Para ler bell hooks

Um guia para mergulhar na obra da autora que destrincha com amor as tensões entre relacionamentos, movimentos sociais e produtos culturais e uma sociedade capitalista patriarcal supremacista branca.

bell hooks não é mais uma desconhecida em terras brasileiras – e ainda bem. Suas palavras embalam desde críticas culturais feitas ao racismo em reality shows e portais de notícias que incorporam mulheres negras ao seu quadro de colunistas, passando por discussões encorpadas sobre a insurgência do pensamento feminista negro, a necessidade de se superar o feminismo burguês e extrapolar uma crítica ao identitarismo, e chegam com sua proposital acessibilidade às produções culturais mais populares, como o belíssimo álbum visual da cantora baiana Luedji Luna, Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água: “bell hooks disse que o amor cura, e estou trazendo a perspectiva da cura para este álbum”. 

Aqui na Elefante, nós aprendemos diariamente com bell hooks. A leitura dos seus livros durante o todo processo editorial, desde a tradução cuidadosa até a organização gráfica, passando pela divulgação, são oportunidades de também mergulharmos nas obras dessa autora tão fundamental para repensarmos o mundo em que vivemos. A recepção calorosa de seus títulos no Brasil aponta pra essa lacuna urgente, que pretendemos continuar ajudando a preencher: serão treze títulos ao todo, publicados a partir de 2019 e daí em diante, e o compromisso de, tanto quanto for possível, fazer com que mais pessoas conheçam seus ensinamentos.

 

QUEM É BELL HOOKS?

bell hooks nasceu em Hopkinsville, Kentucky, em 1952. Seu nome de batismo é Gloria Jean Watkins: o pseudônimo é uma homenagem a sua bisavó, Bell Blair Hooks, e a escolha de não usar letras maiúsculas é para que suas palavras falem por si mesmas e não por seu nome. bell hooks é formada no bacharelado em inglês pela Stanford University, tem mestrado pela University of Wisconsin Madison e, finalmente, seu doutorado pela University of California Santa Cruz, onde escreveu sua dissertação sobre a escritora negra estadunidense Toni Morrison. Seu primeiro livro de grande alcance, E eu não sou uma mulher? Mulheres negras e feminismo, foi concluído durante seus estudos de graduação e a lançou como uma das principais vozes que chamam a atenção para mulheres marginalizadas dentro do feminismo.

Desde então, bell hooks também falou sobre o papel fundamental da raça e da classe em uma sociedade patriarcal capitalista supremacista branca. Os tópicos de seus livros passam pela masculinidade negra, a importância da comunidade, a crítica de produtos culturais, o feminismo interseccional, e tantos outros. hooks também escreve sobre a importância da educação infantil, e acredita que a habilidade de ler, escrever e pensar criticamente é a chave para construir comunidades onde as pessoas possam coexistir alegremente sem as barreiras estruturais de raça, gênero e classe. Em 2014, ela fundou o bell hooks Institute em Berea, Kentucky, para reunir fomentar a discussão sobre como podemos alcançar esses objetivos.

 

PARA LER BELL HOOKS

 

Tudo sobre o amor: novas perspectivas

Primeiro volume da Trilogia do Amor, que será toda publicada pela Elefante. Ao descrever as maneiras pelas quais homens e mulheres em geral, e pessoas negras em particular, desenvolvem sua capacidade de amar dentro de uma cultura patriarcal, racista e niilista, bell hooks relaciona sua teoria do amor com os principais problemas da sociedade contemporânea. O livro procura mostrar como somos ensinados desde a infância a ter suposições equivocadas e falsas em relação ao amor e ressalta o quanto nossa sociedade não considera a importância e a necessidade de aprendermos a amar. bell hooks demonstra que o amor não está dado: ele é construção cotidiana, que só assumirá sentido na ação. O que significa dizer que precisamos encontrar a definição de amor e aprender a praticá-lo.

