Partiu de um movimento social o ataque mais feroz e sem fundamentos contra Corumbiara, caso enterrado, seu autor, João Peres, e a Editora Elefante. Não chega a surpreender: enquanto redigíamos e editávamos o livro, sabíamos do incômodo que surgiria entre os que procuram uma leitura de fácil digestão, polarizada entre heróis e vilões, ao estilo das telenovelas.
As tentativas de deslegitimar nosso trabalho apareceram exatamente no primeiro e no último dias da turnê rondoniense de lançamentos e debates sobre a obra: 10 e 21 de setembro. Ambas tentaram vincular o autor do livro ao PT e à CUT como estratégia para desacreditar uma investigação jornalística profunda, ampla e plural que se traduziu no mais completo trabalho já publicado sobre a história e os desdobramentos do chamado “massacre de Corumbiara”.
A primeira onda de mentiras foi trazida à tona por veículos da imprensa de Rondônia: Rondônia Atualidades, News Rondônia e Folha de Vilhena. As novas acusações são igualmente inverídicas ao tentar conectar o autor do livro, João Peres, ao Partido dos Trabalhadores. O texto, porém, não é apócrifo: está assinado por uma organização chamada Liga dos Camponeses Pobres.
Tomamos conhecimento da existência do panfleto ao entrar no auditório do campus central da Universidade Federal de Rondônia (Unir), em Porto Velho, palco de nosso último evento no estado, após duas semanas de conversas frutíferas e respeitosas sobre o livro-reportagem, com participação e intervenção de vários segmentos da sociedade: estudantes, professores, indígenas, militantes, camponeses, religiosos etc.
Como confiamos na inteligência e no discernimento de nossos leitores, reproduzimos, aqui, como fizemos da primeira vez, mais esse ataque. Abaixo, rebatemos ponto a ponto as inverdades trazidas pelo panfleto. Lembramos que críticas a Corumbiara, caso enterrado são mais que bem-vindas. Tentativas de diminuir nosso trabalho com ofensas e mentiras serão sempre – e devidamente – repelidas.
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O que diz a Liga dos Camponeses Pobres:
Crítica ao livro Corumbiara, caso enterrado, de João Peres/PT
O que dizemos:
O texto se refere quatro vezes ao autor de Corumbiara, caso enterrado como “João Peres/PT”, inclusive no título. Não existe qualquer relação ou vínculo de qualquer natureza entre o autor de Corumbiara, caso enterrado e o Partido dos Trabalhadores. Tampouco há qualquer relação ou vínculo de qualquer natureza entre a Editora Elefante, que publicou o livro-reportagem, com a sigla petista. Trata-se de uma obra e uma editora autônomas e independentes, viabilizadas por recursos próprios, obtidos com muita dedicação. Desafiamos a Liga dos Camponeses Pobres a comprovar nosso pertencimento ao PT ou a qualquer outro partido, movimento social ou central sindical.
O que diz a Liga dos Camponeses Pobres:
O livro Corumbiara, caso enterrado está sendo lançado em todo o Brasil com ampla cobertura dos monopólios da imprensa.
