De que fala a Trilogia do amor de bell hooks?

Em Tudo sobre o amor, bell hooks dá início a um caminho de reflexões sobre o amor enquanto uma ação política transformadora, em prol da libertação. À luz do feminismo e de questões raciais que o atravessam, a autora reflete sobre elementos essenciais para tomar o amor como uma prática: clareza, justiça, comprometimento, honestidade, espiritualidade e mais.

De fato, é o início de um longo caminho. Por esse motivo, talvez, bell hooks não se limitou a um único livro e, apesar do título abrangente, ainda há muito o que ser dito sobre o amor, sobre quem o pratica e sobre como é praticado.

Em Salvação: pessoas negras e o amor, a autora se dedica a olhar mais de perto o amor num contexto racializado: como as pessoas negras vivenciam o amor, como são as representações midiáticas do amor entre pessoas negras e/ou interracial, como é o amor nas comunidades negras, qual a importância de resgatar o amor para pessoas negras etc. É um livro sobre amar a negritude —não exclusivo para pessoas negras, é claro.

“Não é tarde demais para as pessoas negras retornarem ao amor, para colocarem de novo as questões metafísicas comumente levantadas por artistas e pensadores negros e negras durante o auge das lutas por liberdade — questões sobre a relação entre a desumanização e nossa capacidade de amar, sobre o racismo internalizado e o auto-ódio”, escreve.

Em Comunhão: a busca das mulheres pelo amor, bell hooks vai se dedicar mais especificamente ao viés do gênero, ou seja, como é o amor para (e entre) as mulheres e como o feminismo transformou a expectativa do amor. A autora se volta, ainda, para as problemáticas em torno de transformar o amor como uma marca de gênero e o que constitui e dá valor às mulheres dentro do patriarcado.

“Nossa obsessão com o amor não começa com a primeira paquera ou a primeira paixão. Começa com a primeira percepção de que as mulheres importam menos que os homens, de que não importa o quão boas sejamos, aos olhos de um universo patriarcal nunca somos boas o bastante (…) não surpreende que, como meninas, como mulheres, aprendemos a nos preocupar, sobretudo, com saber se somos dignas de amor”.

Os volumes da Trilogia do Amor podem ser lidos separadamente, mas um mergulho em todas as obras com certeza vai ampliar os olhares e seguir impactando de forma intensa e profunda milhares de leitores e leitoras, sejam ou não iniciados nos escritos de bell hooks, sejam ou não admiradores da autora.

Desde o começo dissemos que nosso compromisso com bell hooks era pra valer. O lançamento de Salvação e Comunhão representa, além do afunilamento na temática do amor, tão cara em tempos bicudos, a continuação e a perpetuação do legado da autora no Brasil.

Além disso, a arrebatadora Trilogia do Amor chega em um momento-chave para as questões de raça e gênero, no qual enfrentamos um respiro progressista depois de quatro anos de domínio da extrema direita, que está pronta para voltar ao poder. As ideias de bell hooks são como um manual de luta afetuosa e — pegando emprestado um termo de outra tão amada autora do nosso catálogo, Silvia Federici — para uma militância alegre, que pode mudar rumos e vidas.

Afinal, como escreve hooks, o amor é profundamente político. “Nossa revolução mais profunda acontecerá quando entendermos essa verdade. Só o amor pode nos dar força para avançar em meio ao desgosto e à angústia. Somente o amor pode nos dar o poder de reconciliar, redimir, o poder de renovar espíritos cansados e de salvar almas perdidas”, escreve a autora em Salvação. “A potência transformadora do amor é o fundamento de toda mudança social significativa. Sem amor, nossa vida não tem sentido. O amor é o cerne da questão. Quando tudo o mais desaparece, o amor sustém.”

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