 

Ensinando pensamento crítico: sabedoria prática

Além de resgatar memórias de sua trajetória como estudante durante e após o regime de segregação racial nos Estados Unidos, com passagens por prestigiosas universidades que não costumavam ser frequentadas por pessoas negras, bell hooks resume neste livro muito do que aprendeu durante os trinta anos nos quais exerceu o ofício de professora. São 32 pequenos artigos sobre pedagogia engajada, descolonização, humor, lágrimas, autoestima, sexo, vida intelectual, espiritualidade e, claro, racismo e feminismo no ambiente de ensino. Assim como em outros livros em que discute o tema da educação, a autora dialoga criticamente com Paulo Freire para construir um panorama da prática da liberdade através da criação de comunidades de aprendizagem marcadas pelo diálogo e por uma relação de igualdade entre professores e estudantes.

 

Anseios: raça, gênero e políticas culturais

Para bell hooks, a melhor crítica cultural não considera necessário separar a política do prazer da leitura. Esse livro reúne alguns dos primeiros e clássicos textos de crítica cultural publicados pela autora nos anos 1980. Abordando temas como pedagogia, pós-modernismo e política, a autora examina uma série de artefatos culturais, dos filmes Faça a coisa certa, de Spike Lee, e Asas do desejo, de Wim Wenders, aos escritos de Zora Neale Hurston e Toni Morrison. O resultado é uma coleção comovente de ensaios que dedica-se sobretudo à transformação de estruturas opressoras de dominação.

 

Olhares negros: raça e representação

Nessa coletânea de ensaios críticos, bell hooks interroga narrativas e discute a respeito de formas alternativas de observar a negritude, a subjetividade das pessoas negras e a branquitude. Ela foca no espectador — em especial, no modo como a experiência da negritude e das pessoas negras surge na literatura, na música, na televisão e, sobretudo, no cinema —, e seu objetivo é criar uma intervenção radical na forma como nós falamos de raça e representação. Em suas palavras, “os ensaios de Olhares negros se destinam a desafiar e inquietar, a subverter e serem disruptivos”. Como podem atestar os estudantes, pesquisadores, ativistas, intelectuais e todos os outros leitores que se relacionaram com o livro desde sua primeira publicação, em 1992, é exatamente isso o que estes textos conseguem.

 

Erguer a voz: pensar como feminista, pensar como negra

Na infância, bell hooks foi ensinada que “responder”, “retrucar” significava atrever-se a discordar, ter opinião própria, falar de igual pra igual a uma figura de autoridade. Nesta coletânea de ensaios pessoais e teóricos, em que radicaliza criticamente a máxima de que “o pessoal é político”, bell hooks reflete sobre assuntos que marcam seu trabalho intelectual: racismo e feminismo, política e pedagogia, dominação e resistência. Em mais de vinte ensaios e uma entrevista, a autora mostra que transitar entre o silêncio e a fala é um gesto desafiador que cura, que possibilita uma nova vida e um novo crescimento ao oprimido, ao colonizado, ao explorado e a todos aqueles que permanecem e lutam lado a lado, rumo à libertação.

 

E eu não sou uma mulher? Mulheres negras e feminismo 

Inspirado no discurso emblemático da oradora negra Sojourner Truth, que denunciou que o ativismo de sufragistas e abolicionistas brancas e ricas excluía mulheres negras e pobres. A partir disso, hooks discute o racismo e sexismo presentes no movimento pelos direitos civis e no feminista, desde o sufrágio até os anos 1970. Examina o impacto do sexismo nas mulheres negras durante a escravidão, a desvalorização da mulheridade negra, o sexismo dos homens brancos e negros, o racismo entre as feministas, os estereótipos atribuídos a mulheres negras, o imperialismo do patriarcado e o envolvimento da mulher negra com o feminismo.