O que dizemos:
Infelizmente, Corumbiara, caso enterrado não está sendo lançado em todo o Brasil. Tampouco recebeu ampla cobertura dos monopólios de imprensa. Houve, até agora, lançamentos em apenas três estados: São Paulo, Distrito Federal e Rondônia. Tanto o autor como a Editora Elefante têm muito interesse em apresentar o livro-reportagem pelos quatro cantos do país. Contudo, os exemplares estão prestes a se esgotar. E, mesmo que não estivessem, não temos recursos para bancar tamanha turnê. Dependemos de convites institucionais, como ocorreu em Rondônia, onde recebemos apoio do Instituto Federal de Rondonia (Ifro) de Colorado do Oeste para as passagens aéreas e de uma ampla e desinteressada rede de solidariedade que viabilizou nosso alojamento nas cidades por onde passamos. Coincidências também podem viabilizar o lançamento do livro em outros estados, como ocorreu em Brasília, quando o autor aproveitou uma viagem a trabalho e articulou, com apoio de amigos e colegas de profissão, um pequeno evento na capital federal. Estamos abertos a propostas para espalhar Corumbiara, caso enterrado por outros cantos do país. Temos conversações em andamento para participar de debates sobre o livro em Minas Gerais e Rio de Janeiro. Quanto à cobertura midiática, conseguimos, com grande esforço de divulgação, fazer com que Corumbiara, caso enterrado recebesse a atenção de vários veículos de imprensa, em sua maioria, de circulação regional. Nenhum deles, porém, pode ser considerado parte dos monopólios de imprensa. Os grandes meios de comunicação ficaram sabendo do livro, porque os avisamos, mas não se interessaram em noticiá-lo. Tampouco se interessaram em noticiar o aniversário de vinte anos do “massacre de Corumbiara”. Pode-se encontrar no saite da Editora Elefante uma lista dos veículos de mídia que deram espaço ao livro – e também nossa crítica ao desinteresse dos grandes e dos pequenos meios de comunicação que em 9 de agosto de 2015 preferiram “esquecer” do conflito que deixou ao menos doze mortos na fazenda Santa Elina.
O que diz a Liga dos Camponeses Pobres:
Já na contra capa, se auto proclama “uma nova chance de se conciliar com a realidade” e na página 15, promete honestidade e imparcialidade.
O que dizemos:
Em nenhum momento Corumbiara, caso enterrado promete imparcialidade. Promete, sim, honestidade com o leitor. Nem o autor nem a Editora Elefante acreditam no conceito de imparcialidade: uma abstração impossível, inalcançável, uma vez que qualquer escolha já denota, por si só, interesse, visão de mundo, subjetividade: parcialidade. A imparcialidade não existe porque o ser humano não é imparcial. Já a honestidade do autor se reflete na tentativa de ouvir representantes de todos os lados envolvidos na história e nos desdobramentos do chamado “massacre de Corumbiara”. Infelizmente, muitas pessoas e organizações se recusaram a conceder entrevistas. Uma delas foi a Liga dos Camponeses Pobres, que, apesar dos inúmeros pedidos do autor para que fosse recebido por dirigentes do movimento para uma conversa franca e aberta, preferiu manifestar-se por e-mail – o que prejudica enormemente a comunicação. Outros que se recusaram a conversar foram membros e comandantes da Polícia Militar de Rondônia, grandes proprietários de terra da região, o juiz Glodner Pauletto, que expediu o mandado de reintegração de posse da Santa Elina, o ex-governador Valdir Raupp, hoje senador, e seus colaboradores mais próximos à época dos fatos. Quem decidiu falar foi plenamente ouvido. Os entrevistados tiveram suas versões respeitadas, mas também foram expostos a contradições. Até agora, nenhum deles iniciou campanhas difamatórias contra o livro, como está fazendo a Liga dos Camponeses Pobres.
O que diz a Liga dos Camponeses Pobres:
As páginas escritas por João Peres, certamente com a supervisão de alguns quadros do PT, são tendenciosas.
O que dizemos:
Não houve qualquer supervisão de quadros petistas nem de nenhum outro partido, movimento social, central sindical ou grupo político durante todo o processo de apuração, escrita, edição e publicação do livro. Novamente, desafiamos a Liga dos Camponeses Pobres a comprovar tamanho delírio.
O que diz a Liga dos Camponeses Pobres:
Apesar de criticar o latifúndio, o ex-governador Valdir Raupp (PMDB) e alguns oficiais das polícias, apresentando dados concretos, esmiuçando a farsa da investigação e julgamento, faz isso para confundir e esconder seu verdadeiro objetivo: atacar a luta camponesa combativa e defender o PT e o oportunismo.
