dizia o cubano José Martí, temos de nos conhecer como quem vai lutar juntos. Este livro pretende fortalecer o conhecimento que fecunda a luta que nos irmana — na esperança de que um dia, por trás de qualquer caricatura, revele-se um sorriso.
— Os organizadores, na Introdução
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Introdução
História & Memória
1. Entre a independência e o imperialismo
2. Revolução e contrarrevolução na Guerra Fria
3. Genocídios na Guatemala e em El Salvador: entre a memória e o apagamento
4. A ocupação estadunidense no Panamá: seus marcos de memória e esquecimento
Economia política
5. O Canal do Panamá: história e contemporaneidade
6. A Suíça centro-americana: excepcionalidade e contraexcepcionalidade costa-ricense
7. A vocação exportadora das economias centro-americanas
8. Sangria de recursos e superexploração da força de trabalho
9. A formação do enclave maquilador
10. Padrões migratórios e remessas: Guatemala, Honduras e El Salvador
11. A reorganização do corredor migratório: Panamá, Costa Rica e Nicarágua
12. O Estado capturado
13. Padrão de reprodução neoliberal e dominação burguesa
14. Quem lucra com a violência?
15. Formas da violência no norte da América Central
16. A militarização da vida
17. Indústria do turismo na Costa Rica e suas contradições
18. Bitcoin como moeda em El Salvador
Resistências
19. Guna Yala: o povo das montanhas que vive no mar
20. Tinta verde sobre a terra: extrativismos e ecoutopia na Costa Rica
21. Paradoxos de uma pequena república conservacionista
22. Autonomia na Costa Caribenha da Nicarágua: os territórios de povos indígenas e afrodescendentes
23. Da teologia da libertação ao neopentecostalismo: alianças religiosas do orteguismo
24. Honduras negra: uma breve imersão em terras garífunas
25. Por que assassinaram Berta Cáceres?
26. O CCDA e a organização popular do campesinato indígena
27. O bordado como resistência em comunidades indígenas: Panamá e Guatemala
28. Por que construir outro aeroporto em El Salvador?
29. A imprensa em El Salvador enfrenta um assédio constante, mas tudo vai piorar
Política contemporânea
30. Causas da invasão norte-americana do Panamá, 20 de dezembro de 1989
31. Como interpretar a eleição de Rodrigo Chaves na Costa Rica?
32. Esquerdas da paz
33. Como o sandinismo desembocou no orteguismo na Nicarágua
34. Anatomia política do orteguismo
35. Entrevista com Monica Baltodano
36. Como foi o golpe em Honduras em 2009?
37. Como o progressismo voltou ao governo em Honduras?
38. Guatemala e a democracia que o terror pariu
39. Como foram os governos do FMLN em El Salvador?
40. The Philosopher King: Nayig Bukele e a inaudita felicidade da mano dura
Conclusão
Paradoxos, contradições e fios de esperança
SOBRE Os ORGANIZADORES
Fabiana Rita Dessotti é professora da área de Relações Econômicas Internacionais do Departamento de Relações Internacionais da Unifesp e membro do programa de extensão Realidades Latino-Americanas.
Fabio Luis Barbosa dos Santos é professor da Unifesp e do Prolam-USP. Autor de Uma história da onda progressista sul-americana (Elefante, 2019) entre outros livros. Participa do Berta Coletivo Latinoamericanista.
Patrícia Sposito Mechi é historiadora, professora do Ciclo Comum de Estudos e do Programa de Pós-Graduação em Integração Contemporânea da América Latina, da Unila. Dedica-se a temas como ditaduras na América Latina, terrorismos de Estado, disputas pela memória e resistências populares.
Vitor Wagner Neto de Oliveira é professor titular em História na UFMS Campus Três Lagoas, onde leciona a disciplina de História da América Latina Contemporânea e coordena o Núcleo de Documentação Histórica.
