Amar a negritude como resistência política
Por Teresa Cristina
Em Olhares negros: raça e representação, bell hooks nos convida, logo no primeiro capítulo/ensaio, a amar a negritude como forma de resistência política — ação perigosa dentro de uma cultura supremacista branca, ela afirma.
A autora bravamente aponta as incoerências da branquitude, sobretudo no discurso da falsa democracia racial, tão propagandeada no Brasil. Não há, na visão de hooks, pulsão antirracista em afirmar uma igualdade total, porém vazia. “Esquecer a raça e ver apenas seres humanos” não acaba com o racismo. É na identificação da diferença e no entendimento ético e político da rejeição à dominação que a solidariedade branca deveria se basear.
“Por que é tão difícil para tantas pessoas brancas entender que o racismo é opressor não porque as pessoas brancas têm sentimentos preconceituosos em relação aos negros (elas poderiam ter esses sentimentos e nos deixar em paz), mas porque é um sistema que promove a dominação e a submissão?”, escreve hooks.
No mês da Consciência Negra, com a celebração do Dia Nacional de Zumbi dos Palmares, em 20 de novembro, convidamos à leitura de autores e autoras negros e negras com a consciência de que essa ação, por si só, não é suficiente. Assim como aponta bell hooks, “a boa vontade [no caso, em ampliar o leque e questionar a cultura literária branconcêntrica] pode coexistir com o pensamento racista e com atitudes supremacistas brancas”.
Não há caminho para o fim do racismo que não passe pela luta antirracista ativa que busque transformar a sociedade, levando em consideração também questões de classe e gênero. Quando ecoamos o convite de hooks para amar a negritude, também dizemos de valorizar o conhecimento produzido por pessoas negras, é claro, mas é preciso agir individualmente e construir ações coletivas hoje.
Amar a negritude é se reconhecer e se apaixonar pela experiência negra, enquanto pessoa negra, mas também é sobre desconstruir e negar a branquitude — enquanto política de dominação e cultura que prega a supremacia e superioridade branca.
Para as pessoas brancas, então, nosso convite é: leia, mas também escute e acompanhe pessoas negras, lembrando daquilo que diz bell hooks: “A comodificação contemporânea da cultura negra pelos brancos de modo algum desafiam a supremacia branca quando transformam a negritude no ‘tempero capaz de tornar a merda sem graça que é a cultura branca dominante em algo empolgante’.”
Nesse sentido, montamos uma lista de leituras do nosso catálogo com o desejo de que esses sejam apenas os primeiros passos de um aprofundamento em uma luta antirracista ativa, popular e constante. Confira:
- #VidasNegrasImportam e libertação negra (2020), Keeanga-Yamahtta Taylor;
- A gente é da hora: homens negros e masculinidade (2022), bell hooks;
- Devir quilomba: antirracismo, afeto e política nas práticas de mulheres quilombolas (2022), Mariléa de Almeida;
- Erguer a voz: pensar como feminista, pensar como negra (2019), bell hooks;
- Escrever além da raça: teoria e prática (2022), bell hooks;
- Olhares negros: raça e representação (2019), bell hooks;
- Quem vai fazer essa comida? Mulheres, trabalho doméstico e alimentação saudável (2023), Bela Gil;
- Vozes afro-atlânticas: autobiografias e memórias da escravidão e da liberdade (2022), Rafael Domingos Oliveira;
- Zami: uma nova grafia do meu nome Uma biomitografia (2021), Audre Lorde.