O que dizemos:
O objetivo de Corumbiara, caso enterrado está expresso na Introdução do livro e nas diversas entrevistas, debates e palestras dos quais o autor, João Peres, participou ao longo dos últimos meses. “O que se pode oferecer é honestidade. Verdade, ao final destas páginas, cada um terá a sua”, expressa o primeiro capítulo do trabalho. Por mais que venha tentando – e conseguindo – buscar protagonismo nos desdobramentos do episódio ocorrido na Santa Elina em 1995, a Liga dos Camponeses Pobres é uma personagem bastante secundária tanto no chamado “massacre de Corumbiara” quanto no livro Corumbiara, caso enterrado. A organização sequer existia na época dos fatos. Reafirmamos que não há qualquer interesse em “atacar a luta camponesa combativa e defender o PT e o oportunismo”. É um tremendo egocentrismo do movimento acreditar que 304 páginas, com tiragem de mil exemplares, foram produzidas unicamente para atacar a Liga dos Camponeses Pobres. Fosse este o propósito, seria desnecessário realizar mais de 70 entrevistas, vasculhar milhares de páginas de documentos e investir centenas de horas em reflexão para entregar ao leitor uma narrativa clara e complexa. Bastariam poucos minutos para ter nas mãos um texto panfletário, repleto de mentiras e acusações sem fundamento, como outros meios de comunicação já fizeram com a organização.
O que diz a Liga dos Camponeses Pobres:
O PT tenta com este livro se mostrar apoiador da luta das famílias de Santa Elina e esconder a realidade: nos últimos 20 anos, 12 dos quais sob gerenciamento petista, melhorou a situação do latifúndio e piorou a situação dos camponeses, populações indígenas, ribeirinhos e quilombolas, especialmente de suas lideranças combativas.
O que dizemos:
Pode ser que o PT tente “se mostrar apoiador da luta das famílias de Santa Elina e esconder a realidade”. Mas, se o faz, não é por meio das páginas de Corumbiara, caso enterrado. O livro não tem nada a ver com o partido. Novamente, repetimos que tanto o autor como a Editora Elefante não possuem qualquer relação nem com o PT nem com nenhuma outra sigla.
O que diz a Liga dos Camponeses Pobres:
Há anos, Rondônia divide com o Pará o posto de estado com mais mortes em conflitos por terra, mas para João Peres/PT isso não importa, pois “Rondônia adotou uma correção de rumos nas operações de reintegração de posse” (p. 22).
O que dizemos:
Obviamente, o autor não ignorou o vergonhoso posto de liderança ocupado por Rondônia na lista de mortes no campo elaborada anualmente pela Comissão Pastoral da Terra. Seria de uma inenarrável incompetência jornalística passar batido por tal informação. Na página 20 de Corumbiara, caso enterrado, pode-se ler o seguinte: “Em 2012, Rondônia se superou e roubou do Pará o topo da desonrosa lista de mortes no campo elaborada todos os anos pela Comissão Pastoral da Terra ”. Na página 32: “O histórico do estado é pouco alvissareiro para quem cobra reforma agrária: está sempre entre os primeiros da lista de assassinatos rurais elaborada todos os anos pela Comissão Pastoral da Terra”. É claro que a violência do campo rondoniense importa: é uma prova cabal de que o caso de Corumbiara é assustadoramente atual, não apenas para o estado, mas para todo Brasil – o que reforça a importância do livro. Quanto à “correção de rumos” da Polícia Militar de Rondônia no que se refere a operações de reintegração de posse, realmente houve uma mudança de postura das autoridades no momento de se desalojar fazendas tomadas por sem-terra. Isso não significa que as forças policiais tenham deixado de ser violentas, truculentas e defensoras do grande poder econômico contra os camponeses que lutam pela terra. Significa apenas que não há registro de que o conjunto de erros, açodamentos, ilegalidades e horrores cometidos em 9 de agosto de 1995 tenha voltado a ocorrer no estado — ao menos não nas mesmas proporções.