 

O feminismo é para todo mundo

hooks incentiva os leitores a descobrir como o feminismo pode tocar e mudar, para melhor, a vida de todo mundo. Homens, mulheres, crianças, pessoas de todos os gêneros, jovens e adultos: todos podem educar e ser educados para o feminismo. Apenas assim poderemos construir uma sociedade com mais amor e justiça. Esse livro apresenta uma visão original sobre políticas feministas, direitos reprodutivos, beleza, luta de classes feminista, feminismo global, trabalho, raça e gênero e o fim da violência. Além disso, esclarece sobre temas como educação feminista para uma consciência crítica, masculinidade feminista, maternagem e paternagem feministas, casamento e companheirismo libertadores, política sexual feminista, lesbianidade e feminismo, amor feminista, espiritualidade feminista e o feminismo

 

Teoria feminista: da margem ao centro

A defesa de uma revolução feminista que transcenda reformas, com enfrentamento das ideologias do sexismo, do racismo e do capitalismo. Nesse livro, bell hooks faz críticas aos problemas ainda atuais do feminismo, que costuma ser branco, de classe média, acadêmico, heteronormativo e desigual. Em contrapartida, propõe a revolução feminista idealizada por mulheres negras. Diferentes mulheres, provenientes do centro e das margens, em solidariedade política, com a parceria de homens, tendo como foco a ressignificação das relações. A revolução feminista negra é uma luta por libertação, de todes.

 

Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade

Aqui bell hooks escreve sobre um novo tipo de educação. Para ela, ensinar os alunos a “transgredir” as fronteiras raciais, sexuais e de classe a fim de alcançar o dom da liberdade é o objetivo mais importante do professor. É um livro repleto de paixão e política, que associa o conhecimento prático da sala de aula da autora com uma conexão profunda com o mundo das emoções e sentimentos. Um livro que registra a luta de uma talentosa professora para fazer a sala de aula dar certo.

 

The Will to Change: men, masculinity, and love 

Uma provocativa bell hooks vai ao cerne da questão da masculinidade e mostra aos homens como expressar as emoções é uma parte fundamental de quem eles são – independentemente de sua idade, etnia ou cultura. O livro que faz parte da sua trilogia sobre relacionamentos – “Trilogia do Amor” [Love Trilogy], com Salvação: pessoas negras e amor [Salvation: Black people and love], de 2001, e Comunhão: a busca feminina pelo amor [Communion: The female Search for love], de 2002 – responde às preocupações mais comuns dos homens, como o medo da intimidade e a perda de seu lugar patriarcal na sociedade. Ela acredita que eles podem encontrar a liberdade voltando a se abrir emocionalmente, permitindo-se ser vulneráveis e, assim, prosperarão como parceiros iguais em seus relacionamentos íntimos.

 

Comunhão: a busca feminina pelo amor (Em breve) 

Se The Will to Change é um chamado para os homens se aceitarem, este é o chamado para as mulheres reivindicarem sua própria jornada para conquistar o amor. hooks escreve com linguagem simples e amorosa sobre o papel do amor na vida das mulheres em uma sociedade em mudança, e explora como as ideias sobre o amor e as mulheres foram mudadas ao longo do tempo pelo movimento feminista, pela plena participação das mulheres na força de trabalho e pela cultura da autoajuda.

 

Salvação: pessoas negras e o amor (Em breve)

Escrito a partir de perspectivas históricas e culturais, Salvação traz uma olhar incisivo sobre o poder transformador do amor na vida dos afro-americanos. Seja falando sobre o legado da escravidão, relacionamentos e casamento na vida negra, a prosa e a poesia de Martin Luther King Jr., James Baldwin e Maya Angelou, os movimentos de libertação dos anos 1950, 60 e 70, ou hip hop e cultura do gangsta rap, bell hooks oferece novas visões para curar as feridas de uma cultura de falta de amor.

 

A gente é da hora: homens negros e masculinidade (Em breve)

Aqui, bell hooks aborda a maneira com a qual a sociedade branca e os poucos líderes negros estão falhando com os homens e jovens negros. A autora não tem medo do tabu, e afirma que “esta é uma cultura que não ama os homens negros […] eles não são amados por homens brancos, mulheres brancas, mulheres negras, meninas ou meninos. E, principalmente, os homens negros não se amam. Como poderiam? Como eles poderiam amar, rodeados de tanta inveja, desejo e ódio?”.

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