Raúl Zibechi é um dos mais importantes pesquisadores das lutas sociais na América Latina, e sua obra expressa uma tradição fundamental do pensamento radical da região, vivamente conectada e vinculada aos territórios e movimentos coletivos. Apesar de sua imensa relevância, apenas uma parte bastante diminuta de sua obra encontra-se publicada em português.

Territórios em rebeldia, em pré-venda com desconto no site da Elefante, pretende contribuir para começar a sanar essa lacuna editorial no Brasil, mas também fazer reverberar um tipo de intervenção que retoma a hipótese autonomista das lutas, para seguir pensando e caminhando com aquelas e aqueles que resistem em um continente conflagrado pela guerra permanente contra os povos.

Não é como intelectual ou ilustre teórico de vanguarda que este escritor, militante e jornalista uruguaio se mostra àqueles que se deparam com seus textos e intervenções. Zibechi nos surge, antes de tudo, por meio dos movimentos que acompanha, por sua cumplicidade junto aos que lutam e pensam com os pés na terra. Trata-se de uma postura que se reflete na forma de seus textos, marcados por uma linguagem direta e aberta, sem academicismos e comprometida com a circulação das questões conforme são formuladas nos contextos em que surgem.

Os textos reunidos em Territórios em rebeldia são de diferentes gêneros, como artigos jornalísticos, prefácios e capítulos de livro, produzidos na maior parte das vezes como intervenção em relação a momentos e conjunturas específicas, mas articulados por questões-chave que os percorrem, como a experiência de habitar, defender e conformar um território como modo de viver e lutar. Territórios que não só resistem e sobrevivem às formas de ataque dos velhos e novos inimigos, mas se fazem existir em rebeldia autônoma, reinventando modos de viver.

Na visão de Zibechi, para além das experiências das grandes mobilizações e revoltas, é importante voltar-se para as lutas que deságuam em práticas rebeldes cotidianas que gestam novos mundos e as quais o autor encontra em coletivos feministas, nos movimentos negros, nas assembleias de bairros populares, entres os povos indígenas — todos vinculados territorialmente e conformados por um contínuo e profícuo desdobramento de identidades e diferenças.

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