O que diz a Liga dos Camponeses Pobres:
Não podíamos esperar tratamento diferente do PT, nós que sempre os desmascaramos como sendo farinha do mesmo saco, do PSDB, DEM, Pecedobê e todas as outras siglas do Partido Único.
O que dizemos:
Novamente: não temos vínculo com o PT nem com nenhum outro partido…
O que diz a Liga dos Camponeses Pobres:
Não deixaremos que este lixo produzido pelo PT manche a memória dos bravos combatentes, dos homens, mulheres e crianças que deram suas vidas em 1995 lutando pelo sonho de um pedacinho de terra, nem as organizações populares, democráticas, revolucionárias que seguem lutando, enfrentando toda sorte de violências, ameaças, difamações, prisões, desaparecimentos, torturas e assassinatos, assim como os povos indígenas Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, dispostos a lutar até a morte por suas terras.
O que dizemos:
A Liga dos Camponeses Pobres tem todo o direito de considerar Corumbiara, caso enterrado um “lixo”. Só não pode sair por aí afirmando que se trata de um “lixo produzido pelo PT”. Conforme já afirmamos cinco vezes, e ainda afirmaremos algumas mais, nem o autor nem a Editora Elefante possuem relação com o PT ou com qualquer outro partido. Nenhuma sigla, quadro, liderança ou verba partidária esteve envolvida no processo de produção do livro.
O que diz a Liga dos Camponeses Pobres:
A política agrária pró-latifúndio do PT não aparece no livro.
O que dizemos:
Críticas ao quadro atual da reforma agrária são formuladas em várias partes do livro. Desnecessário pinçar uma à guisa de comprovar a ideia. Não bastasse isso, o tema foi recorrentemente tratado pelo autor durante os eventos em Rondônia. Em alguns deles, membros da Liga dos Camponeses Pobres e seus apoiadores estavam presentes.
O que diz a Liga dos Camponeses Pobres:
Posteriormente, fruto dessa luta, ocorreu uma “reunião” em Ji-Paraná com Paulo Vannuci (sic), então secretário de direitos humanos do governo federal (coincidentemente João Peres já trabalhou para essa secretaria de gerenciamento do PT)
O que dizemos:
O autor foi um dos profissionais que trabalharam como freelancer para um livro publicado em 2010 pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Na ocasião, dirigiu-se a Porto Velho para formular um relatório sobre a situação do presídio de Urso Branco, alvo de denúncias na Comissão Interamericana de Direitos Humanos – mesma instituição que em 2004 criticou o Brasil pelas deficiências na investigação e no julgamento dos responsáveis pelo caso Corumbiara. Tenta-se conectar o ex-ministro Paulo Vannuchi ao livro. João Peres só conheceu Vannuchi em 2012, quando o ex-ministro passou a assessorar politicamente os veículos da Rede Brasil Atual, onde trabalhou entre 2010 e 2014. O que havia era uma relação profissional, geralmente tensa, sem qualquer aproximação pessoal ou convergência ideológica.
O que diz a Liga dos Camponeses Pobres:
João Peres/PT mente descaradamente sobre a ocupação em Brasília na página 270: afirmando que Codevise, Fetagro e Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Corumbiara organizaram esta luta e omitindo as divergências políticas que a LCP tem com a Fetagro, insinuando que a LCP estava interessada apenas no dinheiro do projeto.
O que dizemos:
Simplesmente transcrevemos o que está à página 270: “Em agosto de 2007, aos doze anos de ‘aniversário’ do caso, essa soma de forças contraditórias foi a Brasília reivindicar um pacote de medidas que tinha como ponto central a concessão de indenização às famílias. O acampamento de 19 dias na Esplanada dos Ministérios resultou na assinatura de um convênio entre a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e a Fetagro. Os R$ 98 mil liberados para a assessoria jurídica na busca de reparação financeira logo desembocariam em novo motivo para acusações.”
