Descrição
Neste livro, o historiador Rafael Domingos Oliveira analisa autobiografias de escravizados produzidas entre as décadas de 1770 e 1890, sobretudo na América do Norte. O objetivo é amplificar e difundir essas vozes, recuperando em suas narrativas aspectos do cotidiano e a maneira como os horrores do escravismo atravessam a construção da subjetividade dessas pessoas, bem como a importância de seu protagonismo na ação de registrar as próprias trajetórias. Uma importante contribuição à compreensão das memórias da escravidão e da liberdade.
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A vida dos africanos não se limitou à escravização e à destruição de suas formas anteriores de organização social. Ultrapassada a experiência marcante da travessia do Atlântico, milhões de vidas foram reinventadas mesmo sob condições terrivelmente adversas. Novas devoções, formações familiares, línguas, novos alimentos: tudo estava por ser feito nas diferentes formas de resistência mobilizadas para a sobrevivência. E sobreviver era a maior resistência, sem mencionar que o aprendizado da narrativa da própria história em moldes compreensíveis aos interlocutores que se pretendia alcançar era uma prova inegável de vitalidade. […] O autor não se deixou intimidar pela fonte inusitada no ambiente dos historiadores profissionais no Brasil e encarou assuntos sobre os quais autores abalizados pareciam já haver dito tudo, como é o caso dos significados da liberdade para quem os construiu. Enfrentar esses desafios são a prova de maturidade intelectual que Rafael nos dá. Se essa prova serve para habilitá-lo no ofício, o livro também traz ao leitor uma escrita fina, bem construída e prazerosa. Os maus escritores que me perdoem, mas escrever bem é tarefa da qual o historiador não deve descuidar. Leitor, adentre sem medo, que o livro é bonito demais!
— Jaime Rodrigues, no Prefácio
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O intento de Rafael — que, diga-se de passagem, se efetiva com classe —, ao estudar a autobiografia de escravizados nos Estados Unidos, cumpre dupla função: estudar a gênese da contradição fundante da modernidade capitalista no interior daquela que se tornará a principal potência econômica mundial em meados do século xx e, como derivação, nos permitir acesso a um debate de forma e conteúdo relacionado a um dos mais importantes instrumentos de reorganização e insurgência da diáspora negra: a escrita em primeira pessoa. […] Em seu primeiro livro, Rafael Domingos Oliveira se consagra como um dos grandes nomes da historiografia desde o Sul para o mundo. Com o passado de luta feita por homens e mulheres escravizados tão bem complexificado por Rafael, temos mais elementos para interpelar o presente, com um horizonte de possibilidades mais digno e emancipado.
— Márcio Farias, na Apresentação
SOBRE O AUTOR
Rafael Domingos Oliveira é historiador e educador, mestre em história pela Universidade Federal de São Paulo e doutorando em história social pela Universidade de São Paulo. Autor de artigos e capítulos de livros sobre escravidão, abolição e relações raciais nas Américas, foi coordenador do Núcleo de Educação do Museu Afro Brasil e professor da rede pública. Atualmente é pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Afro-América (Nepafro) e coordena o Núcleo de Acervo e Pesquisa do Theatro Municipal de São Paulo.