Jornalistas de Vilhena aplaudem
Corumbiara, caso enterrado

Livro-reportagem de João Peres é recebido na Universidade Federal de Rondônia e "fecha com chave de ouro" Encontro de Comunicadores do Cone Sul

A turnê rondoniense de Corumbiara, caso enterrado realizou em Vilhena dois debates sobre o conflito agrário ocorrido há vinte anos no sul do estado e suas relações com a imprensa regional. Nesta sexta-feira, 11 de setembro, o autor João Peres palestrou no 1º Encontro dos Comunicadores do Cone Sul de Rondônia, realizado na Câmara dos Vereadores de Vilhena, e participou de debate no campus vilhenense da Universidade Federal de Rondônia (Unir).

“Vamos fechar nosso encontro com chave de ouro – ou melhor, de diamante – com a presença do jornalista João Peres”, anunciou o mestre de cerimônias do parlamento municipal antes de passar a palavra ao autor de Corumbiara, caso enterrado. Cerca de 40 jornalistas e radialistas rondonienses assistiram à conferência.

O autor explicou por que se deslocou de São Paulo para investigar e escrever sobre o episódio, que deixou ao menos doze pessoas mortas aoós operação de reintegração de posse na fazenda Santa Elina, no município de Corumbiara, em 9 de agosto de 1995. João Peres agradeceu a “recepção calorosa” que o livro vem recebendo dos rondonienses. Foram mais de três anos de trabalho na tentativa de juntar as “pontas soltas” de um dos capítulos mais tristes da redemocratização brasileira.

De acordo com o autor, porém, ainda existem muitos buracos a serem preenchidos para que se possa elucidar a história e os desdobramentos do caso Corumbiara. “Espero que algumas pessoas envolvidas no episódio, principalmente policiais militares e o então governador de Rondônia, Valdir Raupp, hoje senador, resolvam falar”, manifestou. “Eles possuem informações que ainda não são conhecidas – e que são necessárias para preencher lacunas.”

João Peres comparou a atenção que a grande imprensa brasileira dedicou ao caso em 1995 — com extensas reportagens publicadas na revista Veja e nos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo — ao imenso descaso dos veículos de comunicação do país vinte anos depois. “É um dos sinais da decadência do jornalismo no país”, avalia, lembrando que nenhum veículo de comunicação de alcance nacional recordou o vigésimo aniversário do episódio.

Mais tarde, no auditório da Unir, João Peres participou de debate com o jornalista de Vilhena Sandro Vieira, egresso da instituição, e mais dois sobreviventes do conflito. Um deles, seu Natalino, lavrador que carrega no rosto as sequelas da violência física e psicológica que sofreu nas mãos de policiais e jagunços, emocionou a plateia. “Tou vivendo de uma aposentadoria que fizeram pra mim, mental. As pessoas cuidam de mim feito bebê.”

Assim que pegou o microfone, seu Natalino começou a relatar o que viu naquela madrugada de pavor. Não poupou ninguém. Disse que, quando a situação se agravou e a incursão policial era iminente, sentiu uma vontade imensa de fugir do acampamento. Mas foi obrigado pelos líderes dos sem-terra a permanecer na área. Sentiu medo de morrer, como muitos de seus companheiros. “Dói no coração ver o sangue dos nossos posseiros derramados na terra.”

Natalino afirmou que não tem nada contra a lei nem contra a polícia. “Mas tenho contra aqueles que tiraram a vida dos meus companheiros.” Testemunhou soldados circulando lado a lado com jagunços, execuções de sem-terra e abertura de fossas comuns. Afirmou que alguns posseiros mortos foram enterrados pelas redondezas. Prometeu que jamais participará de movimentos camponeses outra vez. E, no fim, se desculpou. “Se eu falei alguma coisa que contrariou vocês, vocês me perdoam. Mas a verdade é a verdade.”

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