O que diz a Liga dos Camponeses Pobres:
No livro todo, o PT aparece como um apoiador da causa dos camponeses de Corumbiara, coisa que, de fato, nunca foi.
O que dizemos:
Não conseguimos entender de onde a Liga dos Camponeses Pobres extraiu essa acusação. Procuramos pelas 304 páginas e não achamos referência que permita aferir essa ideia.
O que diz a Liga dos Camponeses Pobres:
Na página 114, o autor cita uma fala de Lula defendendo a indenização, mas em nenhum momento questiona o fato dela não ter saído ainda.
O que dizemos:
A contestação ao fato de a indenização não ter sido concedida é tema da porção final do livro. Ocorre que, pela distribuição constitucional de poderes, cabe ao Tribunal de Justiça de Rondônia deliberar e decidir pela reparação às vítimas. De todo modo, o autor deixa claro, no livro e nos debates de que participou, que entende que o governo Lula poderia ter feito mais não apenas por essa questão, mas pela população rural de baixa renda como um todo.
O que diz a Liga dos Camponeses Pobres:
Sob a direção do PT, o Incra diminuiu o tamanho dos lotes, distribuiu mal as fontes de água, deixando mais parcelas secas, mudou o sentido dos lotes fazendo perder as estradas, casas e roças que os camponeses construíram com tanto esforço. Novamente, João Peres não viu nada disto em seus dias de viagem, pesquisa e entrevistas? Ele deve ter sido acometido de cegueira e surdez seletivas, quem sabe?
O que dizemos:
A surdez e a cegueira seletivas a que se refere a Liga dos Camponeses Pobres dizem respeito às mudanças feitas pelo Incra na divisão de lotes da fazenda Santa Elina. A organização defende que o corte popular feito por ela era muito melhor em termos de distribuição de água e de tamanho da área. De fato, o autor não conheceu a divisão promovida pela entidade porque visitou a fazenda quando a repartição organizada pelo Incra já estava em curso. Porém, nada impedia que a Liga dos Camponeses Pobres apresentasse a João Peres sua versão sobre a história. Quando teve a oportunidade de fazê-lo, no entanto, abriu mão. Como já dissemos, o movimento prefiriu responder perguntas por e-mail.
O que diz a Liga dos Camponeses Pobres:
No livro não são economizados adjetivos negativos sobre a LCP: manipuladora, faz “do coletivo uma voz em uníssono em que impressões pessoais desaparecem” (p. 253) e inventa o oportunismo de outros movimentos só para criar sua imagem de revolucionária (p. 256); igual aos latifundiários, ameaça Claudemir de morte e impede seu retorno à Rondônia (p. 199, 248, 288); alimenta a vaidade das lideranças (p. 197) e tenta comprá-las com tratamento de saúde (p. 136), ao contrário da CUT, que quando faz o mesmo é considerado solidariedade!
O que dizemos:
Em duas das três páginas apontadas pela Liga, 199 e 248, o que há é a visão do próprio Claudemir de que sua divergência com a organização resulta em risco concreto de morte. Na terceira das páginas, 288, não há qualquer menção à Liga dos Camponeses Pobres. Apesar disso, recordemos que um manifesto da entidade literalmente diz: “quem são os culpados e aqueles que hoje tentam escondê-los da nossa fúria serão esmagados da mesma forma”. Tampouco dissemos, à página 136, que a Liga dos Camponeses Pobres tentou comprar lideranças oferecendo tratamento de saúde. Apenas relatamos que a organização ajudou Claudemir no tratamento de saúde, do mesmo modo que fizemos com a CUT. O mesmo vale para a acusação de que se alimenta a vaidade das lideranças. De novo, apela-se à paranoia na tentativa de enxergar como diferente aquilo que é igual.
O que diz a Liga dos Camponeses Pobres:
O livro foi encomendado numa boa hora, em que operários de Jirau, metalúrgicos do Rio de Janeiro e professores do Rio Grande do Norte colocaram pelegos da CUT para correr
O que dizemos:
De novo, quantas vezes será necessário?, negamos vínculo com a CUT. E desafiamos a Liga dos Camponeses Pobres a comprovar que o livro foi encomendado por esta ou quaisquer outras organizações. Note-se o esforço do movimento em atrelar Corumbiara, caso enterrado ao petismo. Por quê? Qual é o objetivo de repetir e repetir e repetir uma mentira?
O que diz a Liga dos Camponeses Pobres:
João Peres insinua nas páginas 254 e 255 que a LCP teria laços com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, o Sendero Luminoso no Peru e entidades camponesas mexicanas. Na verdade isso não passa do velho e ensebado discurso repetido inúmeras vezes pelas viúvas do regime militar e pelos monopólios de comunicação.
O que dizemos:
Corumbiara, caso enterrado não insinua que a Liga dos Camponeses Pobres tem ligação com organizações paraestatais colombianas, peruanos e mexicanas. O livro apenas diz: “Seria, porém, coerente que um grupo que desconhece o Estado como ator legítimo buscasse ajuda e troca com agremiações similares de realidades similares. Pessoas me relataram ter participado de encontros da Liga em que estavam presentes integrantes de algumas dessas organizações latino-americanas.”
Pode-se negar a acusação de que a Liga tenha relação com as Farc e Sendero Luminoso, mas não se pode negar que essa acusação existe. E o autor registra esse fato sem qualquer juizo de valor. O “discurso repetido inúmeras vezes pelas viúvas do regime militar” não é reproduzido em Corumbiara, caso enterrado porque o tratamento e a intenção do livro são radicalmente diferentes de tudo que foi publicado pela imprensa até então. Logo, não há condenação ou criminalização do movimento. O trecho em questão apenas diz que seria legítimo que uma organização que entende que o Estado não a representa procurasse intercâmbio com entidades de ideias convergentes de outros países.
O que diz a Liga dos Camponeses Pobres:
Tentam com isso criminalizar nossa luta para confundir a opinião pública, nos isolar e justificar suas campanhas de perseguição, repressão e assassinatos. O que João Peres faz é reforçar esse discurso ao reproduzir o que lhe sopram nos ouvidos. Para alguém que pretende se promover como jornalista honesto e imparcial, isso é no mínimo vergonhoso.
O que dizemos:
De novo, a Liga dos Camponeses Pobres está desafiada a apontar quem sopra nos ouvidos do autor de Corumbiara, caso enterrado. Aquilo que está nas páginas do livro é fruto de apuração rigorosa e independente, promovida com o cruzamento de fontes e documentos de diversas origens.
O que diz a Liga dos Camponeses Pobres:
Temos uma sede com endereço e telefone na cidade de Jaru.
O que dizemos:
Como já dissemos, a Liga dos Camponeses Pobres foi procurada inúmeras vezes. Só com muita insistência aceitou responder a uma entrevista, ainda assim por e-mail, sem que se pudesse conversar pessoalmente com seus líderes, seja em Jaru, seja no Cone Sul ou em qualquer outra parte de Rondônia.
O que diz a Liga dos Camponeses Pobres:
João Peres diz que o PT se empenhou muito em desapropriar a Santa Elina.
O que dizemos:
O livro expressa que a desapropriação da fazenda era um “produto disponível e imperecível na prateleira da redistribuição fundiária”. Talvez a Liga dos Camponeses Pobres tenha tido um problema de compreensão textual: o que se está a dizer é que a questão da Santa Elina representava um poderoso objeto de ganho político para algum quadro do Incra, e não que o PT se empenhou nessa questão.
O que diz a Liga dos Camponeses Pobres:
A Liga Operária e a LCP não são o monstro autoritário, representantes “dos coveiros de Corumbiara” (p. 288), que resolve na bala suas divergências políticas, que ameaça Claudemir (p. 199, 288) e até João Peres por manter “relação violenta com a imprensa” (p. 287).
O que dizemos:
De novo, a Liga dos Camponeses Pobres toma para si acusações que não lhe dizem respeito. Jamais um movimento que promove atos para recordar o caso de Corumbiara mereceria ser incluído no grupo dos “coveiros”. Seria ilógico aproximar uma organização que se esforça para manter viva a memória do massacre aos interesses que desejam enterrá-la para sempre. A afirmação da relação violenta da organização com a imprensa não é feita pelo autor, que busca simplesmente refletir um temor expresso por Claudemir Gilberto Ramos quando da primeira ida ao Cone Sul para o processo de apuração do livro. Aliás, em nenhum momento, nem no livro, nem nos debates realizados em São Paulo e Rondônia, o autor disse que foi ameaçado pela Liga dos Camponeses Pobres.
O que diz a Liga dos Camponeses Pobres:
Durante o lançamento do livro em Colorado D’Oeste, um representante da LCP pediu esclarecimentos a João Peres sobre a insinuação de que a LCP poderia ser culpada pelo assassinato de Adelino Ramos. Como bagre ensaboado que é, desconversou – método do PT e de todo o oportunismo para tratar divergências ideológicas políticas.
O que dizemos:
Deixando de lado a ofensa do “bagre ensaboado”, que não merece resposta, deve-se recordar que o autor respondeu com clareza, durante o evento em Colorado do Oeste, ao representante da Liga dos Camponeses Pobres, que se apresentou com o nome de Tiago. Não há no livro qualquer conexão entre a morte de Adelino Ramos e a organização, que de novo toma para si o que se refere a outrem. Corumbiara, caso enterrado deixa claro que a hipótese oficial para o assassinato do líder diz respeito a uma disputa com madeireiros. Ah, e outra vez: não temos qualquer ligação nem sabemos do que se trata esse tal “método do PT”.
O que diz a Liga dos Camponeses Pobres:
O autor diz que “governo Lula foi freado por interesses financeiros” (p. 31) e ainda conseguiu avanços sociais, através de programas como Luz para Todos, bolsa família, Prouni, Minha casa, minha vida (p. 197 e 109).
O que dizemos:
Mais uma vez, falta à Liga dos Camponeses Pobres empreender um esforço para separar o que é dito pelo autor daquilo que foi dito pelas fontes. O trecho em questão deixa claro que essa era uma ideia de Claudemir Gilberto Ramos quando da primeira entrevista, em 2011: “À medida que fala, revela certo grau de formação política. Critica o capitalismo e a burguesia pelos problemas do país, avalia que o governo Lula foi freado por interesses financeiros, defende a terra como um direito e vê Jesus Cristo e Che Guevara como exemplos revolucionários.” Todos os programas federais em questão não são apresentados como avanços do governo Lula, tema que foi longamente debatido com representantes da organização em várias ocasiões durante os eventos em Rondônia: o que se fez foi mencionar ProUni, Bolsa Família e Luz para Todos ao apresentar o caso de uma sobrevivente da Santa Elina que hoje é beneficiária destes projetos.
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O autor e a Editora Elefante desejam o fim das campanhas difamatórias, mas não confiam no bom senso de seus interlocutores, que parecem demasiadamente atrelados a determinados interesses (quais?) para se dedicar a uma apreciação isenta e honesta do conteúdo de Corumbiara, caso enterrado. Confiamos, porém, em nossos leitores – aos quais deixamos, mais uma vez, o poder de decidir sobre o lugar da razão em toda esta inútil troca de cartas.
Aproveitamos para reafirmar nosso compromisso: continuaremos contando histórias que precisam ser contadas, a despeito da vontade e dos humores de partidos, movimentos, grupos e grupelhos que ou pretendem enterrá-las no terreno estéril do esquecimento ou creem deter o monopólio sobre uma memória que, como a terra, pertence a todos e todas.